sexta-feira, 12 de março de 2010

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Njinga Mbandi" de Manuel Pacavira é suporte da história heróica de Angola



Pires Laranjeira destaca culto narrativo de Njinga Mbandi em colóquio internacional
Fotografia: Suzame Kaze
O romance “Njinga Mbandi”, do escritor e nacionalista angolano Manuel Pedro Pacavira, constitui, antes da independência de Angola, um dos suportes literários da épica do povo angolano, juntamente, com "Sagrada Esperança", de Agostinho Neto, e "Mayombe", de Artur Pestana "Pepetela".
A afirmação foi feita em Roma pelo escritor português Pires Laranjeira, durante o primeiro colóquio internacional sobre “Njinga Mbandi: Heroica rainha da resistência angolana”, realizado a 2 a 3 do corrente mês.
Durante a sua dissertação subordinado ao tema “O culto narrativo de Njinga Mbandi, antepassado da modernidade nacional”, Pires Laranjeira referiu que Agostinho Neto poetiza a dialéctica da alienação/desalienação do negro e a reconquista do orgulho e posse do país, em “Sagrada Esperança”. “Mayombe”, por sua vez, aborda a libertação nacional pelas armas do MPLA, num processo interno carregado de tensões, oportunismos e falibilidade, mas também de conquistas definitivas rumo à independência.
“O romance de Pacavira vai ao passado fundamentar a moderna rebelião contra os invasores, numa atitude que será, depois, retomada por outros escritores, incluído o próprio Pepetela. Desde esse momento de viragem na sociedade e na literatura angolanas, que é a recta final da luta armada de libertação nacional – a passagem para a independência –, Manuel Pedro Pacavira assume a herança da história secular e a sua reapropriação pelo modo de narrar sacado à oralidade do mato, com o filtro da ironia crítica na antecâmara do pós-modernismo”.
Na sua comunicação, Pires Laranjeira realçou que a lição de Njinga continua a surtir efeito nacionalista na prosa angolana, tendo destacado a última narrativa de José Luandino Vieira, “O livro dos guerrilheiros”, que saiu no ano passado, onde pode ler-se o seguinte: “Quem foi a rainha Jinga? – e a pergunta virava logo-logo resposta dele mesmo, de cor, resposta de cartilha fechada: “… fez a unidade dos povos de Angola, se aliou mesmo com os flamengos para lutar contra o colonialismo português. Lutou toda a sua vida de 100 anos até na hora da morte”.
O escritor português referiu que a figura de Njinga Mbandi funciona na trilogia de Luandino Vieira de homenagem aos guerrilheiros, do mesmo modo que noutros escritores, como uma espécie de Grande-Mãe, patrona da guerrilha, santo e senha simbólica para os criadores que desejam reforçar o sentido de uma poderosa angolanidade negro-africana.
Noutros exemplos, fora do cânone literário, a figura de Njinga funciona exactamente como a Mãe-África para as gerações das décadas de 50 ou 60, isto é, como a Grande-Mãe de todos os angolanos sem excepção, no caso designado como “os descendestes”.


Sucessão do soberano


Pires Laranjeira disse ser hoje consensual que, a partir da sucessão do soberano Ngola Kiluanji, encarnada pela sua herdeira Njinga Mbandi, se realizou a entidade moderna chamada Angola.
“A palavra Ngola, substantivo, encontra-se em algumas línguas, tanto de Angola quanto de alguns países dessa região. Ela significava o rei dos Ndongos e também o comandante-em-chefe das tropas, sendo, portanto, uma designação para o soberano do Ndongo”.
O orador disse que a matriz banta da cultura angolana é o húmus e o múnus de que emanam os comportamentos forjados a partir da infância da maioria dos angolanos.
“Os conceitos de mestiçagem ou de crioulidade aplicados à totalidade da cultura angolana terão sempre efeitos devastadores sobre a consciência que o mundo possa ter da complexidade e densidade das redes sociais e do entrançado cultural do país”, enfatizou o escritor.
PUBLICADA POR BRUNO ARZAK
Fonte: JAngola



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