domingo, 28 de dezembro de 2008

(46) - Ágora - Silogismo/ Opinião/

3/11/08


Vou falar de várias coisas, que pouco terão umas a ver com as outras!


Saiu recentemente, editado pela D. Quixote, um livro interessante, de Bernardino Gomes e Tiago Moreira de Sá, “Carlucci vs. Kissinger – Os EUA e a Revolução portuguesa”, em que são reproduzidos memorandos das conversas, mantidas entre Mário Soares, Carlucci e Kissinger, sobre as vicissitudes que rodearam o reconhecimento, da então República Popular de Angola, por parte do governo português. Obviamente, que muitos de nós sabíamos os esforços do ex-presidente português Mário Soares, na tentativa de bloquear o processo no período do antes e do pós 11 de Novembro de 1975, fazendo-o de uma forma tão pertinaz, que sempre foi motivo de inúmeras especulações, e trinta e três anos depois pouco interessam para a generalidade da opinião publica, mas que releva importância nos meios académicos.


Este livro, para além de ser uma investigação interessante, com uma linguagem muito escorreita, tem a vantagem de ter anexos onde constam documentos secretos, entretanto desclassificados, e acessível aos dos investigadores que são autores deste trabalho, onde se esclarecem algumas posições que permaneceram omissas.


Como Luandino Vieira foi galardoado, finalmente, com o Prémio Nacional de Cultura e Artes, uma distinção que convenhamos peca por ser demasiado tardia, eu aproveito para divulgar, com um ano de atraso, a saída da “Edição comemorativa dos 35 anos da publicação do Luuanda”, editado pelas edições 70, e apenas disponíveis 1000 exemplares assinados pelo autor e pelo escultor José Rodrigues. Esta edição é magnífica pela qualidade do grafismo, pelo excelente papel, e acima de tudo pelas ilustrações do José Rodrigues, um homem, de quem os angolanos, deviam ouvir um testemunho sobre o seu papel na luta da independência do País, se ele alguma vez assim o quiser, pois sei que por excesso de humildade não o faz com facilidade.


Obviamente que não vou falar do Luuanda, porque talvez já tenha tudo sido dito e escrito, e continua-se a exigir a cada angolano que o leia, e o obrigue a ler, mas acho que esta edição, deve ser adquirida como objecto de valorização, já que hoje há tanta coisa em moda, nesta sociedade de mercadoria, que ainda não se percebeu se é mesmo de mercado; A verdade é que esta é valiosa!
Num programa sobre o “Portugal dos anos 60”, tive o privilégio de ver o célebre debate que a RTP em 1965, fez sobre o Luuanda, e a atribuição do grande prémio de novelística da Sociedade Portuguesa de Autores, a este livro, já que o autor estava preso no Tarrafal, com a acusação de “delito de opinião e incitamento à subversão”. Nessa mesa redonda estava um Amândio César, que tem um conjunto de livros sobre literatura “ultramarina” publicada, de facto com poetas que viviam esporadicamente no “ultramar”, o Geraldo Bessa Victor, deputado de Angola pela União Nacional de Salazar, o etnólogo José Redinha e Mário António Fernandes de Oliveira. O moderador era o José Mensurado, que havendo pouco para moderar, conseguiu obrigar a calar um “intrépido” Mário António, que achava que o exagero também devia ser comedido, tal a forma como a obra e o autor eram vilipendiados. Mais cedo que tarde, voltarei a este tema, já que prevejo fazer neste espaço, uma retrospectiva da vida e obra de Mário António de Oliveira.
Ainda sobre o Luuanda é de lembrar que a PIDE encerrou a Sociedade Portuguesa de Autores, depois desta ter sido vandalizada por uns legionários, milícia do regime de Salazar. “O Jornal do Fundão” foi o único que divulgou a entrega do prémio e por isso foi encerrado seis meses, e o seu director Fernando Palouro detido.
O júri do prémio era constituído por João Gaspar Simões, que votou contra, Augusto Abelaira, Alexandre Pinheiro Torres, Fernanda Botelho e Manuel da Fonseca.
Por tudo isto, e nesta hora em que Luandino Vieira recebe o PNCA, só fica a solidariedade, o agradecimento, e dizer que vale sempre mais tarde que nunca!




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