quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Resposta de Joffre Justino ao Dr. Edmundo Rocha - Opinião

Comecemos então por analisar o texto do “Meu Amigo”.

O que afirmei e repito aqui, é que a exploração dos Angolanos, que no meu primeiro texto realcei, como segue, e cito, “Houve exploração colonial em Angola? Sem dúvida”, teve, à excepção do período do esclavagismo, uma característica estritamente mais civilizada que a exploração neocolonial hoje existente, neste processo de Mexicanização de Angola que hoje vivemos, já não pensando no período da guerra civil.,

Não posso deixar de acentuar tal, depois de 35 anos de Independência, de 27 anos de guerra civil estritamente entre Angolanos e as superpotências de então, da destruição total do tecido económico e social perpetrado pela ocupação, militar, russo-países de leste – cubana, e, devo acrescentar claro, de 27 anos de apoio, militar, sul africano e 25 americano, à UNITA, mas também, e sobretudo no caso, de 7 anos de Paz militar, em Angola.

Neste doloroso percurso Angolano, que eu conheci bastante bem, depois da Independência, depois de 1987, do lado da UNITA, (mas que também aconteceu do lado do MPLA), gerador de significativos desastres humanos, mas também, ambientais, provocados pela tipologia de armamentos utilizados, como sanitários, como sociais e económicos, com os êxodos populacionais, as deslocações quer no interior do país quer para o exterior, a agravarem toda a situação. Assim, o conceito de civilização perdeu completamente o significado que tem hoje na Europa.

Posso até relacionar tal facto com uma historia, vivida por mim, se não me engano em 1997, na zona do Bailundo/Andulo,

No percurso de uma larga viagem parei numa pequena e antiga vila colonial, totalmente destruída para visitar um mais que original mercado, exemplo vivo do que devem ter sido os mercados de tempos bem, mas mesmo bem, antigos – de um lado, a norte, estavam as senhoras do MPLA, tendo por detrás, forças militares, armadas, também do MPLA, do outro, a sul, estavam as senhoras da UNITA, tendo também por detrás as forças militares da UNITA, ambas em posição de protecção destas senhoras. As primeiras, traziam os produtos “urbanos”, importados, latas de coca cola, de cerveja, garrafas de vinho, roupas, etc, enquanto que as segundas tinham levado para este mercado os produtos “rurais”, farinhas várias, carnes secas, animais vivos, legumes, produtos agrícolas vários.

O processo de troca era por vezes em lógica de troca directa e em outras vezes com a utilização de moeda, o dólar.

Enfim, estávamos a assistir a um evidente retrocesso civilizacional, em face do vivido nos tempos coloniais, onde a troca era, a maior parte das vezes, já baseada na economia monetária, no comércio, ainda que existissem áreas onde tal não sucedia e, em geral, onde o negócio era em geral, desenvolvido em desvantagem para o mais fraco, o autóctone Angolano.

Mas, basta olhar para as estatísticas oficiais, da evolução das cabeças de gado entre 1950 e 1970 para constatarmos da crescentemente significativa entrada da economia angolana nas lógicas da economia de mercado, com a contabilização, tipo 1 para 50 do crescimento dos vários tipos de cabeças de gado.

E comparar com as estatísticas oficiais de hoje do mesmo tipo de gado…

Havia exploração? Sem dúvida, mas assistimos, entre a década de 50 e os anos 74 à entrada na economia formal, de agricultores, de comerciantes, de empresários até, autóctones. Facto que conviveu, e bem, com a Luta pela Independência, da UPA/FNLA, do MPLA, da UNITA e também das outras Resistências, como a FUA, e as dos Republicanos, urbanos e rurais, por exemplo…

O que vivemos entre 1975 e 2002? À destruição total deste tecido económico e social.

O que vivemos entre 2002 e hoje? A um lento recrudescer da reentrada das comunidades locais não urbanas na economia quase formal que hoje temos em Angola.

No entanto, relevo o escrito no texto anterior – cerca de 1/3 da população angolana vive com menos de 1 dólar por dia.

Os outros dois terços, acentuo, não auferem em média mais que 10 dólares por dia.

Esta economia enquadra claro, uma cidade, Luanda, que aparece, relevo, como sendo uma das cidades mais caras do Mundo, em tudo.

Onde uma imensíssima minoria vive largamente acima dos níveis médios europeus, o que só reflecte a ideia que faço de Mexicanização da economia Angolana.

É feio este relato? É sim.

Mas é verdadeiro, infelizmente.

Ao que devemos acrescer que, tirando uma minoria na UNITA, uma parte dos seus dirigentes, temos a larguíssima de membros da UNITA a viver em condições deploráveis.

Mais um reflexo desta ideia de Mexicanização…

Este “Meu Amigo”, muito especial amigo e que muito respeito, pela sua usual liberdade de pensamento, e pela sua Tolerância conhecida, lamento, não conhece a realidade em Angola, na Angola de hoje.

Joffre Justino


Estes textos têm-me chegado por e-mail pelo que a responsabilidade dos editar aqui é apenas minha, uma veza que se inserem, penso, no Falar e Pensar Angola.

Pensar e Falar Angola

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