domingo, 31 de agosto de 2008
Tácticas da construção civil
Homenagem aos heróis angolanos ..
Foi escrito em forma poética pois só assim é possível transmitir com a profundidade e amplitude necessárias determinadas realidades da vida .
Quando se tem uma ideia fixa ou radical na cabeça sobre determinado assunto ou processo , geralmente as palavras e mensagens dos outros são interpretadas segundo uma lógica muito pessoal e são captadas de acordo com as vivências e experiências individuais .
A mensagem do texto homenageando os heróis angolanos deve ser analisada considerando-se muitos ângulos ou seja , é preciso haver uma interpretação não só das palavras escritas mas também das mensagens diferenciadas que estão por detrás das palavras e que são tão ou mais importantes .
Neste texto não é necessário fazer-se alusão a nomes nem a factos nem tão pouco a organizações pois cada um sabe de si e das realidades envolventes sentidas e vividas mas cada um é uma pequena mas importante parte de um todo .
Muitas vezes as realidades de cada um , passadas e presentes , não são do conhecimento dos outros ou apenas são conhecidas por alguns ao redor .
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Nesta mensagem o mais importante é sublinhar o esforço dos muitos e diversos intervenientes , com seu sangue , suor e lágrimas , nesta construção angolana .
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É preciso notar que Angola , assim como os outros países dos PALOP , assumiram sua independência contrariando a vontade e os interesses de muitos Governos de outros países e esse esforço rumo à liberdade deve-se a muitos angolanos de diferentes cores e ideias , muitos deles heróis , uns conhecidos e muitos outros desconhecidos ou menos conhecidos .
Após tantos anos , com o sacrifício de muitos , vivos e mortos , sem importar as cores das ideias ou da raça , finalmente a Nação Angolana vai começar a construir outros caminhos que levem a um maior desenvolvimento .
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Felizmente temos a honra e prazer de conhecer e conviver com alguns desses heróis , uns ainda aqui e outros do outro lado da vida .
(29) - Ágora - Nem cântaro, nem fonte, nem Maria
sábado, 30 de agosto de 2008
sexta-feira, 29 de agosto de 2008
HOMENAGEM AOS NOSSOS HERÓIS
Angola cada vez mais continuará a navegar em oceanos largos e horizontes mais profundos .
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Muitos em Angola são heróis , apesar de não aparecerem na mídia mas podemos ter a certeza que são GENTES de temperamento firme e alma forjada com esmero .
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HOMENAGEM
Festival de Teatro Lusófono
A actual performance das artes cénicas angolanas está a ser exibida, desde segunda-feira, no Brasil, pelo actor Dom Pietro Dikota com a apresentação do monólogo “Nojo”:
Jogo de medos e de revoltas, mas também de poesia e doces – amargas nostalgias. Ele previne-nos contra si mesmo e os seus semelhantes, ele é generoso e arrogante, amargo e afectivo. Ele joga ao dilema eterno do ser e do não – ser. Ele propõe-nos uma mútua projecção, lírica e pungente. Dos nossos temores mais arcaicos tornados vivos pela sua presença. Dos seus desejos e medos mais profundos personificados pela nossa branca pele e pela nossa “grande” civilização.Neste jogo dramático, joga-se ao prazer e à dor, que a ambiguidade da arte propõe, para nos fazer mergulhar numa noite de reflexão e sonho."
Como uma das figuras de cartazes do evento, convidado a encenar no próximo dia 29, Dom Pietro Dikota disse que procurará justificar no evento, o nome do país e das artes cénicas, dando o melhor da sua performance teatral ao narrar a pertinência da emigração e suas consequências sociais.
