domingo, 19 de dezembro de 2010

147 - Ágora -Os Inadaptados"





Um dos filmes malditos da história do cinema, é “Os Inadaptados” (The Misfits) concluído precisamente em meados de Outubro, há cinquenta anos.


Argumento de Arthur Miller, divorciado de Marilyn Monroe no início das filmagens, disse numa entrevista: "Um homem é uma casa com 14 divisões - no quarto está a dormir com a sua mulher inteligente, na sala está enrolado com uma miúda de rabo ao léu, no escritório está a preencher o imposto, no quintal está a plantar tomates e na cave está a fazer uma bomba para rebentar com tudo." Segundo se alvitrou ao tempo, Miller escreveu “Os Inadaptados” exactamente para Marilyn, pois todas as suas obras tem características diferentes.



Filme de John Houston, rodado com incidências difíceis em Black Rock, marcado pela premonição da tragédia. Clark Gable, com 59 anos, morre de enfarte quinze dias depois de terem finalizado as filmagens, Marilyn Monroe suicida-se seis meses depois, e Montgomery Clift entra num processo de degradação, aliando o álcool à depressão, não filmando mais até 1966, ano em que falece precocemente aos quarenta e seis anos.



“Os Inadaptados”, foi o último filme de três actores marcantes de uma América, que tentava mobilizar-se em torno de um Kennedy, que prometia uma lufada de ar novo aos EUA, e um desafio importante ao colonialismo ainda remanescente em África. 



Na semana transacta, estive determinado a tecer algumas considerações sobre a forma perfeitamente desbragada, como o general Ngongo foi demitido das suas funções de ministro do Interior. Não o fiz porque gostava de ver o desenvolvimento .



Não tenho relações pessoais, familiares ou profissionais com o general Roberto Leal Monteiro, e o que teremos em comum, será termos frequentado a Republica do “Kimbo dos Sobas” em Coimbra, em períodos diferentes. Andámos também no Liceu Salvador Correia, tendo eu entrado para o 1º ano, quando ele estava prestes a sair para a Universidade. Conhecemo-nos pessoalmente, mas raras vezes nos encontramos, e só faço este tipo de apreciação porque o “Nini”, não merecia este tratamento, demasiado parecido com autos de fé, afixados publicamente na Idade Média, quando Torquemada era o inquisidor geral de Castela e Aragão.



O general Ngongo, terá cometido um erro de capital gravidade, admito-o, mas nada justifica que o seu passado de brilhante de cidadão, nacionalista, militar, dirigente associativo, diplomata ou ministro, seja tratado da forma soes como foi, pois faltou ética e solidariedade, indispensável num quadro institucional.



Numa Angola onde há tanto secretismo no que concerne ao poder, que alimenta muitas especulações, esta atitude tem pouco de transparente, e não parece ser um precedente para rigorosamente nada. É apenas e só, um processo mal conduzido, e espero que as sequelas não atinjam o general “Ngongo” na sua dignidade e na sua entrega à causa de Angola, que começou nos anos sessenta em Coimbra, donde saiu clandestinamente para se juntar ao MPLA na luta contra o colonialismo.



Não serve por aí além, para reparar esta forma tão mesquinha, como foi a sua demissão, mas ainda recentemente surgiram mais uns livros sobre a “Crise Académica de 1969” em Coimbra, e quem aparece sempre na primeira linha da luta dos estudantes é o “Nini” do Kimbo, onde viveu tanta gente que deu a vida pela Angola independente, alguns já não presentes entre nós.



Não tem nada a ver, mas apetece-me contar esta história de um jovem professor de Direito Colonial de Coimbra, que Salazar convida para o governo, nos anos sessenta. O Prof. Dr. José Julio Almeida e Costa vai tomar posse de Ministro da Justiça, no palácio de Belém, na presença do Tomás e Salazar. Este, aproxima-se do José Julio, cumprimentando-o diz-lhe: “Felicidades meu jovem, mas é curioso, só hoje tomou posse como ministro e já traz uns sapatos verniz novos”!!!


Talvez tenha a ver, não tanto pelo conteúdo mas pela forma, e por isso recomendo a leitura da biografia de Armindo Monteiro feita por Pedro Aires de Oliveira para a Bertrand em 2000, dignitário de vários cargos superiores no salazarismo, entre os quais o de Ministro das Colónias, e publicamente demitido por Salazar, do lugar de embaixador em Londres, durante a 2ª guerra por desinteligências entre os dois, o primeiro anglófono e o segundo claramente germanófilo.

Fernando Pereira

12/10/10



Pensar e Falar Angola

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