Filipe Mukenga nasceu em Luanda, apesar de muita gente o associar a Cabinda. Isto tem muito a ver com um dos seus maiores êxitos, Minha Terra, Terra Minha, que fala exactamente desta cidade. Existe algo de verdade nesta história, porque o músico passou parte da sua meninice no enclave.
- Sou filho de Anacleto Gumbe e Isabel André. O meu pai era enfermeiro e a minha mãe camponesa. Quando eu tinha 5 anos o meu pai foi transferido para Cabinda, Dinge, e nós fomos também. Vivemos depois em Massabi, junto à fronteira com Ponta Negra e, em 1957/58, como não havia escolas na região, o meu pai resolveu ir para a cidade de Cabinda. Foi sem receios, apesar de ainda não ter qualquer emprego. Achava que era importante que nós pudéssemos estudar. Pegou em mim e na minha irmã e fomos - recorda.
Quando chegou a esta cidade conheceu Leopoldo Mangueira, um funcionário de alfândega, que lhe deu trabalho. “Este veio a ser uma pessoa muito importante na minha vida. Para mim, será sempre o meu padrinho. Mais tarde quando voltámos a Luanda, vivi uma parte da minha vida em sua casa”, explica.
Quando chegou a esta cidade conheceu Leopoldo Mangueira, um funcionário de alfândega, que lhe deu trabalho. “Este veio a ser uma pessoa muito importante na minha vida. Para mim, será sempre o meu padrinho. Mais tarde quando voltámos a Luanda, vivi uma parte da minha vida em sua casa”, explica.
Filipe Mukenga regressa a Luanda e ao Bairro do Marçal, onde tinha nascido, por volta dos 14 anos. Nesta altura os seus pais separam-se e ele ficou a viver com a mãe. “O meu pai, com receio que eu não estudasse convenientemente, falou com o Leopoldo Mangueira e eu fui viver para sua casa. Estava lá durante a semana e só aos sábados e domingos é que ia para o pé da sua mãe, no Marçal. Isso permitiu-me ter acesso à música que vinha de fora”.
Filipe Mukenga reconhece que a paixão pela música vem de muito cedo. “Os meus pais frequentavam a Igreja Metodista (Evangélica) e eu ia com eles no dia de culto. Ficava maravilhado com o coro. As vozes, a melodia, tudo para mim era encanto. E foi assim que eu comecei a cantar”, recorda.
Não frequentou nenhuma escola de música e foi a vida que lhe deu o “currículo”. “Os anos 60 foram uma boa escola. Na altura apareceram os Beatles que, para mim, foram o máximo. Como a cultura portuguesa na altura não permitia que saltásse-mos para um patamar superior, comecei por cantar esses êxitos internacionais. Cantava em festas, em locais onde era possível. Na altura a vida era muito dura e esse era um caminho para se ir sobrevivendo”, acrescenta, sublinhando que “foi por ouvir toda essa música que vinha de fora que tive contacto com outros géneros, com melodias mais elaboradas como o jazz e, que influenciaram até hoje a música que eu faço”, afirma.
Curioso é o facto de, nesta altura, Filipe Mukenga ainda não tocar qualquer instrumento. “Na verdade comecei a tocar violão por acaso. Foi numa das minhas visitas ao Bairro Marçal que um amigo meu, João Silvestre (que depois fez carreira como comissário de bordo da TAAG) me perguntou – Oh Chiquito (era a minha alcunha de miúdo) não queres aprender violão? – eu respondi que sim e foi ele que me ensinou os primeiros acordes”. Diga-se que, na altura, neste bairro de Luanda cresciam músicos e artistas que facilitavam o contacto cultural com a geração mais nova. E o destino colocou também no caminho de Filipe Mukenga outro amigo, da Praia do Bispo, que tinha um violão. E é assim que o músico passa a ter um acesso diário a este instrumento. “Fui aprendendo de ouvido. Aos 16 anos começo a perceber a estruturação das melodias e sinto que posso compor. Mas já nessa altura estava preocupado em sair do óbvio. Em fazer algo diferente.Foi esta minha característica, de não compor dentro de modas e estereótipos, que leva a que só tenha produzido quatro discos na minha carreira”. Recorde-se que o músico faz agora 46 anos de carreira.
Curioso é o facto de, nesta altura, Filipe Mukenga ainda não tocar qualquer instrumento. “Na verdade comecei a tocar violão por acaso. Foi numa das minhas visitas ao Bairro Marçal que um amigo meu, João Silvestre (que depois fez carreira como comissário de bordo da TAAG) me perguntou – Oh Chiquito (era a minha alcunha de miúdo) não queres aprender violão? – eu respondi que sim e foi ele que me ensinou os primeiros acordes”. Diga-se que, na altura, neste bairro de Luanda cresciam músicos e artistas que facilitavam o contacto cultural com a geração mais nova. E o destino colocou também no caminho de Filipe Mukenga outro amigo, da Praia do Bispo, que tinha um violão. E é assim que o músico passa a ter um acesso diário a este instrumento. “Fui aprendendo de ouvido. Aos 16 anos começo a perceber a estruturação das melodias e sinto que posso compor. Mas já nessa altura estava preocupado em sair do óbvio. Em fazer algo diferente.Foi esta minha característica, de não compor dentro de modas e estereótipos, que leva a que só tenha produzido quatro discos na minha carreira”. Recorde-se que o músico faz agora 46 anos de carreira.
