sábado, 16 de fevereiro de 2008

SOLIDARIEDADE

Excerto da entrevista de António Marinho e Pinto, bastonário da Ordem dos Advogados, à Revista NS, 109, de 9 de Fevereiro de 2008.

Em Coimbra, foi preso pela polícia política. Esteve detido em Caxias.
Ainda era caloiro, estava em Coimbra há quatro meses, pertencia a uma estrutura semilegal, semiclandestina ligada ao Partido Comunista Português que era o Movimento Democrático Estudantil (MDE). O MDE reunia numa república, onde eu vivia, os Pim-Pim-Nelas. Eu pertencia ao secretariado do MDE, era muito activo. Vinha de Vila Real já com intervenção política e sobretudo muito influenciado por duas pessoas: Francisco Seixas da Costa, actualmente embaixador no Brasil, e o cineasta João Botelho, estudante de Coimbra e participante nas actividades do Círculo de Iniciação Teatral da Academia de Coimbra (CITAC). Levavam aquela propaganda toda nas férias e tínhamos discussões enormes. Quando cheguei a Coimbra, no ano lectivo de 1970-71, já estava motivado para o movimento académico, quer pela greve aos exames de 1969 quer pelos acontecimentos de Maio de 68, em França. Aliás, eu estivera em Coimbra no ano anterior, participando em certos movimentos da crise. Quando cheguei como estudante, fui logo eleito delegado de curso no primeiro ano. Criou-se então um movimento de solidariedade com dois colegas nossos que estavam presos: Garcia Neto, do Kimbo dos Sobas...
Que era do MPLA.
Sim e que acabou por morrer na altura da insurreição do Nito Alves contra o Agostinho Neto. O outro era o Saborosa.
Também angolano, também do MPLA, mas branco.
Estavam ambos presos, acusados de pertencerem ao MPLA. Desencadeámos um movimento de solidariedade, formalmente humanista. Sobretudo Garcia Neto, sendo angolano e pobre, estava em condições deploráveis, faltando-lhe inclusive produtos higiénicos. Naquele tempo só a família podia visitar, e como não tinha cá a família... Mandámos livros, cigarros, jornais, pijamas. Mas, à sombra disso, fizemos uma campanha política intensa contra a guerra colonial. E o Governo não perdoou isso, com Veiga Simão (Ministro da Educação) à cabeça, esse grande democrata...
Quando ocorreu?
Em Fevereiro de 1971...

Pensar e Falar Angola

1 comentário:

Anónimo disse...

Olá!
Fizeste bem em repescar isto. Há um pequeno reparo, não sei se será da transcrição. É que o Saborosa que é citado, é com certeza o Sabrosa, que foi médico. Já faleceu, em Luanda, há uns vinte anos, de doença crónica. Fui amigo dele. A viúva continua a morar aí.
Cumprimentos
Rodrigues Vaz
Autor de "Angola - Estórias Esquecidas"
Manuel Vaz manuelrvaz@gmail.com