Numa recente entrevista ao jornal português Diário de Notícias (14/07/07), o arquiteto Fernando Batalha disse a Leonor Figueiredo, que só queria viver até ao lançamento do próximo livro,”As Povoações Históricas de Angola”!
O livro acabou de sair, e já está disponível para todos os que por motivos profissionais ou por puro diletantismo, se interessam pelo património histórico ainda edificado.
Editado pela Horizonte, em 2008, num livro de 138 páginas, com capa dura e profusamente ilustrado, com o prefácio do arquiteto José Manuel Fernandes, o arquiteto Batalha faz-nos reviver o passado, em Cambambe, Massangano, Dondo, Nova Oeiras e Muxima. Sem procurar ser exaustivo, o autor consegue fazer uma abordagem muito estimulante, de determinadas épocas, de outras mercadorias e de outros mercadores. Do seu acervo fotográfico, que deduzo ser riquíssimo, reproduzem-se muitas edificações, sendo nalguns casos, ruínas preservadas pela sua teimosia, depois de terem sido lugares de trocas e também de baldrocas, como era o quotidiano comercial colonial desde os tempos da pombeirada.
Não convém esquecer, que este Senhor viveu em Angola de 1938 a 1983, tendo sido um entusiasta na defesa do património, como já disse numa “Agora” anterior, pelo que aqui fica apenas a recomendação do livro, que tem na capa, as escadas de acesso ao porto fluvial da Muxima!Não sou de peregrinar, embora saiba que há peregrinos, agora particularmente na moda, desde que o escritor brasileiro Paulo Coelho, um Harold Robbins do misticismo, que através do seu livro “Diário de um Mago”, colocou milhares de leitores a palmilharem a Estrada de Santiago, nessa multidão que vai até à praça do Obradoiro em Santiago de Compostela na Galiza, para cumprirem as “suas promessas”.Desculpem-me os admiradores de Paulo Coelho e de Santiago, mas eu sobre esse tema, o que ainda mais gosto é do filme do Buñuel “Estrada de Santiago”, que revejo quando posso.Tanta conversa, para dizer que fui duas vezes à Muxima em toda a minha vida e em nenhuma delas fui com convicção de peregrino.Fui sempre pela estrada que virava no 44, que era alcatroadamente esburacada até à jangada, e depois arenosamente emburacada até à Muxima.Apesar de não acreditar nos ritos e mitos que convergem na vila, é um espaço que não me deixa indiferente, pela sua calma e pela envolvência estranha da vegetação, da cor ocre da sua terra e da grandeza do braço do Kwanza. A Igreja jesuíta é um belíssimo exemplar, e quando entro no local das oferendas fico extasiado com o que vejo, pois entre as ofertas que havia encontrei vários exemplares da “Vida Soviética”, a “Revista Militar”, o “Sputnick”, e ainda alguns exemplares de livros de poetas angolanos da União dos Escritores, para além de latas vazias de óleo de palma holandês e algumas especiarias que proliferavam nas prateleiras dos “Nzambas”, numa altura em que o MCI (Ministério das Coisas Incríveis), resolveu apimentar e acanelar as paupérrimas dietas dos angolanos, do tempo do nunca esquecido, e nalguns casos saudoso arroz com peixe frito.Depois de descrever este pechisbeque que havia na Igreja de Nossa Senhora da Muxima, fica-me a lembrança das vezes que lá fui, em que na última disse do cimo do monte sobranceiro à vila: “Esta foi a primeira vez que cá venho desde a última que cá estive”, que era como normalmente o presidente português Tomás iniciava os discursos em qualquer terra que repetia visita.
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