Em 1 de Julho de 1970, o Papa Paulo VI recebe no Vaticano Agostinho Neto, Amílcar Cabral e Marcelino dos Santos, representantes dos movimentos de libertação das colónias portuguesas.
Foi um momento marcante da Igreja Católica Apostólica Romana (ICAR), nas já debilitadas relações com o regime colonial português, a que não eram alheias as posições de alguns clérigos, sobre a forma como se desenvolvia a repressão, a violência e a segregação racial nas colónias.Longe iam os tempos do “Acordo Missionário” de 10 de Julho de 1940, em que o Estado português e o Vaticano celebram um acordo, que mais não é que o alijar responsabilidades por parte do Estado nas colónias, em troca da “vigilância” permanente dos dignitários da igreja e seus acólitos, sobre as populações autóctones e tentativas de rebelião.
A Itália de Mussolini, que com Pio XII assinou o Tratado de Latrão, que constituiu o Estado do Vaticano em 11 de Fevereiro de 1929, era a grande aliada da Alemanha, numa Europa varrida pela bestialidade nazi, nesses anos 40 de má memória. Sobre isto, é interessante lembrar que numa cimeira entre Hitler e Mussolini, sobre o número de esquadrões disponíveis por parte das tropas do Eixo, o primeiro contava os países alinhados: Roménia, Croácia, Espanha, etc. O “Duce” disse que pelo seu lado podia contar com a Itália e o Vaticano. Hitler terá perguntado quantas divisões tinha esse Estado, e a resposta óbvia de Mussolini foi que não tinha divisão nenhuma. Hitler terá dito então, se não tem divisão nenhuma não serve para nada!!! Convenhamos que esta história, ou a cena enorme da chegada de Benzine Napoloni a Berlim no “Grande Ditador”, essa obra imperdível de Chaplin, conseguem ser os poucos momentos de alguma piada, perante a vil degradação da vida humana e dum holocausto que existiu, e que alguns ineptos hoje colocam em dúvida.O papel de Pio XII marcou a ICAR de forma perpetuamente negativa, pois nunca houve uma palavra de condenação por parte do Papa, aos crimes hediondos que o regime nazi praticou de forma sistemática de forma a erradicar judeus, ciganos, e outras raças da Europa. Tem sido discutida desde essa altura, se o papel do Papa foi o mais correcto, mantendo-se ainda hoje em aberto essa discussão, que pelos vistos está a condicionar a visita do Papa a Israel.
Tudo isto vem a propósito porque foi confirmada a visita de Bento XVI a Angola, em Março de 2009 para comemorar os 500 anos da “evangelização do território”.
Confesso que não sou grande entusiasta de religiões, embora tente respeitar quem é entusiasta e militante, mas ganho uma certa aversão quando as religiões determinam o quadro ético de um espaço civilizacional; Objectivamente, gosto mais da “separação das águas”.
Entre alguns dos meus filmes de eleição, a “Via Láctea”e a “Viridiana”, ambos de Bunuel consigo encontrar uma ironia e uma mordacidade sobre a prática das sociedades monogamicamente acoplados a uma religião. Tenho um respeito enorme por grande parte da prelatura angolana, pois em circunstâncias difíceis, permaneceram quase isolados, na busca de soluções para que o viver conseguisse ser mais que uma fatalidade. Estas pessoas merecem o agradecimento dos angolanos e sinto-me em dívida para com eles.
A visita de João Paulo II, Papa com que antipatizei, nada trouxe na sua vinda a Angola, no fim do século passado.Penso, e oxalá que me engane, que o seu sucessor nada de inovador vai trazer, tendo em conta os conceitos pisados e repisados que existem no Vaticano sobre a evolução da ciência, desde que Ratzinger foi nomeado por João Paulo II prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, um ministério ideológico entre a Inquisição e a Engenharia das Almas.Importa referir que existe um livro interessantíssimo, do Instituto de Investigação Científica de Angola, editado em Luanda em 1973 de António Brásio, que se chama História e Missiologia, que é um excelente trabalho sobre quatrocentos anos da presença de católicos em Angola.Para rematar, temos que admitir que o Vaticano tem a melhor diplomacia do mundo, e se vem a Angola, motivos sobrarão!!!
Fernando Pereira
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