“Os capitalistas têm dinheiro e compram tudo: justiça, polícia, padres, governo, tudo. A gente só tem um capital: os companheiros.
Jorge Amado, in “S. Jorge dos Ilhéus”
À evolução sempre necessária, e neste momento histórico exigido pela transformação social e pela maturidade da grei, para um mais amplo sistema de direito publico, substitui-se tragicamente e de uma forma apressada o sistema, levando à quebra de tradições e à divisão dos homens em vencedores e vencidas.
A ausência de cultura, aliada à falta de consciência política global, gera a bastardia irremediável do voto, e a organização dos partidos não como expressões tendenciais dos grandes rumos de opinião publica, mas sim como simples associações utentes do poder, assentes na importância social da licenciatura e gerando uma nova forma de privilégio parasitário.
Os sistemas políticos nunca são perfeitos e a democracia só o será quando um grau de preparação económica, social e cultural do povo for determinante de uma consciência do direito político individual, e que no momento de acção resulte em vontade colectiva.
Cada novo messianismo na acção política, cada nova ideologia redentora, enche o povo de promessas e mesmo de realizações. Por um momento efémero domina a prole e arrasta os homens na sedução do novo ideal colectivo. A pouco e pouco porém, a vida reflexiva e consciente retoma os seus direitos, a inteligência renova as suas perguntas, e os problemas renascem para a diversidade discutível das várias soluções.
E como o homem angolano nesta fase só concebe a política em termos de ideal absoluto e redentor, e existe na forçosa circunstância de vencido ou de vencedor, a acção pública situa-se em coordenadas de “guerra”, de sentido de revolta ou de defesa a todo o custo.
Ser adversário político é sinónimo de inimigo pessoal. O partidário do poder, olha para os adversários como uma raça diferente, uma espécie de monstros capazes de todos os “crimes”. O adversário do poder, pelo seu lado, olha para os outros como uma tribo estranha, que se apoderou do mando ou de desmando nalguns casos.
O sentimento comum da existência colectiva o conceito de solidariedade, o ideal de uma vida comunitária e irmanada numa obra comum a construir em cada hora, são tropos literários, cuja verdade profunda jaz moribunda.
Até quando poderemos resistir à trágica divisão das pessoas, à triste dialéctica, à partilha do destino humano, na injusta base do vencido e do vencedor?
Este texto é alusivo ao 10 de Dezembro de 2011, num muito MPLA –PT que gosto, mas que tem demasiado MPLA que me desgosta!
À margem disto tudo, só aqui fica o meu derradeiro abraço ao meu amigo e camarada Helder Moura (Dédé) com quem partilhei muita coisa boa em quase quarenta anos . Homem de grande carácter, cultor de amigos, pessoa que se habituou a reagir às adversidades que a doença lhe ia trazendo, com enorme força de vontade e com a calma só possível nas pessoas que sempre estão bem consigo. Vais-nos fazer falta, mesmo que às vezes estivéssemos tempos sem nos encontrarmos, mas quando isso acontecia era sempre um excelente reencontro. À Ana e aos seus filhos os meus sentimentos e orgulhem-se no marido e pai que tão cedo nos deixou a todos.
Fernando Pereira
6/12/2011