Convidado também a participar de uma Mesa de Conferências sobre “Dramaturgia Lusófona”, com a participação dos encenadores brasileiros Mário Bortoloto, Hamilton Vaz Pereira, Aderbal Freire Filho e Benjamin Santos, assim como o português Joaquim Nogueira, Dom Pietro Dikota - Angola acredita que eventos do género tornam-se uma mais valia ao reconhecimento do teatro angolano além fronteiras.
quinta-feira, 28 de agosto de 2008
quarta-feira, 27 de agosto de 2008
KIBUTZ à Angolana
http://dn.sapo.pt/2008/08/27/internacional/angola_aposta_modelo_kibutz_para_rei.html
Os kibutzim foram gradualmente e estavelmente se tornando menos coletivistas nos últimos vinte anos. Ao invés do princípio de "de cada um de acordo com sua habilidade, para cada um de acordo com sua necessidade", os kibutzim adotaram "de cada um de acordo com suas preferências, para cada um de acordo com suas necessidades".
As primeiras mudanças a serem feitas foram nos utensílios e no refeitório. Quando a eletricidade era "gratuita" os kibutzniks não tinham incentivo para poupar energia. As pessoas deixavam o ar condicionado ligado constantemente. Nos anos 1980, os kibutzim começaram a medir o uso de energia. Tendo os kibutzniks que pagar pelo uso de energia, requeria que eles de fato tivessem dinheiro pessoal. Assim houve o retorno de contas pessoais.
O refeitório também foi uma das primeiras coisas a mudar. Quando a comida era "gratuita", as pessoas não tinham incentivo para pegar o montante apropriado. Cada refeitório de kibutz terminaria a noite com quantias enormes de comida a mais; geralmente essa comida era dada aos animais. Agora, 75 por cento dos refeitórios de kibutz são pagos conforme o consumo em lanchonetes a la carte.
Os kibutzniks vêem seus vizinhos mais que a maioria dos outros israelenses, mas ele começaram a viver vidas privadas. Muitos refeitórios de kibutz não estão mais abertos para três refeições ao dia. As famílias de kibutz têm aparelhos de DVD e internet assim como outras famílias de israelenses. Atividades coletivas são muito menos freqüentes do que eram no passado. Ao invés de discussões que duravam a noite toda sobre questões cósmicas, as reuniões gerais do kibutz são agora marcadas sem uma freqüência regular.
Talvez o exemplo mais dramático de como os kibutzim abandonaram o princípio de igualdade é a implementação de salários diferenciados. Um gerente de fábrica agora receberia um montante pessoal maior que um operário de fábrica, ou um trabalhador rural.
terça-feira, 26 de agosto de 2008
Eleições, Semanários e Eu
Hoje chegam-me ecos de Camaleões, aqueles políticos que vão mudando de camisola, mesmo que tenham de vestir uma que outrora combateram ferozmente. E os semanários fazem deles grandes manchetes.
Daqui a pouco ainda vamos fazer confusão com as contratações dos grandes clubes do futebol mundial:
Jorge Valentim contratado enquanto se aguardam mais informações da situação de Carlos Contreiras; Parreia ainda não está com a situação definida, porem parece que assinou por dois clubes.
O NOVO JORNAL fala dos quase 600.000.000 dólares gastos nos financiamentos dos partidos políticos com assento parlamentar. Cada voto valeu 10 dólares. Enquanto Fernando Pacheco afirma que em Angola não há confronto de ideias.
O SEMANÁRIO ANGOLENSE destaca a província do Huambo onde decorre o Milagre do Renascimento, merecendo assim esta semana a visita de Sua Exa. o Presidente da República.
A Huíla veste-se para a eleições.
O Cruzeiro do Sul recarrega com deputados expulsos da UNITA apelam ao voto no MPLA e Kabango quer reposição da História.
O ANGOLENSE volta à carga com os Mutantes/Camaleões, enquanto Kundi Paihama está confiante na vitória e a UNITA trabalha afincadamente na Província do Bié, onde nasceu.
Virando a página da política, o Angolense mostra a existência dum braço de ferro entre as direcções das escolas particulares e os seus clientes.
