segunda-feira, 11 de agosto de 2008

"A Primeira Nacionalista Angolana"

Literatura: História da Rainha Ginga, "a primeira nacionalista angolana", marca estreia literária de Manuel Ricardo Miranda

Lisboa, 10 Ago (Lusa) - Economista de profissão, Manuel Ricardo Miranda, decidiu aos 65 anos tentar a literatura e escreveu uma história da Rainha Ginga, a quem chama "a primeira nacionalista africana".

Nzinga Mbandi Ngola, conhecida como Ginga, foi Rainha dos Mbundos durante 40 anos e, segundo o autor, "uma mulher de forte personalidade, que tinha uma visão política e de nação e não aceitou a escravidão do seu povo, pois sabia que sem pessoas não podia ter uma nação".

"Sempre se opôs à escravatura e, ao contrário do Rei do Congo e das elites congolesas, nunca pactuou com os negreiros para abastecer de gentes as plantações de açúcar no Brasil", afirmou à Lusa o autor.

Manuel Ricardo Miranda salientou ainda o facto de a monarca, baptizada pelo rito católico como Ana de Sousa, mas sempre apelidada de Ginga, ter governado os Mbundos durante quatro décadas, morrendo aos 82 anos, em 1663. Sucedeu-lhe o seu irmão.

A história deste livro começou quando Manuel Ricardo Miranda foi militar em Angola ao serviço do Exército português e conheceu um descendente desta Rainha, que viveu há mais de 300 anos.

Um militar negro, Cangula, sob seu comando, disse-lhe certa vez ser descendente da Rainha Ginga e prová-lo uma tatuagem que tinha, mas se recusou então a mostrar.

Cangula viria a falecer numa emboscada quando patrulhava um troço da linha-férrea de Benguela. Agonizante, disse a Manuel Ricardo Miranda que "ia ver a tatuagem da Rainha e pediu para lhe levantar o braço direito onde, sob o sovaco, tinha tatuada uma galinhola, que representava essa ascendência régia".

Manuel Ricardo Miranda regressou, entretanto, a Portugal e, "nunca tendo esquecido esta história", foi-se dedicando à sua vida profissional, "em que lia muitos relatórios e as memórias por vezes esfumavam-se".

"A minha vida profissional não me permitiu dedicar-me à escrita, apesar de ler sempre e a História ser um dos meus interesses", disse.

Durante dois anos investigou em arquivos e bibliotecas, leu várias obras e foi escrevendo o seu livro intitulado "Ginga, Rainha de Angola", que define como "uma ficção baseada em factos históricos".

Além da documentação sobre uma figura "em que se mistura muito a lenda com a verdade histórica", foram também "decisivas" para a escrita do romance as recordações que guarda das paisagens angolanas.

Tendo em vista "uma outra ficção totalmente diferente", Manuel Ricardo Miranda observou estar a aguardar a recepção a "Ginga, Rainha de Angola" para, se for positiva, se abalançar "a uma outra carreira, na área da literatura".

© 2008 LUSA - Agência de Notícias de Portugal, S.A.
2008-08-10 10:50:02


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