quarta-feira, 20 de agosto de 2008

A ressurreição do Huambo

HENRIQUE BOTEQUILHA, Huambo










Angola. Palco de um dos mais violentos episódios da guerra civil angolana, o Huambo está a renascer na forma de um estaleiro em grande escala. Estradas, edifícios e serviços estão a ser recuperados e o 'boom' do sector da construção está a servir de alavanca para recuperar tudo o resto







Onde havia ruínas apareceram casas, nas artérias bombardeadas alisou-se o asfalto, da obscuridade fez-se luz e o Huambo, palco de um dos mais violentos episódios da guerra civil de Angola, ressuscitou. Em apenas três anos, uma das cidades mais destruídas do país renasceu na forma de um estaleiro em grande escala, em que além das obras no espaço público, arruamentos e passeios se incentivou, com subsídios estatais, a recuperação de habitações.

"O Huambo cresceu consideravelmente. As nossas estradas estão reabilitadas, as nossas casas também estão a ser reabilitadas, o Huambo cresceu e vai crescer mais ainda", atesta Odete Lucas, 32 anos, técnica da Acção de Desenvolvimento Rural e Ambiente, uma ONG angolana. "Passei aqui o tempo de guerra e pensava que não era possível desenvolver o Huambo. Actualmente, estou a ver que é possível."

Odete era uma adolescente, em 1993, quando as tropas do Governo ali estiveram sitiadas 55 dias, até ao assalto final das forças da UNITA. As ruas que já foram frentes de batalha são hoje cenário da reconstrução vertiginosa. Ainda há três anos, eram chagas urbanas abertas por balas e obuses. Agora, os carros circulam sobre um tapete liso e são ordenados por semáforos fotovoltaicos que o empresário Valentim Amões, falecido num acidente aéreo recente, plantou por toda a cidade.

O centro do poder, na actual Praça Agostinho Neto, foi retomado pelas tropas do Governo em 1995, mas da violência da reconquista já não restam sinais. Os edifícios dos serviços provinciais e os correios foram reconstruídos por empresas portuguesas, que deram à praça um toque festivo, decorando--a com luzes amarelas e azuis, abraçando um obelisco dedicado a Agostinho Neto, representado por uma imagem do primeiro presidente de Angola de livro na mão e kalashnikov à tiracolo. O aeroporto foi recuperado, novas universidades devolvem a cidade ao centro do conhecimento angolano, um novo hospital está a ser erguido numa empreitada chinesa, um arrojado pavilhão foi construído para acolher o AfroBasket 2007.

"O Huambo de hoje é um bocado consequência do que vivemos ontem", assinala Júnior Chinendele, responsável pelo projecto Casa Ecológica, que pretende fazer da cidade uma referência ambiental na África Austral. Junto do seu escritório estende-se o jardim botânico, centro do corredor verde que agora atravessa a cidade. É lá que, durante a tarde, dezenas de estudantes se deitam sobre as gramíneas a ler.

Além do quadro de destruição, os serviços ainda há três anos eram quase inexistentes, a água mal corria nas torneiras e as lâmpadas raramente acendiam. A população circulava apática: cidade fantasma. "Muitas pessoas diziam que nunca mais voltavam, mas estão a aparecer agora", testemunha Odete Lucas. Apesar das limitações que persistem no abastecimento de água e energia, o "boom" do sector da construção está a ser a alavanca para tudo o resto: infra-estruturas, serviços e emprego. "Dantes para se ter um meio de transporte como uma viatura era um sonho. Hoje, quase todo o pessoal tem", refere. "É muita coisa!", afirma a técnica da ONG angolana na sua declaração de amor à cidade. "É muito bom viver no Huambo, eu pelo menos não quero que me tirem daqui. Residir noutra província, não!"




-Jornalista da Lusa


































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