domingo, 15 de fevereiro de 2009

(52) Ágora - Ganhar para o Tabaco




A industria do tabaco foi a primeira de todas as industrias regulares de Angola.


Desembarca em Luanda José Jacinto Ferreira da Cruz , que já tinha enriquecido no Brasil na industria tabaqueira, tendo investido na primeira fábrica de tabacos de Angola, importando máquinas de Inglaterra, algum picado de Havana, e instalando-se numa casa alugada perto da Igreja dos Remédios. Paralelamente a tudo isto, José Cruz, sabendo que na região de Golungo Alto havia uma excelente qualidade de Nicociana, planta do tabaco que se dá bem em todo o País, decidiu fazer aí uma plantação e simultaneamente estabelecer contactos com “fornecedores” locais, que consumiam um charuto artesanal de excelente qualidade, segundo relatos da época.Consta-se também que no Bumbo, a 28 léguas do Namibe, para o interior havia uma extraordinária qualidade de tabaco, o que terá levado Henk Rink, mais tarde a fundar a Empresa de Tabacos da Huíla de efémera existência, por problemas com as autoridades coloniais.


Ainda sobre a qualidade do tabaco do Golungo Alto, há uma antiga referencia a uma “fábrica” em 1833, propriedade do soba local, Bango Aquitamba. Um pouco lateralmente ao que aqui tem sido dito, o tabaco foi provavelmente dos mais cobiçados produtos ao longo de séculos, e causas de disputas acesas pelo seu fabrico e comercialização, tendo em conta que desde que passou a ser comercializado na Europa, qualquer poder político viu nele uma excelente forma de conseguir recursos financeiros regulares, à custa de impostos e resultados de concessões por períodos de tempo determinados.Foi motivo de discussão na Revolução Francesa e levou à queda de alguns governos, pois a solução de “régie” que se impôs, era permeável a muitas influencias e subornos. Foi assim um pouco por toda a Europa e foi também de grande importância na queda da 1ª Republica portuguesa, já que Alfredo da Silva, dono da imperial CUF, tinha então sido preterido num contrato de concessão, tendo-lhe a ditadura atribuído a concessão, pelos serviços prestados a favor do golpe militar de 28 de Maio de 1926, nascendo então a “Tabaqueira”, depois ligada à SUT.


Voltando a Angola, assistimos em 1884 à compra por José Jacinto Cruz de um prédio virado para a Baía, actualmente em degradação acentuada, onde se instala uma fábrica a sério, onde trabalhavam trinta pessoas, com máquinas inovadoras de pique do tabaco, embaladoras, prensas, estufas e até uma tipografia para confeccionar as suas próprias embalagens.Na enfadonha e provinciana Luanda desse tempo, este activo industrial não deixou de impressionar os comerciantes da urbe, que o destacaram para Presidente da Câmara, tendo sido ele a figurar no acto da inauguração dos trabalhos do Caminho de Ferro de Luanda e Ambaca (31 de Outubro de 1886), de que foi um dos promotores e entusiastas.“Flor do Dande”, Picado “Holandez”, “Meio Forte”, “Repicado”, os charutos “Jacinto”, e uns cigarros sem nome vendidos em maços de 600g. Mais tarde apareceram o “Francês nº1”, “Estrella”, “São Rafael” e os “Hermínios” de boa memória.


A sua morte levou a uma situação de instabilidade, e o BNU exerceu uma hipoteca na fábrica, que depois de reaberta nas mãos de empresários da então Metrópole, deu origem à Sociedade Colonial de Tabacos (16 de Maio de 1916) e depois à FTU, que virou SUT até hoje, embora a “tabaquear“ já noutro lugar.


Para além da FTU e da efémera empresa da Huíla, constituíram-se e continuaram a laborar a fábrica SITAL em Benguela, dos famosos Java, Baía e SL, e a ETA, empresa do industrial Ricardo Pires, conhecida pelo Coimbra e Senador.


A FTU, tinha o Swing, o universal AC, o Luanda e o Belmar, entre os famosos Francesinhos.


Para finalizar há uma história interessantemente do BELMAR, que quando apareceu, nos fins dos anos 60, foi-lhe logo colado a uma frase: Bairros Em Lisboa Mostram Angola Roubada!Fernando Pereira


18/01/09






Pensar e Falar Angola

Sem comentários: