Yara Simão Jornal de Angola
Olhos grandes e expressivos, rostos arredondados, cabelos ruivos e cheios constam entre as principais características de um povo de trato delicado. A estas juntam-se a pele escura e seca. Encontramo-los a 130 km do município do Virei, debaixo do uma sombra. O ponteiro do relógio assinalava 12h45, altura em que a família se reunia para saborear o pirão com carne seca. Trata-se dos Kwisses, o primeiro povo não bantu que habita em Angola há milhares de anos.
Os Kwisses, povos negro-africanos não-bantus fazem parte do chamado "Fundo Antigo do Povoamento Negro da Região" e constitui hoje o mais antigo povo a habitar a região.
Habitam as zonas montanhosas da região, como Morro das Neves, sito no município do Camucuio e o interior da região do Caraculo, onde ocupam grande número de grutas naturais abertas sobre rochas.
Esse povo usavam como vestuário, uma pequena pele de animal a cobrir pela frente, a diversidade dos sexos, não se lhes encontrou o sinal de indústria. Desconhecem a pólvora, a arma de fogo, servindo-se apenas de zagaias e de setas, como instrumentos de ataque e defesa.
Vivem na forma mais arcaica de organização económica e social dedicando-se, ainda, à caça e à recolecção. Mas, é visível nos dias de hoje, por parte deste grupo, uma inclinação à criação de gado e à pastorícia, prova disso verificamos no Morro das Neves, município do Camucuio.
Os Kwisses, devido a degradação do seu modo de vida motivada pela progressiva degradação do meio ambiente que, por um lado, é favorável à caça e à recolecção e por outro lado, a situação de humilhação a que estão sujeitos por parte dos mucubais, até ao ponto de sentirem-se forçados a integrar no seio destes e outros povos.
Um dos problemas que afecta esta povoação, são as elevadas perdas constantes de gado devido a escassez de água que vem a constituir um sério perigo para a sobrevivência dos animais e do próprio povo.
O contacto com elementos estranhos a cultura destes povos reveste-se de extrema preocupação, uma vez que começam a influenciar de forma negativa no seu normal modo de vida e na sua cultura, com o risco de perderem a sua identidade cultural.
A frequência de comerciantes ilegais nestas regiões transportando produtos que, muitas vezes não correspondem a realidade cultural destes, nem as suas reais necessidades, podem influenciar de forma negativa sua normal vivência e distorcer a sua identidade cultural, com todos os ricos que tal situação possa acarretar.
Kwisses e mucubais vivem há milhares de anos como rivais
Vinganha Muetutima, o chefe da tribo afirmou que desde os primórdios da sua geração, nunca se importaram a economizar. Viviam simplesmente do que a natureza lhes oferecia. Tempos volvidos apareceram os mucubais, já mais assimilados e começaram a fazer a pastorícia que se tornou anos depois no seu meio de sobrevivência.
Daí, contou, começou a surgir o espírito de grandeza por parte deles e trazer no seio da região a luta de poder, originando o distanciamento entre os dois povos até aos dias de hoje.
"Os mucubais habitaram nesta região muitos anos depois dos Kwisses. Fomos os primeiros a habitar nestas montanhas, sempre vivemos da recolecção, dos frutos silvestres, matamos animais para nos alimentarmos e bebemos águas da nascente e das chuvas. Hoje os mucubais querem mandar em nós. Sendo assim, somos obrigados a vestirmo-nos e comportarmo-nos como eles."
Vinganha Muetutima disse que os Kwisses não podem sair da sua área para habitar por muito tempo onde vivem mucubais e nem sequer falar a sua língua de origem. Ambos dificilmente se falam. Os problemas aumentam quando um Kwisse e uma mucubal, ou vice-versa se apaixonam.
Os responsáveis desses povos são obrigados a realizar uma reunião extraordinária na presença dos dois e proibir um possível namoro. E se tal acontecer às escondidas, ambos são destituídos das suas povoações.
O chefe da tribo informou que muitos deles foram obrigados a abandonar a região Norte e foram para a parte Sul, para não viverem sobre a dependência dos mucubais, os considerados donos das terras. "Eu e a minha família, fomos os únicos que ficamos nesta região e não pretendemos sair, mas sim lutar para que um dia possamos ser reconhecidos como os primeiros habitantes destas regiões mesmo não tendo bois ou cabritos."
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