quarta-feira, 3 de novembro de 2010

apontamentos de F. Quelhas (3)

Desde quando meus pais me colocaram para estudar em Portugal ( tinha na epoca 18 anos ) convivo com questões associadas a cambio duplo, pois era comum eles terem que comprar moeda portuguesa com ágio de uns 40% para me mandar dentro de cartas, etc. Lembrei-me agora que também era usual comprarem ( tb com ágio, claro ) bilhetes de loteria premiados para que eu os regatasse em Portugal.

Sinceramente, nunca entendi o que levava o governo português a uma política monetária tão idiota que fazia com que existissem não apenas duas moedas circulando dentro do pais ( uma para a Metrópole e outra para as colônias ), mas sim uma moeda diferente para cada colônia ( e ainda diziam que era um só pais, uma só nação. Balela ) Imagino que Portugal teria `a ‘epoca uma meia dúzia de moedas diferentes. Devia gerar uma confusão danada, confusão esta de que o genial Alves dos Reis se aproveitou para dar o golpe financeiro mais fantástico que já se fez, no meu entender.

Já no período da independência o ágio chegou a 400% e era uma loucura as pessoas trocarem qualquer coisa por dólar, sem olhar o cambio, já que estavam deixando o pais e de nada valia a moeda local. Lembro-me que era comum comprar-se passagens para a África do Sul, que davam direito a adquirir 50 dolares ( se não me falha a memória ) e simplesmente nem viajar. Quem lucrava era a TAP.

Mais tarde, já no Brasil, nos tempos da inflação elevada, habitue-me a conviver com a duas moedas. A brasileira e o dólar, sendo que a moeda norte americana na verdade não circulava correntemente, servindo por um lado como uma mera referencia monetária ( p.e. os valores dos imóveis eram sempre referenciados ao dólar ) e quando muito, algumas pessoas investiam em dólar parte de suas economias, comprando a moeda em cambistas ( normalmente agencias de viagem ).

O ágio cambial era tão elevado que por vezes, em viagens internacionais em que se podia adquirir ao cambio oficial US$ 1,000.00, se não gastássemos era possível, ao regressar revender os dólares que sobravam no mercado negro e com isso pagar a passagem e ainda sobrar um troco.

Vem isto a propósito do uso de dólares aqui em Angola.

Não ao se trata de simples moeda de referencia, ou mesmo de investimento em contas especiais. O dólar circula mesmo entra a população no dia a dia. 

Há, entretanto algumas peculiaridades interessantes. 

Praticamente, só circulam notas de 100 dolares, quando muito, algumas de 50. Ainda não vi uma única nota de 10 ou de 20 dolares. Devem estar perguntando: E como fazem o troco num restaurante, por exemplo, em que se paga a conta em dólares? Simplesmente o troco e recebido em Kuanzas.

Há aqui então uma segunda peculiaridade que me deixa perplexo. Há um cambio fixo que atualmente esta em 95 kuanzas /dólar. Não e como no Brasil, ou na Europa em que a cada momento, ou pelo menos a cada dia há uma cotação com cambio flutuante. Aqui simplesmente alguém estabelece uma cotação e pura e simplesmente todos a adotam. Como disse, atualmente esta em 95, mas verifiquei que no inicio do ano estava a 93 AKZ, 

Uma terceira peculiaridade cambial. 

Em todos os locais em que se há cambio ( negro? ) sempre acontece um spread alem do ‘agio propriamente dito. Assim, no Brasil, por exemplo, apesar de toda a publicidade sobre a pujança econômica ( a meu véu não e tanta assim, mas enfim ) o cambio comercial e da ordem de RS$ 1,70. Entretanto, o cambio turismo, também usado pelos cambistas e na faixa de 1,90. Mesmo assim, há uma diferença bem significativa, alias, entre a cotação de compra e a de venda ( as vezes superior a 10 centavos ). Já aqui em Angola isso não acontece. A cotação usada no dia a dia e a mesma para se adquirir quanto para se vender os dólares.

