domingo, 27 de setembro de 2009

Ágora (84) - Drogas, Sexo e Rock and Roll




Comemoraram-se neste início de semana, quarenta anos sobre a realização do festival de Woodstock, acontecimento musical marcante de uma geração que determinou que a partir daquele momento nada deveria passar a ser como antes!
Por obra e graça de um conjunto de cinco “candidatos” a empresários, que publicaram no New York Times e no Wall Street Journal, um anuncio que dizia literalmente isto: "Jovens com capital ilimitado buscam oportunidades de investimento legítimas, interessantes, e propostas de negócios". Montaram um esquema que proporcionasse a venda de bilhetes, em lojas de venda de discos em Nova York e pelo correio, para os três dias de festival.
Inicialmente as contas estavam feitas para 200.000 pessoas, o que já começava a ser demasiado para o pequeno espaço da cidade de [Bethel, onde se realizou o festival, que acabou por ser declarada “zona de calamidade publica”, pois acorreram 500.000 pessoas que derrubaram as cercas, e criaram embaraços enormes para a logística e apoio médico nos dias em que o festival foi decorrendo.
O festival inevitavelmente passou a gratuito, pois foi impossível cobrar o que quer que fosse, e acabou por ser o ponto culminante da contestação à guerra do Vietname, para além de ter constituído o maior marco referencial do movimento hippy, que acabou por marcar a alteração dos costumes dos anos setenta, e que não anteviam que pudessem ter surgido uns anos 80 tão cinzentos e conformistas.
Joan Baez, Arlo Guthrie, filho de Woody Guthrie, Ravi Shankar, Richie Heavens, Santana, Creedence Clearwater Revivel, Janis Joplin, The Who, Jefferson Airplane, Joe Cocker, Crosby, Still § Nash, Neil Young, Jimi Hendrix, Blood Sweet and Tears, foram só alguns das muitas bandas e músicos que desfilaram em 15, 16 e 17 de Agosto de 1969, naquela minúscula cidade que quase entupias as estradas do estado de Nova York, e que terá abanado as bases do conservadorismo cínico em que assentava a sociedade americana dos anos 60, herança de um maccarthysmo e da perseguição torpe a qualquer projecto liberalizante, de tendências vagamente conotadas com alguma esquerda, ainda que ideologicamente difusa.
Nada antevia que da geração de Woodstock viessem a sair alguns dos “jovens turcos” do Reaganismo, período marcadamente conservador, que terá sido uma resposta ao “desvario dos anos 60” como disse em determinado momento um conselheiro de segurança de Reagan, Oliver North, depois implicado numa obscura troca de armas em que envolvia o Irão e as forças que tentavam derrubar os Sandinistas na Nicarágua.
A propósito do falecido ex-presidente Ronald Reagan, lembro uma anedota interessante que era muito contada no epílogo da “Guerra Fria”, talvez actual q.b., tendo em conta a globalização e a circulação desregulada de capitais num capitalismo globalizado, que por acaso já teve outro nome mais em voga noutros tempos ainda não muito recuados: Imperialismo.
Reagan nunca perdeu o cabotinismo que sempre o caracterizou, como actor de filmes de segunda série, e volta e meia pegava no telefone vermelho e ligava a Brejnev, então todo-poderoso de uma União Soviética, que tentava afinar estrofes para os amanhãs que deveriam cantar, e que emudeceram ao primeiro safanão.
A conversa telefónica de Reagan era que estava a ter um sono em que o Kremlin, estava pintado de azul vermelho e branco, e onde estava hasteada a bandeira vermelha da foice, martelo e estrela, estava uma bandeira americana com 51 Estados ( a bandeira norte americana tem actualmente 50 estrelas). Brejnev não gostou da piada e no dia seguinte “ vingou-se” e telefonou a Reagan, dizendo que também tinha tido um sonho e que na Casa Branca estava definitivamente hasteada a bandeira vermelha com a foice, o martelo e a estrela. Reagan, porque tinha alguma fibra de cowboy, resolveu ligar na noite seguinte e disse a Brejnev, que concordava com o sonho dele no dia anterior, mas que ele também tinha sonhado que uma bandeira igual estava no alto da cúpula principal uma bandeira vermelha, com a foice, o martelo e a estrela, e Brejnev terá dito que não achava nada de extraordinário, pois era a bandeira que lá flutuava desde 1917, mas Reagan disse que em baixo estava escrito em caracteres chineses: Bem vindo à Republica Popular da China!
Desculpar-me-ão este devaneio, mas há dias em que as crónicas que temos que ir fazendo não saem assim tão bem, como comemorar quarenta anos de Woodstock mereceriam!
Fernando Pereira
17/08/09


Pensar e Falar Angola

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