sexta-feira, 27 de junho de 2008

A CRIANÇA AFRICANA , em nós ...

Pensar e Falar Angola

A propósito das belas fotos das nossas crianças , da CRIANÇA Africana que em nós vive , quero aqui oferecer em sopa de letras algumas das esculturas vivas em nós , realidades que nos envolvem no dia a dia profundo ...



A CRIANÇA AFRICANA

Na imensidão do só no horizonte
Descalço na terra a vida é bela
Bate à porta e entra na rua
Menino que joga com bola de pano

Goleiro pra cá goleiro pra lá
Metade de uns metade de outros
Juiz não mas Pelé e Schillaci há
Bola voando à baliza chutada
Grito de gol : pelééé ... Marcou !!!
Volta ao centro o astro contente .

Sorriso de menino , diz o caminho
Mostra a estrada da rua perdida
Diz o destino da Eva no tempo
Aponta teu dedo ao sol , que diz ?

Seja eu de si pequeno
Imagem de um sol maior
Na rua de ti mostrada !

E os tambores da noite ecoam
Nas vozes do vento a vibrar
Dizendo de ti menino do mundo
Dizendo no olhar o que lhe vai
Na alma de seu calmo ardor
Nos espaços dos tempos
De seu sofrer sem pão e "Con/dor"

Dizei montes o que vedes do céu
Da flor criança em jardim de jasmins
Falai ser alado que voas alto
Da imensidão do só nas alturas

Falai criança , o que dizes ?

"As pernas grandes dos homens
Gostam de assustar meninos
Fazem guerras e não se olham
E não sabem escutar o vento
Nos castelos areados à beira-mar

Só quero brincar na terra
De deuses adultos crescidos
Com alma no sorriso do olhar
Só quero rosas , espinhos para quê ?
Só quero a paz dos humanos brincar " .

Sei criança o que dizes ?
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OLHAR DE MENINO CONTENTE

Menino lindo de olhos grandes
Na fome de teu corpo pequeno
Vestido de lama e nariz escorrendo
Das lágrimas que sempre choras
Sozinho em grupos nas estradas
Do tempo ao sol de onde moras ..

Quando passo à tua porta
E te vejo e tu me olhas
Grande e diferente passando
E me pedes com gestos e brilhos
No rosto de teu espelho
Um pedaço de carinho de pão ..

Vivo tua alma menina em mim
Nesse mar em que clamas
Aconchego-te ao colo e mergulho
Nas águas quentes do Atlântico imenso ..

Visto teu corpo de linho
Sirvo mel e leite em tigela
E te deito em meu leito

Amanhã quando acordares
Ao som do cantar das aves
Estarei solícito a teu lado
Acariciando-te com meu olhar ..

Vais depois brincar as nascentes
Em barquinhos de casca de árvores
E querer segurar os peixes a fugirem
Irás correndo atrás do gado
Assustando-os com teu grito manso
E colher as flores do campo ..

Juntos depois tiramos o leite
Da vaca no curral atrás da casa
E quando pronto a pão quente
Sentados à fogueira da cozinha
Saciamo-nos da fome e sede ...

Seguindo vou contigo
Levo-te em minha mente

E quando eu renascer (*)

Levarei comigo criança
A lembrança de teu amor
O brilho de teu olhar
O riso de tuas lágrimas
O afago de teus dedos
O gato de teu brincar
O mar de teu mergulhar
O rio de teu nadar
A alvura de tua alma ...

Leva-me contigo também .


(*) morrer , transformar
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BRILHOS INOCENTES

Importa o choro da criança triste
Ou o riso da alegria contente ?

Qual o humano que não quer
Um pedaço de carinho do céu
A ilusão de uma fatia de sorriso ?

Á porta da minha rua
Inconsciente da chuva
Quando bates as palmas
Dou-te um sorriso de mim
Na rua da minha porta

Sacia alegre do mundo
Um pão de trigo dourado
Leva conchas em tua mão
Brinca na areia da praia
Ao sol da tarde iluminada

E quando fores leva de mim
Os momentos em que sorriste
Os risos que alegraram castelos
Montando cavalos de vento
De rédeas na tua inocência .
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ROSA NEGRA DE ESPINHOS

Noite de frio e chuva na cidade
O céu de estrelas vazio e escuro
Felino feria gente de pouca idade
Rosa negra com espinhos

Duas crianças caminham
Em rua suja e molhada
Inseguros passos vagueiam
Corpos pequenos e magros
Vestindo fardos esburacados

Meninos de olhos tristes
À porta dos bares param
Corpos fincados em riste
Buscam ...... Em seu olhar
Lamentos não escutados

Em cauteloso andar
Sem rumo e sem tino
Seguindo seu caminho
Sem vinténs e sem destino

À porta de uma pensão
Param e vão procurar
Pedaços de cartão
Amaciando a soleira
E adormecem .

O povo nos bares
Afoga a verdade .
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( Valdemar Ribeiro)

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Dr. Agostinho Neto