Num único local aqui verifiquei que não aceitam dólares. Foi no supermercado ( va la saber-se o motivo ). Claro que bem em frente a loja, alem dos vendedores ambulantes de frutas e hortaliças ( concorrentes da loja :) ) ficam umas mulheres gordas ( porque será que nesta atividade so tem mulheres e. . . gordas ? ) se oferecendo para comprar os dólares. E incrível a quantidade de dinheiro que elas guardam numas bolsas imundas. 

Não há como deixar de pensar que no Brasil os ladrões fariam a festa.

Acontece aqui um outro fenômeno. Eu que no Brasil, raramente ando com dinheiro vivo. No Maximo porto com uns 50 reais na carteira ( La chamamos dinheiro do ladrão, pois estes ficam furiosos se ao assaltarem a vitima não tem dinheiro nenhum ) e, quando, por vezes, tenho que pegar no banco o equivalente a meros 500 dolares por exemplo, fico preocupado com medo de ser assaltado. Já aqui, somos obrigados a andar sempre com muito dinheiro vivo, e aos poucos achamos natural isso.

Para que tenham uma idéia da quantidade de dinheiro com que se tem que circular por aqui, basta dizer-vos que aqui ninguém usa cheque ( ainda não vi nenhum ). Alias, nas contas bancarias, pelo menos em dólar ( os bancos aceitam contas a ordem em dólares ) ao emitir um cheque paga-se uma comissão de 1% sobre o valor mais uma taxa de 15 dolares ( devem estar ficando milionários. Mais ainda ) e os cartões são usados praticamente só para sacar dinheiro nos pouquissimos caixas eletrônicos existentes.

Claro que
Desde quando meus pais me colocaram para estudar em Portugal ( tinha na epoca 18 anos ) convivo com questões associadas a cambio duplo, pois era comum eles terem que comprar moeda portuguesa com ágio de uns 40% para me mandar dentro de cartas, etc. Lembrei-me agora que também era usual comprarem ( tb com ágio, claro ) bilhetes de loteria premiados para que eu os regatasse em Portugal.

Sinceramente, nunca entendi o que levava o governo português a uma política monetária tão idiota que fazia com que existissem não apenas duas moedas circulando dentro do pais ( uma para a Metrópole e outra para as colônias ), mas sim uma moeda diferente para cada colônia ( e ainda diziam que era um só pais, uma só nação. Balela ) Imagino que Portugal teria `a ‘epoca uma meia dúzia de moedas diferentes. Devia gerar uma confusão danada, confusão esta de que o genial Alves dos Reis se aproveitou para dar o golpe financeiro  mais fantástico que já se fez, no meu entender.

Já no período da independência o ágio chegou a 400% e era uma loucura as pessoas trocarem qualquer coisa por dólar, sem olhar o cambio, já que estavam deixando o pais e de nada valia a moeda local. Lembro-me que era comum comprar-se passagens para a África do Sul, que davam direito a adquirir 50 dolares ( se não me falha a memória ) e simplesmente nem viajar. Quem lucrava era a TAP.

Mais tarde, já no Brasil, nos tempos da inflação elevada, habitue-me a conviver com a duas moedas. A brasileira e o dólar, sendo que a moeda norte americana na verdade não circulava correntemente, servindo por um lado como uma mera referencia monetária ( p.e. os valores dos imóveis eram sempre referenciados ao dólar ) e quando muito, algumas pessoas investiam em dólar parte de suas economias, comprando a moeda em cambistas ( normalmente agencias de viagem ).

O ágio cambial era tão elevado que por vezes, em viagens internacionais em que se podia adquirir ao cambio oficial US$ 1,000.00, se não gastássemos era possível, ao regressar revender os dólares que sobravam no mercado negro e com isso pagar a passagem e ainda sobrar um troco.

Vem isto a propósito do uso de dólares aqui em Angola.

Não ao se trata de simples moeda de referencia, ou mesmo de investimento em contas especiais. O dólar circula mesmo entra a população no dia a dia.

Há, entretanto algumas peculiaridades interessantes.