EX-FUNCIONÁRIO PÚBLICO
Em 1970 Filipe Mukenga é incorporado no exército português, sendo desmobilizado três anos depois. “Esta passagem pela tropa permitiu-me ter contacto com outros músicos de diversas províncias de Angola e, conhecer a música que se fazia pelo território. O que era a música angolana, as suas raízes. Isso proporciona uma viragem importante na minha carreira. Por exemplo um dos meus maiores êxitos Umbi Umbi, resulta de uma recolha no nosso cancioneiro, a letra, que depois adaptei com uma melodia minha. Recordo que muitos nomes importantes gravaram este tema, tais como o Djavan e o Paulo de Carvalho. Ouvi essa música cantada originalmente pelo povo do centro”, diz.
A independência apanha o músico num processo de descoberta de novas sonoridades. Diga-se que a sua profissão era de funcionário público, na estrutura que depois veio a tornar-se o Ministério da Informação. “Eu nunca consegui viver apenas da minha arte. Sei que há outros músicos que conseguem, mas a mim nunca aconteceu. Reformei-me e pode ser que seja agora que viva apenas da música. Penso que esta ligação à editora Ginga pode ser uma solução. Na verdade nunca fui um músico muito solicitado para espectáculos, tirando aquelas datas importantes em que se lembram de mim, mas depois tenho períodos em que não consigo mostrar a minha música. Também só lancei quatro discos, apesar de ter muitas músicas no baú”, explica Filipe Mukenga.
A PARCERIA COM FILIPE ZAU
Em 1978 aconteceram coisas importantes na sua carreira. Inicia uma parceria com Filipe Zau, que se mantém até hoje, “penso que é um letrista extraordinário. Desenvolvemos projectos juntos muito importantes e vamos continuar a fazê--lo”. Também nesta altura conhece André Mingas com quem toma contacto com novas técnicas de execução, como os acordes invertidos e dissonâncias, o que lhe dá novos instrumentos para toda a sua capacidade criativa.
O primeiro disco surge em 1991, no seguimento de contactos que tinham começado três anos antes. “Em 1988 sou incluído como jornalista na delegação de Angola que vai a Lisboa para acompanhar as 1.as Jornadas dos Países de Língua Oficial Portuguesa, que encerraram com um grande espectáculo no Teatro D. Maria. Nessa altura, reencontro-me com o falecido Raul Indipwo, a quem explico o meu projecto musical. E é pela mão dele que eu entro na editora Valentim de Carvalho. Fecho contrato em 1990 e no ano seguinte lanço o meu primeiro álbum, Novo Som. A verdade é que a editora não soube o que fazer com o disco, por isso, eu acabei por rescindir o contrato de uma forma amigável”, recorda.
DOIS ÁLBUNS, UMA OPERETA
Em 1992 vai à Expo Sevilha integrado na delegação angolana e resolve ficar em Lisboa. Já não volta. Tem a oportunidade de viajar pela Europa, conhece outros músicos e outras gentes, vai ao Brasil, a Macau e alarga a presença da música na sua vida. Em 1994, através da editora Lusáfrica em Paris, grava o seu segundo disco, Kianda Ki Anda. Em 1996, num projecto de parceria com Filipe Zau grava a opereta O Canto da Sereia – o Encanto, um projecto que teve o apoio do Ministério da Cultura e da Comissão para Comemoração dos 500 Anos dos Descobrimentos Portugueses. Em 2003, gravou no Brasil, Salvador da Baía, um novo disco, Mimbo Yami. Este projecto foi finalizado em Portugal, pela Moviplay, que acaba por colocar a chancela no trabalho. O que leva o músico a rescindir o contrato com a editora.
UM NOVO DISCO POR ANO
Filipe lamenta ter apenas três discos lançados numa longa carreira. “A música que faço não tem como principal característica pôr as pessoas a dançar. Preocupo-me muito com o conteúdo e com a harmonia. Para mim a música é um excelente veículo de cultura e serve para a pacificação dos espíritos. Tem que haver uma mensagem. Fazer pensar e sonhar quem nos ouve. Os editores hoje não querem esta música”, justifica. Por isso confessa que “tenho muitas músicas guardadas. Há alturas em que me afasto voluntariamente do violão porque sei que vou compor coisas para o baú. E isso não me faz bem. Espero agora, com esta parceria com a editora Ginga, publicar mais discos. Um por ano parece-me que seria o ideal”, diz.
