domingo, 20 de setembro de 2009

Ágora (83) - Passadeiras




Até há poucos dias nunca tinha ouvido falar de Iain Macmillon (1938-2006), mas quando no pretérito 8 de Agosto, uma imensidão de fãs, se deslocou à famosa passadeira de Abbey Road, para comemorar o quadragésimo aniversário do lançamento do último LP dos Beatles, fiquei a saber que a foto perene foi sua.
Em Londres, em frente ao estúdio de gravação, a passadeira de Abbey Road transformou-se na “zebra” mais conhecida do mundo, cenário simples da capa do último LP gravado pelos quatro de Liverpool.
Já que se fala de musica, por se “efermizar” quadragésimos aniversários, lembro ter tido a oportunidade de “telever” um dos programas de ruptura, no espaço televisivo português nos anos sessenta, o efémero mas sempre lembrado Zip-Zip.
Vivia circunstancialmente em Lisboa, e partilhava o entusiasmo possível de uma significativa fatia de telespectadores, que invariavelmente todas as segundas feiras de Abril a Outubro desse cada vez mais distante 1969, se juntavam aos magotes para ver um programa, que destoava claramente do cinzentismo criptofascista da cultura então prevalecente.
Eu era um adolescente, que gostava de música, e que tinha o privilégio de ter um hábito ganho precocemente, o da leitura, pelo que comecei a ver o Zip-Zip com um interesse enorme.
Neste programa, que o meu professor de português no Liceu Camões, o escritor Vergílio Ferreira, nos incentivou a ver com detalhe, comecei a conhecer muita gente que nem sonhava que existia, e cantores de que nunca ouvira falar e que nada tinha a ver com o nacional-cançonetismo, que animava o Portugal do Minho a Timor.
José Afonso que a 2 de Agosto faria 80 anos, já conhecia, pois tinha sido colega da minha mãe em Coimbra, embora o que cantou no Zip-Zip foi uma surpresa, e todo o conjunto dos chamados “baladeiros”, foram motivadores para passar a entrar noutros conceitos musicais.
Francisco Naia, Fanhais, Hugo Maia de Loureiro, Filarmónica Fraude, Duarte e Círiaco, Carlos Moniz, Manuel Freire, José Jorge Letria, Carlos Bastos, Julio Pereira, José Barata Moura e tantos outros que anos mais tarde deram tons e palavras a um libertador 25 de Abril de 1974.
Nesse programa de Fialho Gouveia, Raul Solnado, já falecidos, Carlos Cruz e José Nuno Martins surge um “baladeiro” de trinta anos, angolano, atleta do Benfica e do Belenenses, que faz a sua aparição no mundo da musica, e passou a ser a voz de Angola com maior notoriedade em Portugal. Rui Mingas, com uma camisola de malha clara, cantou Ixi Ami – Minha Terra, e o Teatro Villaret quase vinha abaixo, perante a estupefacção dos espectadores pela voz que acabava de ser revelada.
Foi a primeira vez que vi o Rui Mingas, e apesar da diferença dos anos se manterem, numa verdade do senhor de La Palice, continuo a admirá-lo como intérprete de excelência, para além de uma amizade e respeito que me habituei a aumentar a cada momento, lastimando apenas que a musica de Angola só o consiga ter a espaços muito prolongados no tempo.
Tanta vez trauteei a “Cantiga por Luciana”, entusiasmado pela versão de Rui Mingas, que é indiscutivelmente melhor que a de Evinha, vencedora do quarto Festival Internacional da Canção do Rio de Janeiro em 1969.
Rui Mingas, que há quarenta anos estava provavelmente longe de pensar que seis anos depois, iria partilhar com Manuel Rui Monteiro tanta coisa bonita, principalmente o hino que acompanhou a subida da vermelha, negra e amarela roda dentada, catana e estrela do Novembro de todo o nosso contentamento.
Atrasados, aqui ficam os parabéns para o Rui Mingas, que este ano comemorou quarenta anos do dia 12 de Maio de 1969, dia em que fez trinta anos!

Fernando Pereira
11/08/09

Pensar e Falar Angola

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