sábado, 24 de março de 2012

Opinião - UNITA e Abel Chivukuvuku

 Não sendo o Club K. Net uma fonte de grande segurança e credebilidade arrisco copiar para este blog um texto, não assinado sobre Abel Civukuvuku e a UNITA. Sairá alguém a perder ou a ganhar, em política só mais tarde se saberá. Interessa este artigo a alguém de forma especial? Acredito que sim.

Fonte: Club-k.net

Escrevo para saudar o meu antigo companheiro, Abel Chivukuvuku, pela decisão corajosa que tomou de renunciar finalmente a sua filiação na UNITA, nos termos do artigo 4º do Regulamento Interno da UNITA.
Saúdo o Abel, porque considero que ele fez o que já deveria ter feito há muito tempo. O que fez agora, foi o melhor para ele e também para a UNITA. Para aqueles que me perguntam se a UNITA não ficou mais pobre, eu digo que não. Absolutamente não, porque a UNITA ficou aliviada e com ar mais fresco. Para aqueles que acham que o Abel sairá a ganhar, eu digo que duvido bastante. Àqueles que cogitam que o maior ganhador desta proeza será o MPLA, eu digo “só o futuro dirá”. E vou sustentar estas três opinões que ora exprimo.

I- A UNITA ficou aliviada
O artigo 4º do Regulamento Interno da UNITA diz assim: “ O membro é livre para renunciar a sua filiação em qualquer momento”. Portanto, Abel exerceu um direito como homem livre, o que prova mais uma vez o carácter aberto e democrático da UNITA como um Partido de homens e mulheres livres.

Porém, a renúncia de Abel Epalanga Chivukuvuku, consumada agora, já vem sendo preparada há pelo menos 14 anos, muito concretamente, depois de ter sido indicado pela Direcção da UNITA para presidir o seu grupo parlamentar, em 1998. Conheço bem o Abel, porque fui colega dele quer no Grupo parlamentar, quer no Partido. Foi exactamente por volta de 1998 que Chivukuvuku começou a desenvolver claramente um projecto próprio, radicado numa ambição pessoal, legítima, que é a de ser presidente duma força política partidária. Ele queria tanto ser presidente da UNITA, mas a falta de humildade não lhe permitiu ver que preside a UNITA quem os seus membros elegem e não apenas quem quer.

Abel iniciou então uma série de atentados à coesão interna da UNITA, que se traduziram, em síntese, nos seguintes actos:

1. Críticas abertas e deslealdade à Direcção, por via de declarações públicas e não só;

2. participação activa na criação do projecto UNITA Renovada, seguida de recuo tático e indefinição; 

3-Depois de ter apoiado a candidatura do Presidente Samakuva, em 2003, Chivuku começou a lançar a o boato de que havia um “Acordo” secreto, entre os dois, segundo o qual, Samakuva faria apenas a transição, ou seja, ficaria apenas um mandato, para ele, Abel, ser o Presidente a seguir. Era falso, porque não havia acordo nenhum.

4- Ao longo do 1º mandato de Samakuva, de 2003 a 2007, Abel esteve na Direcção apenas para sabotar os trabalhos da UNITA. Movido pelo seu projecto próprio e ambição extrema, optou por combater a UNITA por dentro, ora desmobilizando os membros, ora furtando-se a trabalhar, or atacando subtilmente os projectos e programas do Partido.

5- Abel concorreu à eleição presidencial da UNITA, em 2007, e foi copiosamente derrotado no X Congresso. Teve apenas 26,6%% dos votos contra 73,4% de Isaías Samakuva. Depois desta derrota expressiva, Abel optou claramente por levar a cabo actos de subversão interna massiva, obrigando o Partido a puni-lo depois de o advertir, com repreensão registada no seio da Comissão Política e de acordo com os Estatutos da UNITA. O grupo que livremente apoiou a sua candidatura no X Congresso continuou a rejeitar, pela sua conduta, o princípio democrático, pois nunca se submeteu à vontade da maioria: pararam de trabalhar; pararam de participar e começaram a trabalhar para “afundar o barco”. Não me admira que tenham mesmo votado contra a UNITA nas eleições de 2008.

6.Abel aproveitou a fraude feita pelo MPLA, em 2008, para mais uma vez promover a sua agenda pessoal. Todos sabemos que houve fraude massiva, que os resultados foram fabricados, mas Abel levantou a tese de que o Presidente devia ser demitido. A Comissão Política, sem votos contra, não concordou e deu o seu voto de confiança ao Presidente Samakuva. Foi um balde de água fria para as pretensões de Chivukuvuku.

7. A partir daí, em fins de 2008 e ao longo de 2009, Abel começou a alimentar no seio do Partido, duas teses: a necessidade de um Congresso extraordinário para remover a Direcção eleita e a possibilidade de ser candidato independente a Presidente da República.

8. Surgiu a Constituição atípica de 2010 com JES a acabar com as candidaturas independentes à Presidente da República e a introduzir o conceito de “cabeça de lista”.

9- A partir daí, Chivukuvuku lança também no seio da UNITA a ideia – primeiro velada depois aberta - de que ele é a melhor pessoa na terra para ser “cabeça de lista” da UNITA. Por isso, havia “necessidade” de um “Congresso Extraordinário” para alterar o então número 3 do artigo 8º dos Estatutos vigentes, que estabelecia o seguinte: “O Presidente da UNITA é o candidato do Partido às eleições nacionais para o cargo de Presidente da República de Angola”.