O APOSTOLADO titula em grande o VOTO DE QUALIDADE e refere que o Fórum Angolano das Autoridades Tradicionais manifesta-se apreensivo em relação ao voto consciente de sobas e camponeses nas eleições de 5 de Setembro considerando que estes não estão suficientemente esclarecidos sobre o voto de Setembro.
E assim passou mais uma semana
Pensar e Falar Angola
segunda-feira, 25 de agosto de 2008
ENTREVISTA - KUDIJIMBE
R- Gostaria de dizer, de facto, que estas coisas de escrever, para mim, começaram há muitos anos, nos tempos ainda de kandengue, na escola primária e depois na escola secundária, nestas coisas de fazer redacção. Num determinado dia, a professora virou-se para mim e disse que a prova de Português valia 15 e a composição, que naquela altura chamávamos redacção, valia 5. Portanto, 15 mais 5 dava 20. E, às vezes, íamos buscar uns 12, 13. A maior parte dos valores provinham da redacção e ela ficava encantada com as minhas redacções. E ela disse-me que qualquer dia eu podia ser escritor. Mas eu não acreditava porque não sabia estas coisas de escrever. Era garoto e naquela altura estava preocupado com ouras coisas na vida. Entretanto, havia nos bairros algumas pessoas ligadas à polícia que eram recrutadas para prestar informações que eram aqueles que nós chamamos os ditos «bufos». Alguns desses indivíduos, sei lá por que razão, prestavam informações que não eram as mais devidas, talvez por questões de inveja para prejudicar os filhos de outras pessoas; prestavam informações inadequadas e, então, começou a haver desconfiança entre nós mesmos: ninguém sabia quem é quem. Então, cada um começou de facto a evitar estas coisas de conversa. Eu também segui o mesmo rumo e nesta altura eu tive de me resguardar entre mim, o papel e a esferográfica.
Nesta altura, diz-se normalmente que a educação que havia naquela altura era mais rígida, muito mais propícia a um bom português. Fale-nos um pouco mais desta formação académica, que era apenas sólida, de que tanto fala, da época colonial.
R- Naquela altura, o ensino era muito diferente do ensino de hoje. Era diferente porque as pessoas estavam muito preocupadas de facto com o seu futuro. Não quer dizer que as pessoas hoje não estão preocupadas com o seu futuro, também estão, mas no ensino as pessoas aplicavam-se muito profundamente, não havia estas coisas de esquemas, nem tão pouco uma corrupção profunda como hoje pode ter havido de outra forma, porque a corrupção existe em todas as épocas, não é, mas hoje de facto é muito mais profunda do que no passado. Naquela altura, havia os que tinham possibilidade de estudar, como os que tinham os pais já assimilados. Os assimilados eram aqueles que tinham bilhete de identidade português, eram os cidadãos portugueses e os seus filhos tinham o direito de ir a uma escola. E nós aplicávamo-nos profundamente para um dia, também, sermos alguém e fazermos alguma coisa pelo país, Portugal, que todos nós, naquela altura, considerávamos; querendo ou não, éramos portugueses. Era uma forma de as pessoas aprenderem mais. As pessoas aplicavam-se mais e aprendiam mais. Nós tínhamos aquele espírito de aprender cada vez mais para que um dia pudéssemos, de facto, tomar ou participar nos destinos ou futuro do país nascente. Sendo assim, era preciso aplicação.
Nesta altura, como estava inserido nesta sociedade colonial?
