quinta-feira, 20 de agosto de 2009

“As relações Angola-Brasil: referências e contatos” (VIII)

“As relações

Angola-Brasil: referências e contatos”, por Marcelo Bittencourt

O MEDO CONTINUA

A preocupação portuguesa com um possível apoio brasileiro às ações anticoloniais em Angola, demonstrada nesses casos, continuaria por um longo tempo ocupando espaço no xadrez político pensado por Lisboa.

Segundo a Pide, em decorrência da “atitude assumida pelo Governo do Brasil em relação à política ultramarina de Portugal”, todas as autoridades diplomáticas brasileiras, independentemente dos países em que estivessem fixadas, deveriam receber um acompanhamento especial. Qualquer movimento de aproximação em relação aos nacionalistas angolanos deveria ser assinalado.

Em resposta a essas orientações vindas de Lisboa, a Pide de Luanda informa ao governo que não havia diplomatas brasileiros em Brazzaville, nem em Léopoldville, naquele ano de 1961, e que o cônsul em Luanda estava vigiado, não se registrando “nada de interesse até o momento”.

Mais uma vez, a entrevista realizada com o embaixador Alberto da Costa e Silva nos fornece um testemunho que confirma essa “atenção especial” da Pide aos diplomatas brasileiros, quando se tratava de investigar a proximidade destes em relação aos partidários das independências africanas. Segundo o embaixador, em Lisboa essa vigilância era mais severa sobre ele, que respondia pelos assuntos africanos, e sobre o responsável pela área cultural, o escritor Odilo Costa Filho, ambos muito receptivos aos estudantes africanos residentes em Portugal. Como forma de ilustrar o que se passava, Alberto da Costa e Silva destaca um episódio em que Odilo Costa Filho, após demitir a empregada portuguesa que trabalhava em sua casa, é defrontado por essa senhora com a resposta de que ele não poderia demiti-la, pois ela tinha sido colocada naquela função por um determinado major português e que, portanto, só sairia dali com ordem desse militar.

A Pide, no entanto, segundo Alberto da Costa e Silva, estava certa em suas suspeitas, já que, em muitas das viagens à África, os diplomatas brasileiros sofriam o assédio de integrantes dos movimentos de libertação das colônias portuguesas, em especial o MPLA.

Ainda assim, o destaque dado ao Brasil na imprensa portuguesa colonial e metropolitana permanece. Em especial, em relação às delegações de políticos brasileiros. Só no ano de 1963 foram duas, em visita ao distrito do Uige. Ao que parece, foram as únicas delegações estrangeiras nesse ano.

A maior delegação, com treze deputados do estado de São Paulo, chegou a Carmona no dia 20 de novembro de 1963, ocasião em que as autoridades coloniais aproveitaram para enfatizar a “obra de promoção social das populações rurais”. Do lado brasileiro, os discursos oficiais ficaram por conta dos deputados Araripe Serpa e Conceição da Costa Neves. O jornal não faz a transcrição dessas intervenções, mas realça que ambas foram simpáticas e reafirmaram a solidariedade do povo brasileiro (Jornal do Congo, 21 de novembro de 1963).






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