quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Uma Homenagem a um Angolano

O Cónego Manuel Joaquim Mendes das Neves
 
A relação entre o 4 de Janeiro de 1961, na baixa do Cassange, o 4 de Fevereiro de 1961, em Luanda, as eleições do general Humberto Delgado, o assalto a Santa Maria, feita pelo capitão Galvão, a oposição democrática portuguesa em Angola e a UPA, União das Populações de Angola, são hoje evidentes, sendo que não podemos esquecer que parte dos participantes no 4 de Fevereiro estarão no MPLA.
No entanto, a essência da História é a existência de Homens como o Cónego Manuel das Neves, mestiço, nascido no Golungo Alto, a 25 de Janeiro de 1896 e reputado defensor do Nacionalismo Angolano, ou como o Dr Eugénio Ferreira, branco, de raiz portuguesa, casado com uma senhora, mestiça, de famílias angolanas, reputado opositor ao regime salazarista, Maçon, comunista independente e um democrata republicano, que assumiu a nacionalidade angolana, com a Independência de Angola.
Hoje, definitivamente, tem de terminar o tempo das “Histórias Oficiais”, que satisfazem interesses não angolanos, mas contentam os interesses “Onusinos”  de uma pretensa “esquerda intelectual internacional”, (mas nada internacionalista, diga-se) e tem de começar o tempo do reconhecimento de Todos Nós, Angolanos e autênticos amantes de Angola.
E para que tal suceda, há que reconhecer o papel determinante do Cónego Manuel das Neves, que, segundo obra a sair brevemente, terá dito ao Dr Eugénio Ferreira, algo como, “agora é a nossa vez”, assim como disse ao Padre Joaquim Pinto de Andrade, “Meu filho, é preciso um grande sobressalto nacional, é preciso organizar um levantamento, um acto espectacular que faça a ruptura com o passado”, (conforme texto do Publico, editado também na obra Monsenhor Manuel Joaquim Mendes das Neves, Ínclito Nacionalista Angolano, edição da Liga Africana, 2004), certamente, na minha opinião, antes dos acontecimentos da Baixa do Cassange e de Luanda e depois do fracasso da desejada chegada a Luanda do tomado paquete santa Maria, pelo capitão Henrique Galvão.
O Secretariado Permanente do Bureau Político da FNLA, publicava a 13 de Julho de 1994, no Jornal de Angola, um texto de onde se pode respigar, “…através de emissários devida e rigorosamente seleccionados…estabelece contacto com a Direcção Politica da União das Populações de Angola, (UPA), …emissários tais como César Correia,…, Francisco Pedro Miguel, …, Adão José Kapilangu, Moisés Kayaya…Luis Alfredo Inglês, principal animador da dinâmica da célula da UPA do bairro Sambizanga, fundada pelo próprio Cónego Manuel das Neves, em 1958…”, que permite relevar o papel de Nacionalista organizador do Cónego Manuel das Neves.
Os acima referidos “Onusinos interesses” de uma dita esquerda intelectual internacional, procuraram, anos a fio, suportados pelos interesses de alguns do MPLA reescrever a História de Angola, o que hoje se mostra cada vez mais impossível de sustentar.
Na verdade, as relações entre os Nacionalistas, feitas em lógicas de clandestinidade, impostas pelo regime fascista de Salazar, sobre todo o Império português, e entre os nacionalistas e as Oposições Democráticas ao regime corporativista, mostram que ninguém, mas mesmo ninguém, pode ficar de fora.
UPA/FNLA, MPLA, UNITA, são três elos fundamentais, porque neles lideraram os Pais da Pátria Angolana, Holden Roberto, Agostinho Neto, Jonas Malheiro Savimbi, mas, a seu lado, estarão cidadãos como Dáskalos, Eugénio Ferreira, que lideram quer organizações de esquerda Angolana, de brancos, no primeiro caso, quer actividades politicas e sociais de brancos mestiços e negros, no contexto da Oposição Democrática a Salazar.
Mas, sejamos sérios, O Cónego Manuel das Neves é, sem dúvida, um pai inorgânico da Pátria Angolana, um Pai acima dos 3 Movimentos de Libertação que deve ser especialmente relevado.
Como o Dr. Eugénio Ferreira o é.
E, para que não esqueçamos, depois “do inicio da insurreição armada no norte de Angola, em 15 de Março de 1961, Monsenhor Manuel das Neves foi detido pela PIDE e deportado para Portugal, juntamente com outros cinco sacerdotes africanos…”acusado de ser um dos principais dirigentes terroristas”, como refere o coronel Hélio Esteves Felgas em “Guerra em Angola”. Após alguns meses de prisão na cadeia do Aljube e no Forte de Caxias, a igreja católica e o governo de Salazar acordaram em manter Monsenhor Manuel das Neves e os outros sacerdotes africanos afastados de Angola, pelo que lhes foi fixada residência em casas religiosas em Portugal”, conforme notícia do Jornal de Angola de Maio de 1991 e citado na obra já referida.
Aí não deixou de manter contactos clandestinos com os nacionalistas, e de os incentivar à Luta pela Independência da sua Pátria, Angola.
Aos 70 anos de idade, a 11 de Dezembro de 1966, o Cónego Manuel das Neves morre, em Portugal, no Noviciado dos Padres Jesuítas, em Soutelo.
 
Joffre Justino

Pensar e Falar Angola

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