R- Eu sou de uma família extremamente pobre. De uma mãe que era quitandeira de rua e de um pai que era carpinteiro. Era muito difícil. A vida deles era muito complicada mesmo. E eu me lembro que, mesmo estando a estudar, tive de interromper aos meus 12 anos. Eu tive de ir trabalhar na Petrofina aos 12 anos, porque o meu pai esteve a sofrer de uma doença durante um ano que o impediu de trabalhar e tive de, aos 12 anos, sustentar a família. Eu fui para a Petrangol, Petrofina naquela altura, trabalhar como radista. O engenheiro, de facto, teve pena de mim depois de se ter apercebido da situação em que me encontrava com os meus pais e resolveu ajudar. Era tão criança, que aos 12 anos tive de trabalhar e sustentar a família. Um ano depois, o meu pai recuperou a sua saúde, foi para o serviço; retomou o seu serviço e eu também retomei as minhas aulas.
Estávamos a falar da qualidade que muitos imputam ao ensino da língua portuguesa na então colónia de Angola...
R- Nós éramos africanos, angolanos, e vivíamos as dificuldades dos nossos pais. Era uma vida muito difícil. Você, negro, para passar de classe tem de saber mesmo. E então havia aquele espectro de competição entre nós mesmos, para ver se conseguíamos fazer o quinto ou sétimo ano, porque só assim é que você também poderia se inserir na sociedade com uma determinada responsabilidade. Nada destas coisas de «esquema», de dar «gasosa» ou isso ou aquilo para você singrar, atingir uma determinada coisa. E havia concursos. Quem sabia é que ia lá. Não havia esquemas. Agora, o que se passa hoje é que não. Há pessoas que não estudaram e conseguiram singrar por outras formas que ninguém sabe explicar e, por isso, muitas vezes, quando nós dizemos aos nossos filhos para podermos estudar, eles dizem «não, papá, não é preciso estudar, o papá fica só político! Fica político, militante do partido a, b, c, d, f, g, h. Aí, você fica chefe e dirige!». De facto, foi uma fase que veio da revolução, mas as coisas estão a acabar agora, porque também vai ser mesmo como antigamente: quem sabe, sabe, quem não sabe vai ter de aprender mesmo!
Uma das fases mais marcantes da sua vida foi o longo período que percorreu desde a guerrilha à luta para a independência, o que tem relevo nos livros que tem publicado...
R- Foi. Eu estava a dizer que, depois desta situação da PIDE/DGS, eu tive de posicionar-me em determinado ponto para poder sobreviver. Porque houve uma altura em que muitos compatriotas, colegas de escola, começaram a ir para a cadeia. Isso foi já em 1972, se a memória não me falha. Muita juventude, sobretudo estudantes, começaram a entrar para as cadeias. E foi aquilo que eu disse: estava eu, o papel e a esferográfica e fui escrevendo, pintando a minha vida. Até que, sei lá por que razão, numa madrugada de Junho, se a memória não me falha, eu fui preso. Apareceram em minha casa agentes da polícia política fascista portuguesa, acompanhados por dois indivíduos mascarados, que estavam com os rostos vendados, e deduzo que um deveria ter sido um dos ditos «bufos», informadores, e levaram-me para a cadeia de S. Paulo onde fiquei uns três meses ou um ano. E saí graças ao posicionamento do falecido meu Pai, que foi até ao Palácio falar com o Secretário, naquela altura o secretário do Governo da Província de Luanda, e dizer quais eram as razões por que tinham prendido o seu filho. Ele nem sabia explicar. Tive de ser solto, com algumas recomendações.
Escreveu alguma coisa nesta altura em que esteve preso?
R- Não escrevi nada nessa altura. A partir daí, eu resolvi que o ambiente de Luanda já não era muito bom para eu continuar. Portanto, achei que devia seguir para Cabinda, onde eu estive com recomendações da polícia fascista portuguesa de quinzenalmente apresentar-me à direcção da PIDE na província de Cabinda, para o meu controlo. Eu queria estudar. Em 1974, depois do 25 de Abril, tive de abandonar o país e fui para a República Popular do Congo, naquela altura [hoje República Democrática do Congo]. Apresentei-me em Ponta Negra, depois enviaram-se para Brazzaville e mais tarde para Dolisie, no centro de instrução revolucionária Kalunga, onde eu me forjei como guerrilheiro.