Praticamente, só circulam notas de 100 dolares,  quando muito, algumas de 50. Ainda não vi uma única nota de 10 ou de 20 dolares.  Devem estar perguntando: E como fazem o troco num restaurante, por exemplo, em que se paga a conta em dólares? Simplesmente o troco e recebido em Kuanzas.


Há aqui então uma segunda peculiaridade que me deixa perplexo. Há um cambio fixo que atualmente esta em 95 kuanzas /dólar. Não e como no Brasil, ou na Europa em que a cada momento, ou pelo menos a cada dia há uma cotação com cambio flutuante. Aqui simplesmente alguém estabelece uma cotação e pura e simplesmente todos a adotam. Como disse, atualmente esta em 95, mas verifiquei que no inicio do ano estava a 93 AKZ,

Uma terceira peculiaridade cambial.

Em todos os locais em que se há cambio ( negro? ) sempre acontece um spread alem do ‘agio propriamente dito. Assim, no Brasil, por exemplo, apesar de toda a publicidade sobre a pujança econômica ( a meu véu não e tanta assim, mas enfim ) o cambio comercial e da ordem de RS$ 1,70. Entretanto, o cambio turismo, também usado pelos cambistas e na faixa de 1,90. Mesmo assim, há uma diferença bem significativa, alias, entre a cotação de compra e a de venda ( as vezes superior a 10 centavos ). Já aqui em Angola isso não acontece. A cotação usada no dia a dia e a mesma para se adquirir quanto para se vender os dólares.

Num único local aqui verifiquei que não aceitam dólares. Foi no supermercado ( va  la saber-se o motivo ). Claro que bem em frente a loja, alem dos vendedores ambulantes de frutas e hortaliças ( concorrentes da loja :) ) ficam umas mulheres gordas ( porque será que nesta atividade so tem mulheres e. . . gordas ? ) se oferecendo para comprar os dólares. E incrível a quantidade de dinheiro que elas guardam numas bolsas imundas.

Não há como deixar de pensar que no Brasil os ladrões fariam a festa.

Acontece aqui um outro fenômeno. Eu que no Brasil, raramente ando com dinheiro vivo. No Maximo porto com uns 50 reais na carteira ( La chamamos dinheiro do ladrão, pois estes ficam furiosos se ao assaltarem a vitima não tem dinheiro nenhum ) e, quando, por vezes, tenho que pegar no banco o equivalente a meros 500 dolares por exemplo, fico preocupado com medo de ser assaltado. Já aqui, somos obrigados a andar sempre com muito dinheiro vivo, e aos poucos achamos natural isso.

Para que tenham uma idéia da quantidade de dinheiro com que se tem que circular por aqui, basta dizer-vos que aqui ninguém usa cheque ( ainda não vi nenhum ). Alias, nas contas bancarias, pelo menos em dólar ( os bancos aceitam contas a ordem em dólares ) ao emitir um cheque paga-se uma comissão de 1% sobre o valor  mais uma taxa de 15 dolares ( devem estar ficando milionários. Mais ainda ) e os cartões são usados praticamente só para sacar  dinheiro nos pouquissimos caixas eletrônicos existentes.

Claro que como economista não posso deixar de pensar no “ imposto”  que os angolanos pagam aos USA para usarem  tal quantidade de simples papel impresso que, supostamente, vale bilhões de dólares. Na contramão o quanto os norte americanos ( provavelmente nem tanto o povo ) usufrui disso. E que, obrigatoriamente, para que este papel circule nas mãos dos angolanos, nos bancos, etc. Angola teve que exportar algum tipo de riqueza ( petróleo, PE.e ), ou quem sabe, teve que contrair empréstimos que cobram juros. Isto e tão mais surreal quando se sabe que tal papel atualmente não possui nenhum lastro e simplesmente o tesouro americano emite trilhões e vida que segue.

Achei que pelo relacionamento com Portugal, ou com a Europa como um todo, se veria por aqui, também euros em circulação, mas não. Há apenas dólares. ( notas de 100 ).

Um abraço

Fernando Quelhas


Pensar e Falar Angola

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