segunda-feira, 10 de março de 2008

O QUASE FIM DO MUNDO

Sou médico. Não muito especializado, daqueles que servem para todas as ocasiões, género roupa unisex pronta a vestir. Habitava então a minha caótica cidade de cerca de dois milhões de habitantes, mas nunca ninguém se preocupou em saber ao certo, até podiam ser quatro. Nessa manhã muito cedo fui coordenar uma campanha de vacinação contra um surto de poliomielite acabado de surgir num conjunto de aldeias relativamente perto da cidade. Avanço acrescentar que a doença já fora dada como extinta várias vezes pelo governo, o que lhe merecera felicitações internacionais, no entanto ao fim de uns tempos regressava para provocar explicações descosidas do ministro da Saúde, acusando pragas fomentadas do exterior.

E se a vida animal de repente desaparecesse da Terra, excepto num pequeno recanto do mundo e em doses mínimas? Talvez as causas se conheçam depois, mas o que importa é a existência de alguns seres, aturdidos pelo desaparecimento de tantos, e procurando sobreviver. É sobre estes sobreviventes e as suas reacções, desejos, frustações mas também pequenas/grandes vitórias que trata o novo romance de Pepetela. Detalhe importante: o recanto do mundo que escapou à hecatombe situa-se numa desgraçada zona da desgraçada África. Um livro das publicações Dom Quixote a ser apresentado na FNAC Colombo no dia 12 de Março, 4ª feira, 18,30horas, onde serão lidos alguns excertos da obra, como o que se reproduz neste blog, pelo próprio Pepetela. Relembre-se que Pepetela é Prémio Camões 1997.


Pensar e Falar Angola

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