quarta-feira, 2 de novembro de 2011

DIVINOS MENSAGEIROS

Anoitece. A lua, iniciando seu trajeto pelo céu, perfurava as trevas, com sua luz prateada, liberando sua energia sobre a terra.

Os animais noctívagos, começavam a acordar e se dirigiam para a savana e para os bosques, a procura de caça.

No céu, as corujas e morcegos começavam suas rondas.

Ao redor de uma fogueira, todos os jovens da aldeia, aguardavam a chegada do velho Makúràyé, para dele receberam estórias, ensinamentos e muitas aventuras.

O velho chega, senta-se em seu toco preferido, enche o seu velho cachimbo, negro pelo uso, com tabaco e ervas, que somente ele sabia quais, arruma-se, acomoda-se, levando um tempo que, para os jovens ativos, era interminável.

Limpa a garganta com um pigarro profundo e, quando começa a falar, desce sobre o grupo reunido um silencio tão pesado quanto ao da morte.

• ”Nas manhãs da existência do homem em Ayè, quando necessitavam se comunicar com os Orisà, os kadiiala invocavam Legbarà, que prontamente surgia para saber o que eles queriam...

• Oh Èbora Divino, Mensageiro dos Orisà! Nós servos dos Senhores do Mundo, humildemente imploramos ao Nosso Pai Omolu, que perdoe as faltas do pequeno Apotakiè, e oferecemos ao Nosso Grande Pai, um cesto de doburù com coco, uma cabaça de emu, uma cabaça de dendem, uma cabaça de com tabaco e mel e uma bandeja de frutas, conforme prescreveu Ifà. Imploramos, oh Pai, cura-o! Ajuda-nos Pai!

E, incontinente, Legbarà, partia para Orum, levando a mensagem...

No caminho, Legbarà, encontrava ricos campos com bananeiras carregadas de frutos amarelinhos, pinhas, mangas, sapotis, cajás e outras frutas divinas.

Parava para comer e saciar sua fome.

Mais adiante, encontrava palmas sumosas.

Parava para retirar sua seiva, destilá-la e matar a sua sede com o doce emu.

E, assim, a viagem prosseguia, de parada em parada, até a mensagem chegar a seu destinatário.

Infelizmente, quando o Pai Omolu, recebeu a notícia, era tarde demais. Eku chegara primeiro...

Os homens, então, choravam e lamentavam:

• Teriam os Orisà nos abandonado?

Orisala, na sua grande sabedoria, convocou uma reunião entre os homens e os Orisà, assim que ouviu as lamúrias.

Ela se realizou na fronteira entre Orum e Ayè.

Soroké recebeu instruções para guardar, com seu exército, o perímetro em torno da reunião, contra os seres que só sabem perturbar.

Os homens escolheram o mais sábio dos babalawó, dois babalorisà e uma iyalorisà (para que as Iyabàs não se ofendessem) como representantes.

Todos os Orisà estavam presentes.

Orisà Olufon, o mais velho, presidia a reunião.

Seria sempre o último a falar e seu voto seria o de “Minerva”.

Sangó e Nànà, seriam os mediadores, para evitar perda de tempo com assuntos supérfluos.

E a palavra foi dada aos homens, o babalawô, foi o primeiro a falar:

• Nós Os louvamos e adoramos. Nós Lhes damos oferendas. De nossa caça, a parte melhor, de nossas colheitas, as melhores frutas e frutos, procuramos nas matas, com a licença de Ossaym, as ervas da preferência dos Senhores, e Senhoras, tudo, dentro do que Ifá nos transmite dos desejos dos Senhores, e Senhoras, nós fazemos e, mesmo assim, não obtemos respostas às nossas súplicas. Seguimos os preceitos ensinados pelos ancestrais e, mesmo assim, nada conseguimos... Aos antigos, bastavam cruzar a fronteira onde ora nos reunimos, para encontrar e falar com nossos Pais.

Solene, Orisà Olufon interveio:

• Separai-nos pois não mereceram nossa confiança...

• Foi justa a separação - disse Sangó - mas também é justa a reclamação...

Intempestivamente Ógùn fala:

• Porque da demora em solicitar nossa ajuda?

Prostrando-se ao chão, Mgbògun, um dos babalorisà, exclama:

• Não Pai! No caso de Apotakiè solicitamos a benécie do Pai Omolu assim que a febre se manifestou...

• Mas, quando fui avisado, - disse Omolu - Eku já havia passado por lá...

Oríketúzarà Katendé, descendo do Iróko, disse:

• Nem o homem demorou a pedir indulgência, nem o Orisà Ademimonazambi demorou a chegar. A notícia é que demorou muito tempo para sair de Ayè e chegar a Orum.

E Ógùn foi chamar Soroké.

Soroké argüiu Legbarà.

Legbarà se defendeu:

• O caminho é longo, sede e fome nos alcançam entre Ayè e Orum, precisamos repor nossas forças para viajar entre os espaços, precisamos comer e beber.

• Precisamos ver isso... - Falou pensativamente Orisà Oguian.

• Sim, Legbarà precisa de energia. - Concordou Osun.

• Que seja feita a justiça! - Completou Sangó.

Orisà Olufon, erguendo seu opasoró, proferiu a sentença:

• Que Legbarà, para ter energia para suas viagens, receba, sempre, em todos os tempos, de agora e para o futuro, sua bebida e comida preferidas, antes de qualquer outro. Que sejam abertos a noite, o dia, as festas, as saudações e tudo o mais com oferendas aos nossos mensageiros, para que, rapidamente, saibamos o que acontece em Ayè. Gravado ficará em Loko e nos planos de meu Opasoró, e para sempre assim será feito...

• E hoje, sempre que invocamos o asè de nossos Pais, seja porque motivo for, primeiro damos de comer e beber aos Divinos Mensageiros, para que Eles possam viajar entre os espaços, rápidos como a luz do Pai Maior, sem interrupções, para que possamos receber, quando merecemos, a ajuda de nossos Orisà...”

Conto por José Alberto Ayres





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