Agostinho Neto vem para Coimbra já com ideias bem claras, até porque era mais velho que a maioria dos que o acompanhavam e politicamente com outra tarimba.
Vem do Liceu Salvador Correia, hoje o encerrado Mutu-Ya-Kevela, com o Antero de Abreu, jurista, Procurador-Geral da República nos anos que se seguiram à independência, os irmãos Guerra Marques, o médico Eduardo dos Santos, jogador de futebol da Académica, Diógenes Boavida de direito, João Videira e João Vieira Lopes de medicina, foram outros que vieram do Salvador Correia. Do Sul de Angola, do Liceu Diogo Cão, que absorvia as gentes do Huambo, Benguela, Lobito e Namibe vieram Lúcio Lara, Emílio Quental, Carlos Mac-Mahon Vitória Pereira, Freitas de Oliveira (mais tarde delegado da FNLA no Huambo), a poetisa Alda Lara e outros que me deslembro.
A CEI, para além das atividades desportivas e culturais, foi um local onde começaram a fervilhar as ideias que eram ecos de Frantz Fanon, Césaire, Senghor, Kenhyata, Nkrumah e outros que partilhavam os ideais de libertação das colónias. No âmbito cultural, Agostinho Neto funda com Lúcio Lara e o moçambicano Orlando Albuquerque, médico que casa entretanto com Alda Lara, a revista “Momento” órgão da filial da CEI em Coimbra. No âmbito desportivo a CEI constitui uma equipa de futebol e de hóquei em patins, que disputa o nacional e onde pontificam os lobitangas irmãos Couceiro (Amandio, Júlio e Carlos).
Agostinho Neto vive uma parte da sua vida académica em Coimbra desde o fim dos anos 40, transferindo-se na primeira metade dos anos 50 para Lisboa onde entra na direção da CEI, complementando as tarefas que fazia em Coimbra. Nessa altura a delegação da CEI em Coimbra encerra.
Alguns dos que andaram por Coimbra nesses tempos participaram em atividades culturais na Academia como foi o caso de Lúcio Lara e Carlos Alberto Mac Mahon Vitória Pereira que integraram no Orfeão Académico de Coimbra. BAVIL, nome de guerra de João Vieira Lopes, recentemente falecido, fez parte dos órgãos sociais da DG da AAC numa lista com Salgado Zenha. França Ndalu, Daniel Chipenda, José Araújo (Ben Barek), Avidago e o moçambicano José Julio jogavam futebol na AAC e em 1962 saem clandestinamente de Portugal para apoiar a luta armada. Nessa fuga saíram também dois irmãos Bernardino (o Zé e o David) e o Liahuca que saiu com a mulher, todos do Huambo.
No fim da década de 50 começam a afluir a Coimbra muitos angolanos, Já que as companhias onde os pais trabalhavam davam bolsas para a continuação dos estudos superiores em Portugal.
Um grupo de estudantes provenientes de várias colónias decidem constituir a primeira república, os 1000-Y-Onários que acaba no fim da década de sessenta. No núcleo inicial entra Norberto Canha a quem se junta o moçambicano António Cardoso, os angolanos Fausto Martins da Costa e “Manecas” Balonas, todos médicos. Mais tarde junta-se o António José Miranda, o M’beto Traça e o Carlos Pestana (Katiana), que acompanharam a célebre fuga dos 100 em 1962, para se juntarem à luta armada, e hoje generais nas FAAs. Na casa ainda permaneceu Rui Clington, Orlando Ferreira Rodrigues, insigne professor da Faculdade de Direito da Universidade Agostinho Neto. Foram repúblicos nos 1000 os angolanos Filipe Amado, Piricas, Arnaldo Pereira (José dos Calos) o moçambicano Óscar Monteiro, ministro da informação no governo de Samora Machel e os santomenses Celestino Costa e Carlos Graça, que chegaram a 1ºs ministros em S. Tomé e Príncipe. Alguns cabo-verdianos foram os que fecharam a casa, na Antero Quental do outro lado da rua do Quimbo dos Sobas.
(Continua )
Pensar e Falar Angola
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