segunda-feira, 30 de junho de 2008

Ecos da Firmeza




Há um mês estava num almoço de um camba que fazia mais um cacimbo.

Daqueles almoços que viram jantar à boa maneira angolana, cheio de gente e espalhados por muitas mesas. Foi nas instalações do Sporting de Luanda, ali no Bº dos Coqueiros.

Come-se muito, xupa-se melhor e acima de tudo fala-se bué. As conversas versam sobre tudo, do futebol às políticas.
A meio da tarde, sentei-me numa mesa onde uns jovens falavam entusiasmados pelo facto de Obama ter ganho a corrida à Sra. Clinton.

Fiquei calado a escutar as teorias que eles desenvolviam sobre o tema. Era evidente que o entusiasmo deles se devia ao facto de ele ser afro-americano. E não pelo conhecimento das ideias do senador Obama, nem pelo facto de ser candidato pelos democratas, pois se fosse pelos republicanos acho que para eles seria igual.

Nesse grupo o mais velho era eu, e o único branco. Depois de encher o copo com mais uma dose da melhor bebida do mundo, aproveitando até o gelo que ainda restava nele, meti-me na conversa da juventude.

E como a idade ainda vai sendo um posto por aqui, todos escutaram o que eu disse.

Então vamos ter um presidente negro nos states, perguntei. Eles disseram logo que sim, não tinham dúvidas.
Voltei à carga, e perguntei se achavam que a sociedade americana estava pronta para aceitar um presidente vindo de um minoria étnica, pois os afro-americanos é isso que são nos states. A resposta foi a mesma, o Obama já ganhou sim, porque a sociedade americana estava pronta para esse facto.

Muito bem jovens, disse eu. E resolvi abanar-lhes a cabeça. Se os americanos estão prontos para aceitar que um representante da minoria negra pode ser presidente dos states, quando estaremos nós em Angola preparados para um branco ser presidente de Angola?

Ficaram a olhar para mim, e vi que ficaram surpreendidos com a pergunta. Houve um que começou a gaguejar.
Bem, ó kota...quer dizer, não sei, mas pode ser. Eu apenas fiquei calado a olhar para eles, como que a dar-lhes tempo para me responderem.

Levantei-me e disse não há maka juventude. Um dia vocês respondem-me. E fui cirandar para outras mesas e para outras conversas.

A mim pessoalmente tanto me dá que o próximo presidente dos EUA seja mulato ou azulado.
Dali não costuma sair nada de bom para o resto do mundo.

Mas o facto de haver a possibilidade de Obama vir a ser o próximo presidente dos States, está a provocar um entusiasmo que é evidente em toda a África.

Terá a mesma correspondência na Europa se um branco um dia tiver nessa situação num país africano?

Não sei bem. Mas acho que sim.
O que só provará que o mundo ainda é muito a preto e branco, e que as questões raciais ainda são barreiras mentais muito longe de serem ultrapassadas.

Por vezes penso que os mestiços Tigger Woods e o miúdo Hamilton da Formula 1, as manas negras Venus e Serena no Ténis, o esguio cestinha Michael Jordan e outros afros ajudam a que se desmistifique o que alguns boçais racistas tentam passar sobre as capacidades reais dos não brancos.

Mas também tenho que reconhecer que este jovem Obama vai ser mesmo mais uma pedrada (pedregulho) no charco, se de facto chegar à Casa Branca.

E vai ser uma "facada" para os boçais racistas...de todas as cores. Pois se ele pode ser presidente nos states, nas restantes sociedades multirraciais também representantes das minorias lá podem chegar.

Ainda me lembro do livro que li ainda garoto em que um negro chega a presidente interino dos Estados Unidos, penso que do Irving Wallace se a memória não me atraiçoa, e agora passados quase 40 anos a ficção do escritor parece que vai virar realidade. A nação mais poderosa do planeta ser governado por um mestiço, ou negro, ou afro-americano ou lá o que chamam ao Obama.

Kandandus
Jotta
Luanda-Angola


Republicação de texto autorizado pelo autor.
Publicado originalmente em Sanzalangola (Fórum Pago) .

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