sexta-feira, 26 de junho de 2009

Mário Pinto, Explorador ecológico


 

Mário Pinto, Explorador ecológico

Entusiasta das viagens de aventura, em contacto com a natureza, conhece o país de lés-a-lés.

Em 2004 foi o fundador, juntamente com Paul, Wesson, da Ecotur, uma empresa especializada na comercialização de pacotes de viagens de aventura pelo interior de Angola.

A Ecotur também organiza viagens para a Namíbia em parceria com a empresa Dunas Safari (seus colegas e amigos). “O tipo de clientes é cada vez mais diversificado. No início eram sobretudo os expatriados, residentes em Angola, que nos procuravam. Hoje há cada vez mais turistas angolanos que começam a trazer as suas famílias”, diz com orgulho.

É que nos programas da Ecotur há de tudo. Desde uma simples excursão de um dia ao Parque Nacional da Kissama, até aos pacotes de três dias às quedas da Kalandula ou ao Wako Kungo e as viagens mais ousadas de 10 dias ao deserto do Namibe.

“A estrada pelo litoral, que vai de Benguela ao Namibe, é uma das mais belas do mundo”, diz Mário Pinto que acrescenta. “Há programas para todos os gostos. Desde os mais familiares com estadias em hotéis, até aos mais aventureiros com dormidas em tendas.

“Nós não fazemos publicidade. Temos apenas um site na Internet. Os clientes satisfeitos é que vão passando a informação aos amigos”, justifica.

 

Mário trata de tudo. Das dormidas, às comidas, dos veículos todo-o-terreno engenhosamente equipados com depósitos-extra de combustível e água.

SAFARIS REAIS

Além de conhecer Angola como a palma da mão, Mário é um excelente mecânico e um condutor experimentado. Participou no Raid Kalandula, realizado logo após a chegada da paz, e foi o primeiro a fazer Luanda- -Maputo em Land Rover.

 

É também um especialista em safaris. Participou num deles, organizado pela Angola Safaris com Don Juan Carlos de Bourbon, Rei de Espanha (na altura era príncipe). Nunca parou de fazer expedições. Mesmo durante a guerra. Recorda--se de uma, em particular, em que trazia uma arma escondida no radiador — apenas para defesa pessoal — que esteve quase a ser descoberta pela polícia na fronteira à entrada do país.

 

Mário Pinto ia com a sua família que não suspeitou de nada. “Mais tarde contei- -lhes e eles iam morrendo de susto. Só quando entrámos em Angola, por essa estrada, é que nos apercebemos da beleza esmagadora do país.

A diversidade das paisagens, o verde da natureza é inesquecível. A transição de quem vem do Botswana e da Namíbia árida, para o Cunene verde, é algo de mágico”, sublinha.


AS MELHORES PAISAGENS

Porém a viagem mais extraordinária que fez foi de Angola à Tanzânia. Neste país ficou maravilhado com a grandiosa cratera do Ngorongoro. No que se refere a parques de animais Etosha e Khaudom, ambos na Namíbia, estão no seu top. Seguem-se Hwange, no Zimbabué e Kitulo na Tanzânia (devido à botânica).

Também adorou a volta pelos parques de animais realizada na África do Sul, embora considere que o famoso Kruger é um pouco mais comercial. Em Angola os locais de culto são as quedas de água de Kalundula, em Malange; a imponente Serra da Leba, no Lubango; as quedas do Binga e a estrada do Waku Kungo. Para ficar a dormir tanto gosta do conforto do Hotel Regina, em Malange, como de locais mais exóticos tais como o lodge no Lubango de Faiel Loureiro — um ex- -campeão angolano de tiro aos pratos — como o improvável hotel, encastrado nas grutas, em pleno deserto do Namibe: o lodge Omahua, de Álvaro Batista.


