sábado, 11 de outubro de 2008

Bairro Operário (parte 2)

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Continuação:

"Foram traçadas as grandes avenidas que além de afirmar o seu radiocentrismo, tinham a particularidade de unir relevos distintos, a cota ao nível do mar, às cotas mais elevadas e mais distantes da baía de Luanda. O desenho urbano de expansão avançou certamente à força da régua e esquadro, sem qualquer preocupação sobre quem ocupava o território, dando continuidade aos canais de acesso à cidade antiga, em direcção ao Cacuaco, Catete e Barra do Kuanza, mas com o triplo da largura onde esta teria sido medida, pela dimensão da manobra de inversão de marcha de uma espaçosa Dodge (isto sou eu a pensar…mas não sou suficientemente conhecedora de veículos de 40 e 50). Clique na imagem para ampliar

Assim terá sido traçada a antiga Av. Paiva Couceiro (ver planta - traço a verde), que tal como o militar, invadia territórios de terra vermelha, formava uma barreira inequívoca a qualquer alargamento do Musseque Bairro Operário, para sudeste, auxiliada pela quase paralela António Enes (rosa), localizada mais sobre o mar, estrangulando assim aquele pedaço de areia catingosa e vermelha, onde obviamente viviam angolanos de origem negra, os chamados indígenas.

Para que não restassem dúvidas, ao longo desses novos acessos foram implantados edifícios com cérceas de 5, 6 e 10 pisos.
Para rematar o tal plateau, ou terraço virado para o mar, com vista para o porto de Luanda, Ilha e oceano, considerado um ponto de visão geo-estratégica, e para conter ou eliminar os acessos pedestres e rápidos existentes, ao porto de Luanda, e à linha ferroviária, localizada na cota inferior, planeou-se um anel bem urbanizado de vista panorâmica ocupado pelas classes sociais mais elevadas e deu-se-lhe o nome de Miramar (circulo azul).
O lado sudoeste era bem vincado o limite e a diferença com o Bairro do Café.
O limite do lado do Bairro de S. Paulo era pouco rigoroso, interpenetrando-se mutuamente, mas com o clero a marcar presença e limite no território do musseque – igreja de S. Paulo e a sua Missão (laranja).
Todas estas manobras urbanísticas ilustram bem como se controla no território, as possíveis oposições políticas, ou o nascimento de qualquer revolta popular. A técnica é o esmagamento, o estrangulamento, a asfixia, a paralisia das vontades através do asfalto:
_ Não mata mas não deixa mexer.

Aliás técnica que os urbanistas de Salazar aplicaram com mestria em território continental, especialmente nas ilhas e outros bairros camarários da cidade do Porto, incómodos pela concentração da população operária insatisfeita.

O desenho apresentado em planta do BO (tratamento carinhoso e simplificado deste musseque) não corresponde ao desenho existente no local, durante os anos 60. Nessa época era um Musseque virado para o seu interior, onde houve a preocupação de o dividir e rasgar na sua parte central por um grande acesso, que possibilitava o patrulhamento pela Policia Militar Portuguesa, assegurando níveis de segurança aceitáveis para os colonos portugueses."anabela quelhas
(continua)
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