Teatro em Angola: época colonial e pós-colonialAntes da Conferência de Berlim decretar internacionalmente a legitimidade da colonização de África, a história registou algumas actividades teatrais, principalmente a apresentação de espectáculos nos locais permissivamente adequados, ou seja reservado para efeito.
Aliás, de acordo com Mena Abrantes (Abrantes:2005,pp.74-75), entre 1846 e 1869, temos uma estimativa de 25 peças apresentadas em Angola entre outras, «O fugitivo da Bastilha» (10/10/1846), «Os dois Renegados» de Mendes Leal (30/01/1847), «Os Salteadores» (28/05/1848), «Usurpador» (ópera cómica, 06/05/1861) na Sociedade Dramática, «Um banham nas caldas» na Associação 31 de Outubro (03/09/1862 e «O trovador» de Verdi (que é uma ópera) na Sociedade Dramática (01/12/1869).O Colectivo Ngongo será criado nos anos 60 no Conselho Nacional da Cultura.
Em Abril de 1977, cria-se o Colectivo Xilenga-Teatro (Abrantes:2005,p.27). Pouco meses depois da independência, criou-se a Escola Nacional de Teatro (ENT), cujo grupo Amador levaria à cena, alguns meses mais tarde, uma superprodução músico-balletico-teatral denominada ANGOLA (Abrantes:2005,p.28).
Em Dezembro de 1977, foi a segunda super-produção intitulada África Liberdade.Em Fevereiro de 1983, por decreto executivo conjunto, começa teoricamente a Escola do Teatro; anima-se vários seminários com fim de criar companhia de Teatro Baillet Nacional e Modelos de Animação Cultural; nessa mesma fase que vinha em Angola, a Companhia Nacional do ex-Zaíre com a obra «Elima Ngândo» (proposta do professor Norberto Mantan’yadi).
Houve diversas palestras orientadas por autores brasileiros Abdias do Nascimento ao convite de INFAC. Contou-se também com um outro orientador português, Mário Barradas, nesse «Seminário de Formação». Nos anos de 1980/1985, desenhou-se um teatro muito débil, que não era um teatro profissional. Tratava-se sobretudo de sketch sem respeito aos moldes universais, princípios científicos, sem formação adequada. No entanto, existia JETEC, os «Caminheiros de EMAUS», Makotes, etc. Com a DINARTE, na direcção do Secretariado da Cultura, começou-se a fase preparatória da Escola de Teatro. A sua experimentação foi inserida no Fenacuclt, em 1989. O objectivo: recolher dados científicos (durante Fenacult) baseando-se nas manifestações culturais de todas as províncias. Previa-se um estudo comparativo para sistematização e codificação do Teatro à moda angolana.
Resultados:
1) enriquecimento de Carnaval e 2) criou-se Festival Nacional do Teatro.
O primeiro Festival Nacional do Teatro realizou-se em Benguela no mesmo ano, em 1989. O vencedor foi o colectivo OÁSIS com a obra de Uanhenga Xitu.
Aliás, Mena Abrantes salienta: «os esforços empreendidos a nível oficial, no seio das estruturas da Secretaria de Estado da Cultura, não têm tido a necessária continuidade para poderem afirmar uma linha coerente de desenvolvimento teatral. Mudam os orientadores, mudam os métodos de trabalhos, mudam os alunos, e o balanço final é extremamente fraco, continuando o país a não dispor de uma única companhia (nem a nível amador, nem semi-profissional nem muito menos profissional) com elenco próprio e repertório regular» (Abrantes:2005, p.33).
«Foi no seminário de três meses em 1993 onde juntou-se mais de 200 colectivos na Elinga, e somente, depois deste seminário começou-se a vigorar princípios e métodos do teatro. Ensinou-se um pouco de História do Teatro, Voz e Dicção, Actuação, Dança, etc.
Contou-se com a participação de Ana Clara Guerras Marques, Domingos Ngwizani, etc. A abertura foi celebrada pela vice-ministra Ana Maria de Oliveira, e foi no dia 8 de Janeiro de 1993. De 1995-1999, fez-se um ciclo de formação básica especial (4 anos) onde figuravam Dikota, Carlão, Lobão, Sérgio de Oliveira, Caculo (Lumières), Afonso Zamundu, etc. Entre 1999-2000, a Escola formou com «Encena Teatro» mais de 30 colectivos teatrais. Foi a partir desse período que as peças como «Kasinda não volta atrás» foram exibidas. Com isso, o teatro foi ao encontro da população e da academia.
Desde 2004 lançou-se o desafio de formar academicamente os técnicos médios na Escola Média de Teatro (INFA), embora com precariedade professoral. Com a Dra. Agnela Wilper no comando durante dois anos, ENT apresenta os seus primeiros finalistas durante o mandato de Francisco Van-Dúnem, nesse final de 2008.
Desenhando o quadro indicativo da evolução assimilativa dos alunos, como podemos constatar, de 2004 (9ª classe) até 2007 (12ª classe), a formação no ramo do teatro apresenta uma peculiaridade que é preciso anotar: os indicativos mostram que logo no início da formação a assimilação foi a média (50%). Na segunda experiência a assimilação evoluiu relativamente acima de 6,5%. Ou seja 56,5%. O que significa que na 10ª classe a assimilação dos alunos terá aumentado provavelmente pela contratação de novos professores (?) nacionais e a disponibilidade de novos dispositivos pedagógicos.
Embora alguns alunos não foram aptos para transitar de classe, é salutar o rigor que se vem instalar na administração das aulas e aplicabilidade dos alunos que, com concurso da direcção, a média atingiu 62%, ou seja +5,5% da média anterior. No entanto, regista-se baixas de -10,5% na 12ª classe em relação a média anterior.
A média final da 12ª classe do Teatro baixou a 51,5% por várias razões, entre elas: a transição da direcção do INFA fez com que alguns alunos tão afectivos a direcção cessante demorassem acostumar-se com a nova direcção; alguns professores desistiram por questões pessoais ou profissionais; outros professores continuaram mas com fraca concorrência na aplicabilidade dos alunos; alguns dispositivos pedagógicos adormeceram paulatinamente por questões de prioridade directiva, como aliás é natural.
Salientamos também que durante o ano 2007, já no fim, viu-se a necessidade de recorrer a experiência cubana cuja contribuição ainda está para comentar.A formação, como podemos lucidamente ver, está longe da excelência durante 2004-2007.
A satisfação estável que todos os alunos mostram na sua evolução necessita de ser aperfeiçoada consoante um estudo concreto na disponibilidade das condições expostas quer no professorado tanto como na discência.
De acordo com os dados recolhidos na Escola Média do Teatro, foram 79 matriculados na 9ª classe (2004). Já na 10ª classe foram 49 alunos. A 11ª classe foi dividida em duas turmas E1= 13 alunos E2=19 (32 no total). 12ª classe registou apenas 13 alunos para, na 13ª classe, somente nove alunos apresentarem os seus trabalhos de fim de curso, já em 2008.Quer com isso dizer que dos 79 matriculados (71% rapazes e 28,9% raparigas) em 2004, apenas nove (55,5% dos rapazes e 44,5% das raparigas) terminaram o curso em 2008. Notou-se que não só a formação está debaixo da excelência, mas também a própria formação choca com parâmetros sociopedagógicos predefinidos e os objectivos visados.
Convém estudar seriamente o problema na sua realidade social angolana, na capacitação psico-pedagógica, na interferência metodológica em congruência com a demanda e, finalmente, na disposição institucional da missão educativa.
Fonte: Jornaldeangola
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