quarta-feira, 26 de março de 2008

(II) ORIGENS DO POVO HUAMBO - HISTÓRIA E LENDA

O texto extraído do Boletim Cultural do Huambo nº 15, de Setembro de 1962



O território correspondente ao actual Distrito do Huambo é habitado por três grupos étnicos muito fracamente diferenciados: os huambos, bailundos e sambos; havendo ainda a anotar pequenas manchas de ganguelas e quiocos, sem interesse demográfico. Aqueles se integram na tribo dos bundos, ramificação dos bantos que em época remota abandonaram o vale do Nilo, dirigindo-se para o sul e ocupando progressivamente quase toda a África aquém -Sáara. Torna-se bastante difícil determinar os termos em que se verificou a fixação destes povos em terras do Huambo. Neste ponto, anda a história misturada com a lenda, e qualquer destrinça se apresenta quase impossível. Mas é incontestável que desceram do Norte, após incerto período de permanência nas vizinhanças do Cuanza. Não deixa de ser interessante inscrever aqui uma lenda, nos termos da qual o Huambo teria sido o berço da Humanidade.



No extremo meridional do Distrito, junto à confluência do Cunhungâmua com o Cunene, pusera Deus, um dia, o primeiro homem, que se chamou Féti - Principio. Vivia ele, entretanto, aborrecido e triste, único ente racional perdido na imensa Natureza. Mas, em dada altura, foi sua atenção despertada por suave melodia que se elevava do grande rio. Aproximou-se. E, com enorme espanto e justificada alegria, viu surgir das águas um ser semelhante a ele. Louco de contentamento, logo apaixonado, arrebatou consigo a misteriosa aparição, a quem deu o nome de Tchoia - Enfeite, Perfeição. Tempos depois, brindou-os o Senhor com um filho Galangue; mais tarde, uma filha- Vihe (Bié).



Daquele descenderiam os Povos do Huambo, Sambo e Cuima. Passemos, porém, à história, na tradição baseada, e por isso mesmo não totalmente isenta de influências lendárias. D. Ana de Sousa, a extraordinária Rainha Jinga, sustentara prolongada luta contra os portugueses, colaborando, por interesse próprio e na medida de suas conveniências, com os holandeses, então senhores de Luanda. Expulsos estes por Salvador Correia, e submetida a célebre heroina negra à autoridade de Portugal, o receio de justa revindita das nossas gentes levou os sambos, huambos e bailundos, que a haviam apoiado, a abandonarem seus paises e afastarem-se para longe da capital, empurrando à sua frente quantos encontraram pelo caminho, em especial os ganguelas, assim forçados a transferir-se para as margens do Cubango. Os primeiros, após curta permanência no Candumbo, fixaram-se definitivamente na região que de seu chefe recebeu o nome- Sambo (Contagioso). Idênticamente sucedeu aos seguintes, cujo soberano, Huambo- Calunga (Grande -Mar), se instalou inicialmente na Caala, onde sua sepultura se encontra, ladeada de duas outras, ao que se julga de dois escravos sacrificados para o servirem no outro mundo ou, segundo alguns, duas de suas numerosas mulheres. Era Huambo grande apreciador de carne humana, preferindo as tenras crianças, o que levou parte do seu povo a abandoná-lo fugindo uns para a Ganda e outros para o Candumbo. Pretende a tradição, se não lenda, que Huambo fora acompanhado nesta migração, por Catiavala, seu genro, que fundou outro poderoso reino além do Queve, tomando então o nome de Bailundo (Tatuado).


http://www.aaenlh.pt/index.htm
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