O projecto cénico “Cena Livres” apresenta nos dias 24, em São Vicente, e 26, na Cidade da Praia, a peça teatral “A Vítima”, o primeiro da história feito por uma actriz angolana, no âmbito da programação do Festival Internacional de Teatro de Mindelo (Mindelact 2010).
O encenador e responsável do projecto, Walter Cristóvão, disse ao Jornal de Angola que após a estreia, na noite de sábado 20 de Fevereiro, no Auditório Njinga Mbandi, o monólogo será levado ao palco do Mindelact, um festival de teatro de grande referência nos países da comunidade de língua portuguesa.
Segundo Walter Cristóvão, o monólogo “A Vítima” narra a história de Juci, personagem de Marlene Zaide, uma jovem de 25 anos, proveniente de uma família humilde, mas que venceu na vida à custa de relações interesseiras com homens bem posicionados social e financeiramente.
Conta o encenador que a jovem, de uma beleza admirada por homens e mulheres, nunca deu ouvidos aos conselhos dos pais, que vezes infinita alertaram sobre os riscos que corria pelos caminhos e amizades que cruzavam a sua vida. Jucí ignorou a sua mãe e foi a causa da morte da mesma. O pai, que nos últimos tempos, antes de a expulsar de casa, usava palavrões para melhor mostrar em quem a filha se tinha transformado, optou em alertar toda a gente que já não tinha uma filha com este nome.
Agora vivendo sozinha, adianta Walter Cristóvão, as custas de alguns ganhos obtidos em troca de relações promíscuas, acaba por cair na armadilha que a mesma montou. E porque quem semeia vento, colhe tempestade, Jucí é surpreendida por um grupo de jovens delinquentes que a violam a mando do cinquentão que humilhara. A fama espalha-se e Jucí vê o seu nome na lama e decide partir para a vingança. A tragédia instala-se.
“É uma peça que se socorre do projecto de vídeo e leva à plateia uma mão de emoção e novidades”, afirmou o encenador, afirmando que este espectáculo entra para a história, embora não haja registo de que alguma angolana tenha feito um espectáculo de presença em palco em mais de uma hora, mesmo antes da independência.
“Marlene Zaide aceitou o desafio e durante seis meses trabalhou de forma árdua, chegando mesmo a pedir dispensa na sua empresa e nalguns momentos sacrificando as aulas de relações internacionais da universidade Lusíada para emprestar o seu corpo a “Jucí”, personagem de elevada ousadia que certamente dividiria a plateia pela sua forma de ser e estar”, disse Walter Cristóvão.
A actriz e o encenador
Após a estreia, a 20 de Fevereiro, no Auditório Njinga Mbandi, ficou escrito nas páginas da história do teatro angolano que nessa data, uma actriz invadiu o palco e a intimidade do público, apaixonou corações e emocionou quem por si se encantou. Marlene Lumoni Zaide fez o curso de teatro, cinema e televisão durante seis meses no ano de 2005 com professores da escola brasileira BRAAPA. Seguidamente ingressou no projecto Walpipa onde, dos 100 actores iniciais, apenas ficariam 20 e teve o privilégio de estar entre os seleccionados. A sua projecção como actriz acontece quando veste a personagem de Rainha Njinga Mbandi, da peça “Njinga Mbandi-A História de uma Rainha”.
Em consequência disso recebe o convite para o papel principal da Mini Série “Stop SIDA”, da Produtora Walmires, e projecta o seu nome no mercado áudio visual, onde começa a fazer uma série de participações em filmes, mini séries e publicidades. Em 2009 ingressa numa das mais novas e promissoras Companhias de Teatro da capital, o Henrique Artes, dando continuidade aos seus trabalhos. Com a personificação de Jucí em “A Vítima”, Marlene tem sido alvo de muitos elogios e admiração.
Encenador do grupo “Miragens Teatro”, Walter Cristóvão está ligado às artes dramáticas desde muito cedo. Em 1998, três anos depois de ter criado o Miragens Teatro recebe o prémio revelação de Luanda. Com este grupo já conquistou vários troféus, com destaque para o Prémio Nacional de Cultura e Artes (o mais prestigiado galardão da cultura angolana), na categoria de teatro, e participou em vários festivais nacionais e internacionais. Este ano foi convidado pelo Ministério da Cultura a integrar o júri do Prémio Nacional de Cultura e Artes na disciplina de teatro.
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