quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Debate da História da Arte

História da Arte em Angola e África debatida no próximo mês em Simpósio


António Bequengue


O Professor Doutor Zakeu Zengo é um dos organizadores do Simpósio Internacional de Estética e História da Arte em Angola e África, a decorrer nos dias 22 a 23 de Janeiro de 2009, em Luanda. O evento vai reunir durante dois dias académicos nacionais e estrangeiros como os Professores Doutores Carmén Lúcia Tindó Secco, Fernando Mourão, Carlos Serrano e Samba Diakité, o Doutor Simão Souindoula, o padre José Kassanje e o pintor e escultor António Tomas Ana “Etona”.
Em entrevista ao “Jornal de Angola”, Zakeu Zengo fala dos objectivos e preparativos deste simpósio.
Jornal de Angola - Qual o objectivo do Simpósio Internacional?
Zakeu Zengo - O colonialismo alterou, e em diversos casos destruiu, a nossa cultura e falsificou o sentido de nossa criatividade. A guerra civil fragmentou as nossas aspirações nacionalistas e debilitou a sabedoria das nossas tradições. A infusão actual dos valores tecnológicos e culturais da globalização, enquanto um processo não controlado e regrado através da educação e da informação programática, tem-se revelado lesivo das culturas nacionais. Por isso, é um simpósio sobre cultura e arte angolanas, uma acção de reconstrução.
Jornal de Angola – Mas qual é o objectivo?
Zakeu Zengo - O objectivo principal, é reunir as pessoas interessadas no tema e introduzir a discussão do futuro da nossa criatividade, do papel que a arte deve ter na nossa educação para a autodeterminação. Não obstante uma discussão especializada, tentaremos efectivamente visualizar os caminhos da arte e da cultura como uma relação, a organizar, com nossas aspirações de povo.
JA – A arte e a cultura reafirmam as aspirações nacionais?
Zakeu Zengo – A arte e a cultura são duas formas identitárias muito importantes, que fundam e constituem a alma de um povo. Não se conhece um povo se dele ignoramos a linguagem por meio da qual ela afirma o seu estado interior mais profundo. A antropologia ensina à cultura e à arte o caminho para chegar a essas profundezas. O nosso país está em reconstrução. Certamente as pessoas pensam nesta fase como a de realizações de projectos concretos. Mas sabemos que a tarefa é maior do que isso.
JA - Que personalidades já confirmaram presença?
Zakeu Zengo - Sabemos que são muitos. E o espírito do III Simpósio da Cultura Nacional, organizado pelo Ministério da Cultura, em 2006, tem sido particularmente estimulante. Vamos usar esta oportunidade e enviar o convite formal a todos os artistas, académicos, estudantes, professores, coleccionadores, gestores de cultura, e a todos os que se identificarem com esta actividade académica. São todos convidados e aguardamos por todos.
JA – Pode revelar nomes de académicos confirmados?
Zakeu Zengo - Já confirmaram presença Fernando Mourão, um ilustre académico e grande conhecedor do nosso povo e de África, Carlos Serrano, antropólogo de Cabinda e professor catedrático da Universidade de São Paulo, no Brasil, Simão Souindoula, eminente antropólogo nacional, o padre José Kassanje, um estudioso dedicado da arte e cultura angolana, Samba Diakité, da Universidade de Côte d’ Ivoire, Carmén Lúcia Tindó Secco, professora brasileira da Universidade Federal do Rio de Janeiro, uma das maiores estudiosas da literatura angolana e também da arte pictórica, o sul africano Thomas Mulcaire, que é curador e tem experiência em Documenta X, da Bienal de São Paulo, e profere várias palestras à volta da promoção artística, o Mestre Adépo Yapo, da Côte d’ivoire, musicólogo e director do Centro de Pesquisa sobre Arte e Cultura, o artista António Tomás Ana (Etona), o artista Jorge Gumbe, um dos nossos maiores artistas da actualidade, além de estudioso dedicado da nossa arte, o nosso escritor Conceição Cristóvão, actualmente vice-governador de Malanje e Patrício Batsikama, um estudioso da nossa arte.
JA – Há outros convidados confirmados?
Zakeu Zengo - Em rigor, planeamos usar a publicidade para chamar mais personalidades para o evento. Para nós importa muito pouco a questão da confirmação. A arte tem sido um dos temas mais privilegiados no pós-guerra e todos os cultores e admiradores dela acompanham com entusiasmo e interesse os esforços de organização, estudo e promoção cultural e artística.
JA – Que temas são discutidos nos dois dias de Simpósio?
Zakeu Zengo - Há um eixo temático principal, que é “O desafio da fundamentação e sistematização da arte em Angola e em África”, ao qual se submetem todas as comunicações, tendo o Prof. Doutor. Fernando Mourão como moderador geral da unidade temática. Os debates estarão divididos em quatro blocos: correntes, ideias, pressupostos e desafios da sistematização da arte em Angola e em África, dentre os quais se destacam os temas “Arte e criação na estética Angolana”, “O Etonismo como proposta metodológica e filosófica da arte em Angola” e, finalmente, “Arte como tolerância e razão para a educação do futuro em Angola”.
JA – Que instituições ou empresas públicas e privadas estão a apoiar a iniciativa?
Zakeu Zengo - Há a simpatia de vários actores e organismos na viabilização do evento. Está em curso o esforço de consolidar as parcerias asseguradas, começando pelo Ministério da Cultura, que já garantiu o apoio ao evento. A produção está a cargo da LS Produções, que também presta patrocínio, enquanto o Instituto Etona e o Fórum Internacional de Angolanistas promovem as acções organizativas. As garantias da sua viabilidade económica são dadas pelo patrocínio oficial do grupo Vumpa Kia Nzambi e do Banco BPC. O simpósio conta com a simpatia e apoio institucional de diversos organismos nacionais e internacionais, com destaque para embaixadas acreditadas em Angola e instituições internacionais ligadas à Arte e à Cultura.
O público pode acompanhar a organização do evento pela Internet no link:



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1 comentário:

Anónimo disse...

"O colonialismo alterou, e em diversos casos destruiu, a nossa cultura e falsificou o sentido de nossa criatividade. A guerra civil fragmentou as nossas aspirações nacionalistas e debilitou a sabedoria das nossas tradições."

A cultura de um povo é o somatório de todas as suas vivências. Como tal, o colonialismo e a guerra civil apenas acrescentaram valor cultural. Negar isso é ignorância. Assim como é absurda a ausência de portugueses no evento. Lamentável...