terça-feira, 9 de novembro de 2010

apontamentos de F. Quelhas (6)



Este site que indico acima e um site de imobiliaria, especilalizada na locacao e venda de imoveis ( o que mais poderira ser ? J ). Se derem uma olhada em alguns anúncios ( tem varias paginas. Podem observar que anunciam apartamentos T2, ou T3 por ate 8.000 dolares/mês. Por sua vez para se comprar um simples apartamento t3 tem que se dispor de quantias na faixa de milhão de dólares, ou quase.

Para os amigos do Brasil, não familiarizados com a terminologisa T2, T3, etc, creio que significa o numero de cômodos que o imóvel dispõe. Ainda não consegui descobrir se na contasgem de cômodos se considera apenas os quartos, ou se também as salas. Vou mais pela primeira hipótese. Assim, um T2 seria um sala e dois quartos,, etc.

Vocês poderiam estar pensando que para explicar preços tão elevados para os imóveis, provavelmente teríamos que colocar que os os custos de construção sejam também elevadíssimos.

Nada disso. O preço de um saco de cimento custa pouco mais de 1.000 Kzs, ou seja, pouco mais de 10 dolares, o que significa que e apenas uns 10 a 20% mais caro que no Rio de Janeiro. Já a Mao de obra não especializada, ou semi-especializada , tipo pedreiros, auxiliares  (  aos amigos do Brasil, o nome que em Portugal se da a auxiliares de pedreiro e trolha. Aos amigos portugueses: Trolha no Brasil ‘e sinônimo de órgão sexual masculino lollll. ) e bastante barata, ao tempo que todos os materiais de acabamento etx. São importados e não devem ser muito mais caros que nos países de origem, já que La ao serem exportados ficam isentos dos impostos locais, ao tempo em que aqui os impostos aduaneiros são baixos.

Restaria então, na perpectiva de custos, dois fatores  para justificar os altos preços: o eventual custo da Mao de obra especializada, o tal do mestre de obras e o custo do terreno. Mas será que so isto justifica?

Creio que não. O que deve estar acontecendo e, por um lado o efeito da escassez de imóveis para atender a demanda das empresas que para Ca vieram ( como e o nosso caso ), e por outro lado, os lucros exorbitantes das construtoras, na sua maioria ( senão nma totalidade ) estrangeiras. Puro e simples capitalismo selvagem.

De qualquer forma, não creio que esta situação perdure por muito tempo. Algumas pessoas mais atinadas ( alo Pedro ) já estao descobrindo que sai muito mais em conta comprar um terreno e construir o seu imóvel por administração direta do que adquirir.

Ia-me esquecendo: Tal como aconteceu em Portugal nos idos do J. Pimenta e outros, ou no Brasil com a Encol, começa a ser perigosíssimo adquirir aaqui imóveis a serem construídos ou semi-construidos. Corre-se o serio risco de ficar com um esqueleto e não saber o que fazer para terminar a obra, pois a tal construtora, ou incorporadora, fica com a grana e simplesmente se manda.

Disto tudo ficou-me uma curiosidade e algumas constatações:

Afinal. De que forma as pessoass, digamos de classe media conseguem fazer face a custos tão elevados de moradia. A resposta e simples: Não fazem.

- Existem aqui então dois tipos de usuários: Por um lado o pessoal das empresas estrangeiras que pagam mesmo os tais 8.000 dolares por mês por uma casa bem menor que a minha de Petrópolis que estava alugada por 600 dolares e que estou vendendo por 150.000. E que para uma empresa, os tais 8.000/mês significam meros 266/mês. Ora isso e pouco mais que uma diária de Hotel. Eis então que em termos de custo comparativo e bom negocio alugar mesmo que seja, aparentemente, caro.

Os outros locadores seriam os angolanos, ou residentes permanente aqui. Para estes existem duas situações: Ou ainda moram em imóveis que alugaram nos tempos em que os preços eram mais módicos. Estes atualmente devem estar vivendo num conflito permanente com os senhorios que, provavelmente, querem coloca-los para fora para poder alugar o imóvel mais caro;  Ou são indivíduos proprietários dos imóveis e que vivem em casa própria, digamos assim.

Acontece que neste ultimo caso, raros são os casos em que o tal proprietário comprou efetivamente o imóvel. Na sua grande maioria erm imóveis que pertenciam aos portugueses e foram abandonados. Obviamente, se foram abaandonados, nada mais natural que tenham sido ocupados e que depois de dezenas de anos sejam considerados próprios, nem que seja pelo uso de mecanismos jurídicos do tipo usucapião.

