Não sei se as pessoas se lembram de um placebo, dos anos sessenta, que se chamava Fósforo-ferrero, e que tinha concorrência de uma coisa idêntica chamada Fosfo-glutiron?
Ali pelo final de Março, era habitual na farmácia Maculusso, onde minha mãe foi farmacêutica muitos anos, aparecerem as mães dos alunos a comprarem a dose certa destes “medicamentos”, para tomarem duas vezes por dia até aos exames em Junho.
Resolviam o problema se os alunos estudassem, se tivessem boas cunhas, mas não resolvia aos que definitivamente não abriam os livros, ou o faziam para colocar lá dentro o “Major Alvega”, “o Seis Balas”, “o Colt”, ou outras maravilhas que a Agencia Portuguesa de Revistas do Mário Aguiar distribuía, por Portugal e Colónias. Não havia sobras destas revistas, porque a Cilinha Supico Pinto, do Movimento Nacional Feminino (chegaram a ser conhecidas assim as Renaults 4 L, pela sua característica “manette” de velocidade) arrebanhava tudo para os tropas lerem. Era no mínimo ridículo, pois 67% da tropa portuguesa nos três palcos de guerra, apenas sabia assinar o seu nome.
Esta introdução longa q.b., é um pouco para exigir que a memória regresse a Angola, rapidamente e esforçada, porque o que vamos vendo é o desaparecimento das lembraduras, dos que ainda estão vivos para deixar histórias, factos, documentos e vivencias para o futuro trabalhar no que foi a vida colectiva de um País, nos seus anos de debute no contexto interno e internacional.
Numa das recentes crónicas neste espaço, defendi que Norton de Matos, devia continuar no lugar onde está, com buraquinho de bala e tudo, por razões já aduzidas. Já defendo que Pedro Alexandrino da Cunha volte para a peanha que está em frente aos Correios na baixa, independentemente de ter sido a primeira estátua em África, paga na totalidade, pelo conjunto de comerciantes da cidade de Luanda, por subscrição pública para um homem que foi governador de Angola entre 1845-48. A respeito desse governante, escreve o mestre do ISCS/UTL Doutor Antonio da Silva Rego, em sua História do Império Português:"...homem verdadeiramente providencial para a ocasião. A sua energia e iniciativa não tiveram dificuldade em convencer os portugueses de Angola que era necessário procurar na agricultura, comércio e indústria legítimo substituto para os duvidosos proventos da escravatura."
Em 1889 erigia-se a estátua de Pedro Alexandrino da Cunha, uma obra simples, naturalmente sem os tiques neo-clássicos da estatuária do Estado Novo, que não difere muito das estátuas do modelo típico dos arquitectos do país do “Grande Líder”, profusamente distribuídas pelo nosso País. Desculpar-me-ão o devaneio humorístico, mas todas as estátuas da Luanda actuais, parecem a de um base de basquetebol a indicar a jogada aos seus colegas! Era bom que a repusessem no local, pois nada teve a ver com autoridades coloniais, e recebeu encómios da sociedade crioula da Luanda colonial, ainda sem as “Ritices” e “Actos Coloniais” a perpetrarem segregações, que se perpetuaram até Novembro de 1975.
É absolutamente necessário explicar aos vindouros, como se fez um País, sem atavios que procurem adornar realidades, que não seja aproximada da versão angolana de Lewis Carrol(1832-1898) de “Alice no País das Maravilhas”.
O poeta irlandês Seamus Heaney quando soube que tinha ganho o prémio Nobel da literatura (curiosamente, a Irlanda tem três prémios Nobel da literatura!) felicíssimo, ligou à mulher: “Querida, ganhei o Nobel! o Nobel!”, ao que ela responde: “Parabéns, já têm uma boa desculpa para te ires enfrascar com os teus amigos”. O pobre do Seamus, “mas querida é o Nobel…”, e ela imperturbável:” Pois, pois, a tua sorte é que a Academia Sueca não te conhece como eu te conheço!”
Não tem nada a ver com o artigo, mas esta história é verdadeira, e às vezes o que se escreve não é!
Fernando Pereira
1/8/2010
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