Por: Luís Fernando
É, claramente, à geração high-tech que se imputam os movimentos que vieram semear algum desassossego e que, fora de controlo, resvalam para críticas situações de instabilidade e vazios de ordem.
Nota-se-lhes a incontida vontade de mudar o mundo do seu jeito e, ao mesmo tempo, a imprudência romântica que dificilmente antecipa os cenários de caos. Acreditam em revoluções cirúrgicas que se engendram de madrugada e à hora do almoço já produziram ganhos, entre festas de celebração e disparos triunfais para o ar.
Na madrugada do dia 7 de Março, quando fervilhavam os apelos para um protesto convocado de modo apócrifo, a estupenda ferramenta informática criada por um adolescente de 19 anos, Marck Zuckckerberger, (Facebook), mostrou a todos que a puderam ou quiseram acompanhar com que grau de idealismo, utopia e displicência dezenas de jovens se permitiram lidar com aquela que tem de ser entendida como a obra maior desta geração em vida de angolanos, ter podido fazer a paz depois de décadas de conflito atroz.
Inebriados com as facilidades com que nestes tempos de alucinantes avanços científicos se monta um cenário de revolução – antes, era preciso treinar guerrilheiros num bosque escondido, hoje basta um computador de linha branca ligado à Internet para sonhar com o fim de uma era – os que queriam de qualquer forma arregimentar gente para o Largo 1º de Maio (acabaram por ir apenas 17) deixaram-se trair pela falsa sensação de invulnerabilidade que os cliques dum teclado a comandar missões à distância podem conseguir. Só assim se explica que aquele vídeo absolutamente insultuoso resultante de um espectáculo de música underground no Cine Atlântico dias antes tivesse, durante horas, tão grande e lamentável difusão.
Se alguma história fica como rescaldo desta onda de criticismo em voga, iniciada a bem dizer na tal madrugada da manifestação que se ficou pela convocatória, será o nervosismo entediante dos activistas e a sua mal disfarçada incapacidade de lidar com quem se lhes opôs, no mesmo espaço cibernético, nos métodos e na pertinência da acção anti-governamental. Nervosismo de que não se libertaram tão cedo, porque no caso da página animada pelo Bloco Democrático (BD) – um exemplo apenas -, muitos dos internautas que foram chamando à razão e à prudência porque uma fagulha poderia atear fogo à pradaria, acabaram “ditatorialmente” bloqueados, sem acesso ao site, acusados – vejam isto – de serem “bófias” infiltrados! Vai faltando, nitidamente, alguma urbanidade no modo como alguns se vão valendo da Internet para espalharem o que esperam venham a ser as sementes de uma revolução, a “sua revolução”, a um mesmo tempo em que sectores cada vez mais amplos desconfiam do frenesi e propósitos com que se fazem à luta, muitos deles jovens resguardados em floridos parques da Europa quando outros, da mesma geração, se batiam cá dentro pela paz, em trincheiras regadas com o sangue de companheiros.
Luís Fernando - 8 de Abril de 2011
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