10- A III Reunião da Comissão Política da UNITA, realizada nos dias 27 e 28 de Setembro de 2010, deliberou por mais de cem intenções de voto contra menos de dez, que o XI Congresso (que calhava em 2011) deveria ser realizado apenas depois das eleições previstas para 2012. 

11- Por proposta do Presidente do Partido, aquela decisão foi debatida novamente no seio do Comité Permanente, e alterada em 2011. A UNITA decidiu no primeiro trimestre de 2011 fazer mesmo o seu XI Congresso em 2011.

12- Novamente, Abel não foi leal à UNITA, porque em 20 de Julho de 2011, orientou alguns dos seus seguidores para virem a público contestar a legitimidade da Direcção do partido e exigir a destituição imediata do Presidente e dos órgãos de Direcção do Partido e a criação de uma “Comissão de Gestão” em sua substituição. Estas reivindicações constam de um Memorando que foi tornado público naquele dia. Ao mesmo, manipulou alguns mais velhos para parecerem, diante do público, seus apoiantes.

13 – Numa reunião extraordinária do Comité Permanente convocada para analisar o fenómeno, no dia 2 de Agosto de 2011, os mais velhos negaram redondamente ter fomentado ou reconhecido tal grupo de reflexão. Abel Chivukuvuku, por seu turno, também negou peremptoriamente ser o criador e mentor principal do referido grupo. Foi mais um acto de “liderança” de Abel Chivukuvuku, que viu gorado mais um atentado contra a UNITA. 

14 – Nessa reunião, a UNITA “reiterou a legitimidade plena do mandato dos órgãos de Direcção do Partido eleitos no X Congresso, em particular o mandato do Presidente Isaías Henrique Ngola Samakuva que, nos termos do Artigo 22º conjugado com artigo 41º, termina com a tomada de posse do Presidente eleito. Condenou o atentado à coesão e a Unidade do Partido, as tentativas de implosão da Direcção do Partido, assim como os desvios aos documentos reitores do Partido, nomeadamente aos seus Estatutos e Regulamento Interno.

Considerou “infracção disciplinar gravíssima, nos termos do n°.14 do Artigo 7º dos Estatutos, e do nº3 do Artigo 15º do Regulamento Interno, alíneas (a), (c), (f), (i), a criação e apoio ao chamado “grupo de reflexão” e orientou o Conselho Nacional de Jurisdição no sentido de tornar expedito a instrução dos processos disciplinares respectivos.

15- Abel estava à espera que a UNITA o sancionasse para se fazer de vítima. A UNITA decidiu arquivar o processo e o caminho continuou aberto para Abel se candidatar novamente à presidência da UNITA no XI Congresso, realizado em Dezembro de 2011. Desta vez, Abel fugiu ao combate. Se o aceitasse, teria certamente menos votos do que um novo candidato, o professor José Pedro Katchiungo. 

16- E assim chegamos a 2012. Tendo os militantes da UNITA rejeitado a pretensão de Chjivukuvuku à liderança do nosso Partido, tendo JES abolido as candidaturas independentes, tendo a UNITA gerido habilidosamente o dossier “grupo de reflexão”, tendo o XI Congresso reeleito Samakuva expressivamente, com mais de 80% dos votos, sendo incapaz de ser humilde e servir a UNITA de acordo com a vontade dos membros, Chivukuvuku fez o que já devia ter feito há muito tempo: deixar a UNITA em paz.

É por estas razões que considero ser um grande alívio para a UNITA a saída de Abel Chivukuvuku. Não haverá mais ervas daninhas no jardim nem cartas viciadas no baralho nem haverá mais uns a remar e outros a furar para afundar o barco. 

II – Abel sairá a ganhar?
Acho que não. Os alicerces da CASA são uma argamassa formada pela conduta do Abel e sua ambição e visão, por um lado, e por outro, os ideais da UNITA. Ora, sobre a conduta do Abel, os actos falam mais alto do que as palavras. Quanto aos ideais, a CASA não pode fundar-se nos alicerces da UNITA. A CASA tem que ter programa próprio, princípios e valores próprios. Não se defende Muangai fora da UNITA, porque não há Muangai fora da UNITA. Nem se constroem novas realidades com as marcas dos outros. Aliás, o que é mesmo a CASA? A CASA ainda não existe: não tem tecto, nem cabocos nem paredes.

A CASA é um Partido? Não, porque não reniu as assinaturas exigidas por lei nem está registado no Tribunal Supremo. A CASA é uma Coligação de Partidos? Também não, porque, pelo que sei, não foi formada nenhuma Aliança ou Pacto constitutivo. Trata-se apenas de uma intenção de alguém afirmar-se como “líder” de uma casa, ainda não construída mas sem ter sido eleito popr ninguém. Um Partido pode ser fundado por uma pessoa, mas uma coligação de partidos só pode ser firmada pos partidos já existentes. Em 2007, Chivuku teve apenas 262 votos na UNITA, mas nem todos estes votantes da UNITA aderiram à CASA, nem vão aderir. E os que forem por emoção momentânea, vão voltar à casa, digo, à UNITA. 



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