sexta-feira, 12 de março de 2010

Alda do Espírito Santo

Várias figuras da vida política de Angola e de outros países prestaram ontem, 11 de Março, na União dos Escritores Angolanos (UEA), em Luanda, a última homenagem à escritora e nacionalista santomense Alda do Espírito Santo.
O vice-presidente do MPLA, Roberto de Almeida, representou o Chefe de Estado na cerimónia, em que estiveram presentes os ministros das Relações Exteriores, Assunção dos Anjos, da Cultura, Rosa Cruz e Silva e da Comunicação Social, Carolina Cerqueira, a governadora de Luanda, Francisca do Espírito Santo, o embaixador de Cuba, Pedro Rossi Leal, a ministra conselheira e encarregada de Negócios da Embaixada de S. Tomé e Príncipe, Dionísia Barros, outras figuras da sociedade angolana e familiares.
O velório começou às 9h30, com cânticos religiosos e declamações de poemas sobre o percurso político e literário defendidos por Alda do Espírito Santo.
O ministro das Relações Exteriores, Assunção dos Anjos, referiu que Alda do Espírito Santo foi “uma mulher que, deste muito cedo, se associou às correntes nacionalistas para emancipação do continente africano e procurou sempre, com o talento pela escrita, usar a literatura como uma arma forte de combate”. Assunção dos Anjos afirmou que foi pelo contributo de nacionalistas como Alda do Espírito Santo, António Agostinho Neto, Kwame Krumah e Amílcar Cabral que África ficou livre das “amarguras do sistema político colonial”.
A governadora de Luanda definiu Alda do Espírito Santo como “mulher sensível e determinada, que sempre deixou nas suas obras o sentimento de unidade e solidariedade com os povos que sofriam as amarguras do regime colonial”.
A homenagem à nacionalista Alda do Espírito Santo, frisou, não é apenas de Luanda, mas de Angola para o povo S. Tomé e Príncipe, que perde um “símbolo importante da sua História”.
A ministra da Cultura salientou que Alda do Espírito Santo deu o contributo, em tempo oportuno, para a luta pela independência dos povos africanos.
O embaixador de Cuba acreditado em Angola, Pedro Rossi Leal declarou que a morte de Alda Espírito Santo “foi uma perda irreparável para os países lusófonos”, lembrando, também ele, “a defensora incasável pela independência dos povos do continente africano”.
A ministra conselheira e encarregada de Negócios da Embaixada de S. Tomé e Príncipe, Dionísia Barros, na mensagem que endereçou à família da autora do Hino Nacional referiu o “exemplo de mulher batalhadora” que ela foi.

Biografia

Alda Espírito Santo, também conhecida por Alda Graça, nasceu na ilha de São Tomé em 1926 e teve a sua educação em Portugal. Frequentou a Universidade, mas teve de abandonar, em parte devido às suas actividades políticas, mas também por motivos económicos. Na então Casa dos Estudantes do Império conheceu e privou com Amílcar Cabral, Agostinho Neto, Mário Pinto de Andrade, Marcelino dos Santos e outras figuras do nacionalismo africano. Uma das mais conhecidas poetizas africanas de língua portuguesa, ocupou cargos de relevo no governo de São Tome e Príncipe. Foi ministra da Educação e Cultura, ministra da Informação e Cultura, Deputada e presidente da Assembleia Nacional. Exerceu o cargo de presidente da União Nacional dos Escritores e Artistas de São Tomé e Príncipe, em acumulação com a presidência do Fórum da Mulher. Dela escreveu a sua conterrânea e também poetisa Conceição Lima, num texto recente na revista África 21: “Alda Espírito Santo é igual à transparência da casa que a habita, a casa que nos habita. Pelos nomes próprios nos distingue e nos chama.

Avó Mariana

Avó Mariana, lavadeira dos brancos lá da Fazenda chegou um dia de terras distantes com seu pedaço de pano na cintura  e ficou. Ficou a Avó Mariana lavando, lavando, lá na roça pitando seu jessu1 à porta da sanzala lembrando a viagem dos seus campos de sisal.  Num dia sinistro p'ra ilha distante onde a faina de trabalho apagou a lembrança dos bois, nos óbitos lá no Cubal distante.  Avó Mariana chegou e sentou-se à porta da sanzala2 e pitou seu jessu1 lavando, lavando numa barreira de silêncio.  Os anos escoaram lá na terra calcinante.  - "Avó Mariana, Avó Mariana é a hora de partir. Vai rever teus campos extensos de plantações sem fim".  - "Onde é terra di gente? Velha vem, não volta mais... Cheguei de muito longe, anos e mais anos aqui no terreiro... Velha tonta, já não tem terra Vou ficar aqui, minino tonto".  Avó Mariana, pitando seu jessu1 na soleira do seu beco escuro, conta Avó Velhinha teu fado inglório. Viver, vegetar à sombra dum terreiro tu mesmo Avó minha não contarás a tua história.  Avó Mariana, velhinha minha, pitando seu jessu1 na soleira da senzala nada dirás do teu destino... Porque cruzaste mares, avó velhinha, e te quedaste sozinha pitando teu jessu1?    (É nosso o solo sagrado da terra)

1 - Jessu: cachimbo de barro;

2 - Sanzala: aldeia.



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