domingo, 15 de junho de 2008

(18) Ágora - INTERDIT D’INTERDIRE(Proibido proibir)





Paris, Maio 1968 (I)




Olhando a uma distancia de quarenta anos, é minha convicção que 1968 foi provavelmente o ano mais decisivo do século XX!

Foi o ano marcado pela contestação e pelo radicalismo, em que nada a partir daí ficou como dantes, e veja-se a título de exemplo uma estultice de Sarkosy, que diz alto e bom som que é preciso acabar com o que o Maio de 1968 trouxe à França, embora a sua recente ligação com a modelo Carla Bruni prove que o que ele disse se ficou pelas palavras.

1968 marca o início da contestação de rua à guerra do Vietname, o recrudescimento das actividades do Black Power e as consequentes irrupções de violência racial nos EUA, onde são assassinados Luther King e Bob Kennedy, inusitadas manifestações estudantis na Alemanha lideradas por Rudi Dutschke e a surpresa da crescente importância da Internacional Situacionista de Guy Debord, na França, foram alguns factores que surgiram num quadro muito generalizado de apelo à mudança, em que o ênfase maior é sem dúvida o Maio em Paris.

Num leste europeu, aparentemente “imune” a estas movimentações da “esquerda folcolórica” assiste-se no Abril, em Praga, o primeiro movimento tendente a reformar o regime socialista por dentro, no que vulgarmente ficou conhecido pela “Revolução de Veludo”. Dubcek tenta promover algumas alterações na Tchecoslováquia, no domínio das liberdades individuais. O movimento que ficou conhecido pela “Primavera de Praga”, foi reprimido em Agosto pelo exército soviético, o que trouxe clivagens profundas no movimento comunista internacional, admitindo-se mesmo que terá este incidente marcado o princípio do fim do leste europeu, enquanto espaço geopolítico.No Vietname, em 1968 começou a ofensiva de Tet, decisiva na reviravolta na guerra, epílogo do domínio europeu e americano no sueste asiático. Richard Nixon, é empossado como presidente dos EUA, mantendo-se até que Watergate o obrigue a demitir-se passando por um vexame sem precedentes na história dos Estados Unidos.Voltando a Paris, onde em 1789 eclodiu a rebelião que consagra os pilares fundamentais dos direitos do homem e do cidadão como “Igualdade, Liberdade, e Fraternidade” e vitória da primeira revolução burguesa na Europa. A Revolução Francesa é também o triunfo do iluminismo, enquanto filosofia, consagrada politicamente na “Magna Carta”saída da independência dos EUA em 1776.Foi nessa mesma cidade que num outro Maio, mas em 1871, os trabalhadores tomaram o poder, no que se chamou a “Comuna de Paris”, que soçobrou às armas de MacMahon que chacinou 30.000 pessoas.Paris é também a cidade emblemática na resistência ao ocupante nazi no dealbar dos anos 40 do século passado.




Fernando Pereira

Pensar e Falar Angola

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