quarta-feira, 10 de novembro de 2010

apontamentos de F. Quelhas (7)

Esta semana resolvi tomar a decisão de dirigir aqui em Luanda, no chamado vôo solo ( sem motorista ).

Na verdade corria três simples riscos:

Não conseguir encontrar o caminho de volta  Podem achar que estou de gozação, mas se vocês vissem a confusão das ruas no Luanda Sul e da Nova Vida concordariam que não estou exagerando. Ainda por cima uns “ gênios”  brasileiros resolveram imitar o pior de Brasília dando as ruas, não nomes mas sim números, com a particularidade que as ruas não são paralelas. Mesmo na cidade antiga ( Maianga, p.e. ) não e fácil a orientação, pelo menos para quem não esta familiarizado, principalmente porque nem adianta perguntar onde fica a rua tal, já que ninguém conhece as ruas pelos nomes. Nem as principais. Achei ate engraçado ao pensar que aqui não vai adiantar o GPS comum que usamos no Brasil ou em outros países, a não ser que em vês de colocarmos o endereço na forma comum, passemos a anotar as coordenadas geográficas de fato. Estou caricaturando, pois que, na verdade, com o tempo nos habituamos.

Dar uma batida, tendo em vista a forma como dirigem aqui. E incrível!!! Não me refiro nem a forma como dirigem no Rio ( inclusive as vans ) em alta velocidade e não respeitando nenhuma lei de transito.  Aqui o engraçado eh nos engarrafamentos em que vale realmente tudo e os carro circulam a uns 10 cm uns dos outros em manobras mais ou menos bruscas. Mesmo observando muitos carros com pequenos mossas, ficamos cogitando sobre qual seja o milagre que faz com que todos deixem de estar amassados. Um detalhe curioso. Quando se estaciona o carro na rua, manda o bom senso, que se recolham os espelhos retrovisores. Já estão a ver porqu^e.

Ser parado numa blitz ( eles aqui chamam de operação stop, ou algo parecido ). E que ate agora não consegui saber ao certo se posso, ou não dirigir com a minha carteira ( aqui chama de carta ) de condução brasileira. Uns dizem que pelo tempo de permanência do visto posso. Outros negam de pés juntos que se possa. Eis então que cada vez que passava por um guardinha de transito vinha aquela adrenalina, já que a maioria deles param os carros pedindo os documentos. Não eh como no Brasil em que quando fazem uma blitz, juntos vários policiais, ( e formam a quadrilha !!!! ), etc. Aqui o policial fiscaliza sozinho.
Numa simples ida a ilha no domingo, contei 8 policiais de transito pedindo documentos aos motoristas. Felizmente o Universo estava conspirando a meu favor e nenhum me parou.
Ao final, já confiante que estava executei ate um pequeno truque que uso muito no  Rio e que funciona, por incrível que pareça. Tentem um dia: ao se aproximarem do guarda que esta selecionando os carros para parar, em vez de desviar o olhar olhem diretamente para o guarda e façam um pequeno gesto com a mao numa espécie de saudação sutil. Normalmente o guarda imagina que você o conhece e tambémpor ficar  um pouco tomado pela surpresa esquece-se de mandar parar. Eh um simples blufe.

No feriado, um amigo me convidou para um churrasco e para conhecer a sua casa nova La para a região sul de Luanda. Ele que não e bobo nem nada, por um quarto do preço fez uma casa magnífica com piscina, churrasqueira, com uma curiosidade também Bastou-lhe, em vez de comprar pronta ou na planta, construir por administração própria

Algo interessante. Já tinha ouvido dizer que num casamento, banheiros e contas bancarias separadas são benéficas. Os meus amigos foram um pouco alem e resolveram também ter escritórios separados na sua nova casa. Acho que e um exemplo a ser seguido.

O churrasco aqui e um pouco diferente do nosso no Brasil em que predomina a carne de boi. Aqui, acho que por influencia de Portugal, eh mais comum utilizarem carne de frango e suíno, inclusive um tipo similar a bacon que assado vira uma espécie de torresmo feito na brasa que eh uma delicia.

Chamou-me a atenção o fato de usarem carvão importado da África do Sul. Acho que e carvão mineral ( de alto poder calórico ) que eh vendido em pellets ( uma espécie de bolotas ) comprimidas. Cheguei a conclusão que aqui ou usam carvão obtido com lenha oriunda de florestas nativas que são vendidas por ambulantes, ou vem da África do Sul. Imediatamente me ocorreu que talvez possa ser um bom negocio plantar uns eucaliptozinhos para daqui a uns 6 ou 7 anos ter matéria prima para fabricar carvão, já que, provavelmente as autoridades ambientais passarão a ser muito mais rigorosas, ou ate porque a madeira nativa esteja acabando, competindo com larga vantagem, com o carvão sul-africano, por conta do custo de transporte deste.

Quem sabe? Eh caso para se pensar.

Já agora uma curiosidade lingüística daqui.

Imaginem que vocês perguntem a alguém se conhece algo. Se conhece algum local, por exemplo, e a pessoa responde que conhece minimamente.

A nossa lógica levaria a concluir que conhecer minimameeeente ( eles carregam na penúltima silaba daquela forma cantante de que já falei ) significaria que conhecem muito pouco ou que nem conhecem. Na verdade o termo pode significar que conhece nos mínimos detalhes.

Usam também esta expressão, de uma forma ainda mais relativa, ao responder “ Conheço para alem de minimamente “ Neste caso pode significar que conhece mais ou menos.

Afinal nada demais. No Brasil e em Portugal ( certamente também em Angola ) nos acostumamo-nos a dizer. Não conheço nada, frase esta que por envolver duas expressões negativas significaria uma posição positiva, claro. Ou seja: Não conheço nada deveria ser sinônimo de conheço tudo, nem que fosse na lógica matemática ( cartesiana ).

Mas tudo isto, eh, ao final, pura retórica sobre uma língua da qual um amigo meu alemão reclamava que não da para entender uma língua,  a portuguesa – tão cheia de exceções ( viram? O Word reclamou quando escrevi excepções e me mandou tirar o “p”  ) em que as pessoas falam que, pela ordem,  se deve  calçar as botas somente depois de botar as calças.

Tenham um excelente dia


Fernando Quelhas



Pensar e Falar Angola

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