AS GENTES DE ANGOLA

Mais importante do que as paisagens são as gentes. Mário é um excelente conhecedor dos povos do interior, da sua história, usos e costumes. Tem amigos em todo o lado. Gosta particularmente de se relacionar com os mukubais (do deserto), os muhilas (do Lubango) e os himbas (do Cunene). Fala fluentemente inglês, francês, espanhol, e razoavelmente o umbundo e o kimbundo.

É igualmente um entusiasta da botânica. Na sua propriedade rústica, junto do contentor improvisado que lhe serve de casa, em Benfica, cultiva plantas de várias proveniências. Os exemplares de welwitshia mirabilis, a extraordinária espécie que só existe no deserto do Namibe, é o seu cartão de visita.

Ao lado “mora” a frota de  automóveis todo-o-terreno e uma grandiosa tenda que o abriga do calor. Em tal cenário, onde pontificam os tons verde-tropa e os utensílios de aventura, Mário Pinto parece um autêntico “Indiana Jones” dos tempos modernos.

SEMPRE DE MALAS FEITAS

Mário fez a escola no Lubango até 1969. O pai era funcionário aduaneiro o que obrigava a mudanças frequentes. Viveu em Luanda de 1969 a 1973. Depois foi para Porto Amboím, onde viveu até à independência.

Foi para Portugal em 1975, um ano depois da “revolução dos cravos”, para completar o antigo 7.º ano. Depois trabalhou num firma inglesa de máquinas industriais mas as viagens de aventura estavam-lhe no sangue.

Foi de moto até Marrocos. Viajou pela Europa, à boleia, durante dois anos, trabalhando nas vindimas e em estâncias de ski para sobreviver. O destino quis que, no meio de uma viagem pelo Médio Oriente, fosse trabalhar para um kibutz (comunidade agrícola) em Israel, em pleno deserto do Neguev, onde aprendeu muito sobre técnicas de irrigação e algumas palavras de hebreu. Curiosamente passou muito frio no deserto dado que era Inverno.

A ideia era ir até à Austrália. Mas foi parado antes de entrar na fronteira inglesa e acabou por regressar a Portugal. Daí, em 1983, decidiu não tardar mais o regresso à terra natal.

Por cá trabalhou no negócio das máquinas industriais na Robert Hudson. Depois foi para a Lusolanda que representava em Angola a célebre marca americana John Deer. Até que rumou para as plataformas de petróleo da Global Marine no Soyo.

“Recordo que trabalhava 11 horas por dia — 28 dias no mar e 28 dias em terra”. Era nesses períodos de folga que dava vazão á sua paixão pelo todo-o-terreno onde ficou a conhecer a Angola profunda. “Lembro-me que, nessa altura, em Porto Amboim, se trocava um boi, ou um bilhete de avião, por uma grade de cerveja”, recorda.

De 1985 a 1986 esteve ainda em Cabinda, na base da Schlumberger, no Malongo, onde dava assistência aos aviões da companhia.

PARCERIA COM PAUL WESSON

A sua vida mudou quando conheceu Paul Wesson, um inglês radicado em Angola desde os anos 80. Paul era director comercial da União e um experiente condutor de Land Rovers que, entre outras provas, chegou a fazer o Atlas Marrocos. Numa das viagens da dupla, em plena praia da Caotinha (em Benguela) famosa pelas suas águas cristalinas, os dois tiveram a clarividência de criar uma empresa dedicada ao turismo de aventura. A Ecotur nasceu em 2004. Mário conhecia o território como ninguém. Paul era o especialista em todo-o- -terreno. “Pareceu-nos que fazia sentido, em época de paz, que o turismo interno se fosse desenvolver”, justifica.

Não obstante o sucesso da Ecotur, Mário Pinto mantém o emprego na Schlumberger, empresa global que presta assistência técnica às petrolíferas . Quando chegar à reforma, ambiciona dedicar-se às viagens de aventura a tempo inteiro.

Posted by Toke

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