No todo, acho que demorara algum tempo a que este mercado se normalize, pelo menos ate que a oferta de imóveis supere a demanda ( acredito que isto acontecera rapidamente ) e quando o boom econômico que esta acontecendo se modere um pouco.


Neste entretanto, acredito que esteja acontecendo um fenômeno social grave. A dificuldade para se criar, ou pelo menos se manter a chamada classe media. Nitidamente, se observa, seja nos restaursantes, nos carros, etc. que a população local que poderia ser entendida como classe media esta um pouco( ou totalmente ). Excluída.

Imaginem um casal de jovens que esteja iniciando a vida e se casem querendo morar num imóvel so seu ( afinal, como dizia minha mãe, que adorava um ditado popular: , quem casa quer casa ). Duvido que consigam ter rendimentos suficientes para que possam pagar 3 ou 4 mil dólares num simples apartamento. Estarão condenados a morar de forma duradoura com os pais.

Acredito que nas cidades do interior esta situação não seja tão drástica.

Apesar disto tudo, não estou pessimista.


Quando começo a ficar pessimista imediatamente me deparo com episódios que me fazem ter esperanças quanto a angola. Refiro-me ao seu maior patrimônio que não e, como muitos, afoitamente acham, o petróleo ou os diamantes, mas sim a sua população.

Vou dar-lhes dois simples exemplos de duas pessoas que trabalham aqui na empresa.

Temos aqui uma senhora de uns 30paara 40 anos que trabalha em serviços auxiliares domésticos arrumando a casa, lavando roupa, etc. digamos, uma diarista.

No inicio da semana, ela pediu-me se poderia tirar umas xeroxs. Autorizei, mas achei estranho ao observar que se tratava de um caderno com manuscritos e não contive a curiosidade, perguntando-lhe para que era tal material.

Para minha surpresa, revelou-me que se tratava de uma monografia de direito com dissertações sobre normas jurídicas, atos jurídicos, etc e que ao tempo em trabalhava conosco como diarista a noite estava estudando direito. Mais tarde, veio pedir-me ajuda para a elaboracao de uma proposta de serviços destinada a uma licitação que o governo de Luanda estava fazendo para coleta de lixo e varredura de ruas, pelo que estaria querendo participar através de uma cooperativa ou algo do gênero.

Um outro caso aconteceu com meu motorista. E uma figura interessante. Terá sido um menor abandonado sem maiores conhecimentos acadêmicos mas havido por aprender e ao tempo em que tem alguma dificuldade na ortografia, domina facilmente programas de Word, excell, internet, etc. algo que não se vê no Brasil, com facilidade para este tipo de funcionário. E de uma inteligência extrema e uma capacidade de resolver problemas num permanente estado de espírito positivo e alegre.

Quando necessitamos alugar uma viatura para substituir a que se acidentou, em menos de 10 minutos já tinha tudo resolvido.

Quando lhe perguntei como conseguira ser tão eficiente, respondeu-me que ao mesmo tempo que trabalha conosco como motorista e agenciador de carros para locação. Ele e um sócio reúnem angolanos que possuem carros tipo Suv’s ou Pick ups e asd colocam a disposição para locação. Quando surge a demanda ficam alguns dias sem os carros, se virando como podem, mas faturando uns 150 a 200 dolares por dia. O meu motorista, claro, ganha a sua comissão.

Também estranhei o tipo de roupa que ele usa, bem moderna e de bom corte, No muito usual por aqui. Fiquei então sabendo que em finais de semana mais longos pega o avião e viaja para a Namíbia ou para o Congo para comprar roupas que revende por Ca. Segundo ele, investe uns 2.000 dolares por viagem e fatura 4.000. Nada mau.

Teria outros exemplos inclusive de colaboradores “ ad hoc”  que agenciam desde compra de carros ate contratação de seguros, monitores de GPS para carros, ajudas com a burocracia, etc.

Como vem, pode ser que estas amostras não sejam representativas. Claro que não são, mas ou se trata de uma coincidência invulgar, ou representam a constatação de que os angolanos não são acomodados. Longe disso. Almejam futuro melhor e já descobriram que a única solução passa pela educação.

Isto me deixa bem otimista.
Fernando Quelhas


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