segunda-feira, 15 de junho de 2009

Um Singular Balanço Entre Guerra e Paz (II)

INADIÁVEIS DESAFIOS.

Faz agora um ano que o artigo “Um singular balanço entre guerra e paz” foi publicado no Página Um e todavia ele não perdeu actualidade, nem acuidade, muito pelo contrário.

A época da crise declarada (a crise já de há muito que existe em relação a África), veio obrigar a colocar ainda mais questões em relação ao como os angolanos estão a tratar do seu presente e a cuidar do seu futuro.

O dinheiro explica muito pouca coisa, se mal utilizado no contexto sócio-político.

O estágio em que Angola se encontra exige muito mais do que as possibilidades oferecidas por uma“economia de mercado”, que só tem desequilibrado a sociedade e está na raiz desse desequilíbrio com a gestação duma burguesia administrativa que em determinadas questões assume já um papel anti patriótico e de lesa pátria, a começar pela mentira continuada que é exercida em relação a muitas questões.

Para o desenvolvimento sustentado, é ridículo inventariarem-se as torres e os condomínios como sinónimos desse conceito, como é ridículo o que está a acontecer num nó tão importante para a economia nacional como o porto de Luanda.

O plano para a construção de um milhão de habitações é arrojado, todavia, após a reconstrução de infra estruturas como estradas, ferrovias, pontes e edifícios, é também e ainda insuficiente se não se interligar a outros programas em direcção à sociedade e que a possam mobilizar de forma participativa e não“representativa”.

O plano para o fornecimento de água potável a todas as comunidades, segue a mesma linha.

Em Angola continua-se a apostar muito em cimento, mas ainda são frágeis as apostas directas no homem e a provar isso está o facto de, entre outras questões que são fundamentais, não estar delineado o plano de luta contra o analfabetismo, o desporto não ser praticado de forma massiva e a partir das escolas, não haver impactos culturais de relevo sobre a produção agrícola ao nível da que é praticada em regimes de auto subsistência e familiar, as estatísticas não inventariam questões relevantes que poderão melhor fundamentar as políticas de desenvolvimento sustentável…

Perante um mundo de indefinições e um mundo ainda maior de insuficiências, hesita-se entre uma linha social democrata que tem promovido tanto desconcerto onde quer que seja em todo o mundo e também em Angola (a actual linha de força do MPLA) e o rigor que possibilitará uma linha mais à esquerda, consentânea com as perspectivas dum socialismo alternativo e viável para o século XXI.

O chão que hoje pisamos em Angola foi conseguido com incomensuráveis sacrifícios, o sacrifício dos melhores filhos da pátria angolana, para que a liberdade e a democracia fosse erigida em função de todo o povo angolano e não se tornasse no privilégio de apenas alguns!

O MPLA corre o risco de se tornar em mais um“representativo partido dos negócios” e perder a sua qualidade de partido de massas erigido a partir do seu passado de movimento de libertação, ao não seguir o caminho de abertura à democracia participativa e isto apesar de tanto se ter prometido em relação ao “poder popular” (um “slogan” a sua época muito querido por parte de muitos que hoje polvilham os mecanismos do poder).

O MPLA deverá começar a restringir o peso dos“lobbies” que foram gerados principalmente durante a década de 90 e se tornaram tão omnipresentes hoje, a fim de se abrir à batalha das ideias, que conduz à participação.

A África parece estar alheia ao que se passa na América Latina, bem como dos ensinamentos que dela derivam e isso apesar de tanta inter confluência que chegou a haver em prol da luta de libertação contra o colonialismo e o “apartheid” e o que ficou por fazer alcançado o patamar mínimo para um exercício saudável de maturidade política pos independência.

Alguns ousam afirmar que essa aspiração é radical, querendo dizer com isso que é “moderada” a utilização das finanças (incluindo das finanças públicas), para reforço dos interesses duma classe que deriva no que já é hoje a burguesia administrativa nacional.

Essa traição às aspirações mais legítimas que tiveram sua corrente forte no movimento de libertação, esse corte na ponte entre o passado, o presente e o futuro, poderá implicar quer essa burguesia administrativa queira quer não, num crescente antagonismo que poderá derivar em mais tensões e sofrimentos para o povo angolano, ao contrário do que se enuncia em prol da paz.

Não há verdadeira paz se não se fizer tudo o que estiver ao alcance para se alcançar a justiça social e ainda não foi encontrado um ponto de equilíbrio suficiente para a sustentabilidade da sociedade angolana.

Os temas em discussão em época de pré Congresso do MPLA são candentes para melhor se definir o que somos hoje e o que seremos amanhã, pois isso influenciará no que falta construir neste quinquénio em vigor e no que se lhe seguirá, mas principalmente no como se irá construir.




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