O MPLA ganhou,
como se esperava,
mas quer a UNITA,
quer a CASACE
tiveram um
comportamento
digno
Acabei a minha pausa, merecida, diga-se em abono da verdade, e eis-me no regresso coincidente com o rescaldo das terceiras eleições gerais no País.
Não quero deixar de sublinhar que estas eleições terão definido um marco importante no futuro próximo, na construção da sociedade democrática que se vai instalar em Angola.
O MPLA ganhou, como se esperava, mas quer a UNITA, quer a CASA-CE tiveram um comportamento digno, que lhes dá argumentos supletivos para participarem ativamente no enriquecimento de uma Angola
democrática e em liberdade. Antero Quental (1842-1891), escritor e poeta português, escreveu: “A república é, no Estado, liberdade; nas consciências, moralidade; no trabalho, segurança; na nação, força
e independência. Para todos, riqueza; para todos, igualdade; para todos, luz”, e a democracia
enquanto realidade política tem que passar a fazer parte do quotidiano da população angolana e dos seus eleitos.
Marcada pelas circunstâncias em torno da venda da sua televisão pública (RTP) poder ser feita a grupos privados, onde aparece um putativo grupo angolano, alguma comunicação social portuguesa, alguma gente nas redes sociais e algumas eminências pardas da política portuguesa lá foram dizendo que se preparava uma fraude gigantesca e que as eleições iriam ser uma “fantochada”. Não aconteceu nada de especial e os pequenos problemas que pontualmente aconteceram, são mesmo inexpressivos perante um processo eleitoral que se revelou o de melhor resultado de todos os que se realizaram no País.
Vou recordar, para avivar a memória das pessoas, que no então Zaire, hoje Congo democrático, Mobutu foi reeleito com 98% dos votos expressos, numas eleições em 1970. O método de eleição era o seguinte:
havia dois cartões nas assembleias de voto, um vermelho e outro verde; quem quisesse votar contra Mobutu levava o vermelho e colocava-o na urna, ao contrário levava o verde, não podendo haver votos brancos no pleito eleitoral.
Em Portugal, no tempo de Salazar, era habitual haver a famosa chapelada, que era só e apenas a substituição de uma urna selada cheia de votos pela urna onde se despejavam os votos, e a verdade é que os números eram à medida, e os votos dos abstencionistas e dos mortos ainda nas listas contavam
como voto a favor da União Nacional fascista.
Para os muitos que falam de fraude, recomendo que tentem explicar-me como consegue prevalecer nas eleições autárquicas, em algumas freguesias e municípios de Portugal, ou nas eleições para delegados
distritais e nacionais de partidos do arco governativo, o chamado “crime perfeito”.
Uma fraude difícil de combater que consiste na entrega do boletim de voto com a cruz previamente feita. Os votos das eleições autárquicas em Portugal são da responsabilidade dos municípios. Exemplo: uma autarquia tem que mandar fazer 8.000 votos para 6.000 eleitores e naturalmente manda fazer numa gráfica da sua confiança; para além disso, pede uns votos a mais, umas poucas centenas, que não entram no registo contabilístico do município. Uns dias antes, o presidente da autarquia chama alguns “duvidosos” e pergunta-lhes a intenção de voto. Com a subserviência habitual, o eleitor diz logo que “lá em casa todos votamos em si”, ao que o presidente diz que “ aquele favor não está esquecido, mas como
na sua casa há quem eu desconfio que não vota em mim, só tenho a certeza se lhe der estes oito votos marcados para você distribuir lá por casa” e passa-lhe para a mão os boletins com a cruz devidamente feitinha, despedindo-se dizendo-lhe “no dia seguinte às eleições traga-me os oito votos brancos que lhe vão dar na assembleia pois na urna coloca estes”; “Assim ficamos todos sem desconfiar de quem quer que seja”. Isto funciona na perfeição e não há qualquer possibilidade de ser denunciado dado o caracter sigiloso do ato eleitoral e, embora repetindo-me, é frequente ver acontecer isto na Europa primeiromundista.
Jean Jacques Rousseau (1712-1778) escreveu no “Contrato Social » :”Uma sociedade só é democrática quando ninguém for tão rico que possa comprar alguém e ninguém seja tão pobre que tenha de se vender a alguém”. Como diria o poeta, “atrás de tempos vêm tempos e outros tempos hão-de vir” e por isso vamos ver o que desejamos saudar para o futuro!
Fernando Pereira 07/09/2012
Pensar e Falar Angola
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