sexta-feira, 16 de março de 2012

Serenidade, precisa-se

Serenidade, precisa-se

por Anibal João Melo a Sexta-feira, 16 de Março de 2012



Em momentos de crispação, a tendência é que os dois lados da barricada radicalizem as suas estratégias e opiniões até ao extremo. Os acontecimentos em torno da tentativa de manifestação ocorrida em Luanda no passado sábado, 10 de Março, são um desses episódios. Por causa dessa tendência, aquilo que seria um “factóide” transformou-se num acontecimento mediático importante.
Quem tivesse acesso às redes sociais ou assistisse à cobertura de certos meios de comunicação portugueses, naquele período, poderia ser induzido a concluir que Luanda estava “a ferro e fogo”. Não estava. Contudo, a atitude da imprensa estatal angolana, em vez de contribuir para a desmistificação da estratégia de comunicação dos adversários do governo, apenas a reforçou e “credibilizou”.
O que é que aconteceu no dia 10 de Março? Uma insignificante tentativa de manifestação anti-governamental foi confrontada por um grupo de contra-manifestantes, do que resultou o ferimento de alguns dos participantes, entre eles um dirigente partidário da oposição. Nada disso é novo, em democracia. Todos assistimos de vez em quando, pela TV, a cenas idênticas em países democráticos. O que não é justificável – vou dizê-lo – foi a passividade da polícia.  
Os adversários do governo acusam os contra-manifestantes de serem “milícias”, por causa da sua “organização”. Trata-se de uma acusação “partidarista” e que, por isso, não faz sentido. Toda a gente já percebeu que as manifestações anti-governamentais também não são “espontâneas” e “apartidárias”. Isso não é crime nenhum. Como considerar “crime”, portanto, que aqueles que apoiam o governo também se organizem para promover contra-manifestações?
O fundo da questão é outro: o risco de quer as manifestações quer as contra-manifestações descambarem em violência. É preciso dizê-lo, sem complexos: nesse campo, ninguém é “santo”. Desde logo, a violência verbal e, sobretudo, a indigência de alguns slogans dos promotores das manifestações, assim como a depredação de bens públicos, não auguram nada de bom para o futuro do país, pois trata-se de jovens que, dentro de cinco a dez anos, poderão estar no comando dos nossos destinos.
Por outro lado, disse-me uma fonte que existem provas de uma espécie de “conspiração” urdida por alguns políticos da oposição e pelas principais figuras dos movimentos de protesto juvenis, no sentido de criarem “cenários” que passem a ideia, sobretudo para o exterior do país, de que o regime pretende enveredar pela repressão policial contra as manifestações.
O que respondi foi: essas provas precisam de ser mostradas quanto antes à opinião pública. Seja como for, isso não justifica os actos de violência cometidos pelos contra-manifestantes. Tentar “legitimar” isso é, no mínimo, um tremendo erro político. Por isso, foi um absurdo a entrevista de um desses contra-manifestantes à TPA e à TV Zimbo, no fim de semana passado, procurando “justificar” os seus actos.
O mesmo tem de ser dito, entretanto, da queixa-crime apresentada pelo Bloco Democrático contra o presidente da República, responsabilizando-o pessoalmente pelos tumultos do dia 10 de Março.
O que esperam esses políticos? Até onde querem ir? As eleições serão realizadas em menos de sete meses: porquê que não se organizam, a fim de tentarem alcançar os seus objectivos? Se acham que o poder em Angola vai cair na rua, podem esperar sentados. A sua insistência em exigir a demissão do presidente sem eleições terá, acredito, uma consequência contrária à sua pretensão.
O Bloco Democrático precisa de resolver o seu problema “identitário” de base, que resulta da origem e da natureza política das suas duas principais forças constitutivas, ambas egressas do MPLA: a antiga Revolta Activa (pacifista e democrática “avant la lettre”) e a extrema-esquerda angolana. Ou seja, precisa de definir se adoptará uma estratégia moderna e moderada ou uma estratégia “de rua”, radical e vanguardista.
Em suma: antes que a situação saia do controlo, os políticos angolanos, todos eles, são chamados a adoptar uma atitude mais serena e menos crispada. Como membro do MPLA, espero e confio numa intervenção pessoal do presidente José Eduardo dos Santos nesse sentido, tal como ele fez em momentos importantes da nossa história recente. Quanto à oposição, não posso, como é óbvio, falar em nome dela.      




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