Depois de treze anos fora, Filipe Mukenga resolve voltar a Angola. “Estava fora quando o processo de paz se concluiu. Era o momento em que a pátria precisava da contribuição de todos. Por isso voltei. Tenho pena de não ter dado a contribuição que queria com a minha música, mas penso que agora haverá maior regularidade nas minhas apresentações”.
O músico está a desenvolver novos projectos. Para além do disco Nós somos Nós está a concluir a 2.ª parte da opereta O Canto da Sereia – o Encanto, em parceria com Filipe Zau. Está a preparar um disco de músicas infantis (fábulas adaptadas e cantadas) e, está fortemente empenhado num projecto de recolha do Cancioneiro Angolano, uma iniciativa realizada com o apoio do Ministério da Educação.
"NÓS SOMOS NÓS", O NOVO ALBUM
Este é o título do novo álbum de Filipe Mukenga. Quarto disco da sua carreira e o segundo que é gravado no Brasil. “Este projecto tem muito a ver com o empenho de um empresário brasileiro, Raimundo Lima, que está há muitos em Angola. É o dono da Ímpar, empresa que está ligada à área da comunicação social. Recentemente criou uma editora, chama-se Ginga e eu sou o seu primeiro artista”, explica Filipe Mukenga, que acrescenta, “para os artistas é muito importante a existência destas empresas. Em Angola não existem, mas em todo o mundo é assim que se estrutura a actividade artística. Não faz sentido sermos nós que vamos discutir os nossos cachets, os locais e a produção dos espectáculos, a divulgação dos discos, etc. Esta é uma actividade que deve ser feita por profissionais. O artista deve ser resguardado destas coisas. A gestão de carreiras é fundamental para solidificar a actividade artística. Por isso estou muito satisfeito por estar na Ginga. Acrescente-se que a empresa está em negociações com outros músicos angolanos de prestígio para incorporarem o seu projecto. Acredito que é necessário que se faça a internacionalização da música angolana, e que isso tem que ser feito com inteligência”, sublinha.
E é no âmbito desta parceria que nasceu o disco Nós somos Nós. “Dedico este disco a Angola, ao seu povo e á sua grande conquista que foi a paz”, diz Filipe Mukenga. “Quando me desafiaram para gravar o álbum, eu juntei as minhas músicas, dado que tinha muitas canções já prontas e que estavam guardadas no baú. Levei-as ao Zeca Baleiro, que produziu o álbum, e a selecção foi dele. Eu preferi fazer assim porque não era capaz de escolher apenas catorze músicas. Sei que ele também teve dificuldade em escolher”, diz divertido. Este trabalho tem a colaboração da voz de Martinho da Vila no tema O Paquete assim como de Vânia Abreu em Aprisionar a Negra Noite. Tem também um tema com letra da conhecida jornalista brasileira Cláudia Noronha. “Estava previsto também a gravação de uma música de Ivan Lins, mas infelizmente não foi possível realizar esta parceria por incompatibilidade de agenda. Mas acho que foi feito um bom trabalho”, confirma orgulhoso.
O disco só deve ser lançado no próximo mês. “A verdade é que com o período de festas muitas pessoas saíram do país. Só agora é que elas estão a voltar. Em consequência optámos por adiar o lançamento do álbum para que tudo seja preparado de uma forma eficaz. Mas o meu novo trabalho sairá brevemente”, promete Filipe Mukenga.
TRÊS NOVOS PROJECTOS EM CURSO
Para além do disco Nós somos Nós o autor está a concluir a segunda parte da opereta O Canto da Sereia – o Encanto, em parceria com Filipe Zau. Está a preparar um disco de músicas infantis e está empenhado num projecto de recolha do Cancioneiro Angolano, com o Ministério da Educação
TRÊS ESPECTÁCULOS EM MARÇO
O músico está a preparar uma série de três espectáculos – 19, 20 e 21 de Março – para comemorar os 31 anos de parceria com Filipe Zau. Os concertos vão decorrer no Teatro Nacional e estão incorporados no programa de comemorações de 20 Anos da Associação Chá de Caxinde.
PERFIL
Data de nascimento 7 de Setembro de 1949
Naturalidade Luanda
Juventude Cabinda, Bairro do Marçal e Praia do Bispo
Discoteca B’leza em Lisboa
destino de Férias Os países africanos que ainda não conheço
Prato Preferido Moamba de Galinha
Virtude Humildade
Defeito Ser reservado
Músico preferido Quase todos os que estão na àrea do jazz
Data de nascimento 7 de Setembro de 1949
Naturalidade Luanda
Juventude Cabinda, Bairro do Marçal e Praia do Bispo
Discoteca B’leza em Lisboa
destino de Férias Os países africanos que ainda não conheço
Prato Preferido Moamba de Galinha
Virtude Humildade
Defeito Ser reservado
Músico preferido Quase todos os que estão na àrea do jazz
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