Vários escritores angolanos retratam a vida no maquis e, falando de Dolisie, temos um documento, que é o livro Mayombe, de Pepetela. Fale-nos das anotações que fez, também, nessa altura
R- Eu tenho muita coisa. Já comecei a escrever. Já lancei uma narrativa que retrata os factos decorridos naquele tempo. Não é tudo, um extracto daquele passado. Penso continuar a escrever e talvez saia outro livro que é continuação do anterior, António Jacinto e os Guerrilheiros.
Como regressa a Luanda e se embrenha na literatura?
R- Isto são outros quinhentos! Porque a vida foi intensa, mesmo durante o tempo em que eu estive no Centro de Instrução Revolucionária, CIR Kalunga, famoso CIR, por onde passaram os grandes comandantes do MPLA na guerrilha e por isso nos forjaram a todos nós. Nessa altura, de 74, ali foi o ponto de convergência, no CIR Kalunga. São jovens provenientes de várias províncias de Angola, hoje, porque, naquela altura, província de Angola era só Angola, que se chamava distrito e tinha os vários distritos porque ainda não era independente. Uns, sei lá por que razão, iam para a FNLA, mas a maior parte convergiu para o MPLA naquela altura. Havia muitos ex presos políticos, juventude forte, dinâmica, aguerrida, activa e é neste ambiente destes ex presos políticos que eu consegui, de facto, ganhar maior traquejo com esta gente. Depois, estavam muitas pessoas, algumas já faleceram. O camarada Henrique Abranches, sobretudo o camarada António Jacinto, que era o director do Centro de Instrução Revolucionária Kalunga. Fazia a fogueira do guerrilheiro, a fogueira do combatente e nesta fogueira havia uma série de actividades culturais e políticas. Havia recitais de poesia, palestras subordinados aos temas que naquela altura «estavam na moda», e havia jovens que actuavam, como, por exemplo, o Kousse, que a minha memória registou bem, que recitava muito bem e escrevia lindamente. E comecei a me sentir influenciado por estas pessoas e comecei a ganhar a minha inspiração. E escrevia e mostrava a estas pessoas e elas encorajavam-me: «continua, está bom». E fui escrevendo e fui criando o gosto pela escrita.
Fico com a impressão de que Kudijimbe tem muita coisa a dizer, mas di-lo pouco. Esta impressão de leitor tem razão de ser?
R- Eu sou daquelas pessoas que diz que cada coisa tem o seu tempo, o seu momento, a sua altura para se poder dizer. E eu gosto de dizer as coisas por etapas. Por isso é que eu disse que escrevi o António Jacinto, parei numa determinada área, dei continuidade com outro livro que sai a público, depois daí vou até aos nossos dias. Eu prefiro começar por aquilo que já se passou há mais de trinta anos e depois chegar aos nossos dias.
Escolhe, propositadamente, este período de maior abertura democrática para dar o seu testemunho do que passou por esta Angola?
R- É exactamente isso. Nós temos de trazer ao lume o que nós fizemos e por onde nós passámos. O nosso povo, particularmente a juventude angolana, tem o direito de saber o que nós fizemos durante estes anos todos, porque a juventude não conhece. O povo não conhece as pessoas que participaram nesta luta, seria injusto estarmos, de facto, a esconder a participação destas pessoas no contexto da luta. Se algumas pessoas não escrevem, outras estão a escrever, talvez um dia hão-de aparecer. Mas eu tomei a iniciativa de começar a escrever porque é importante que as pessoas saibam o quanto nós sofremos para que esta Angola pudesse ser o que é, apesar de não ser aquilo que todos nós quiséssemos que fosse. Nós temos dificuldades, quer do ponto de vista económico, como do social, etc., mas todos nós sabemos que trouxemos a independência. Essa independência não foi dada, foi arrancada a ferro e fogo. Morreu muita gente para que hoje pudéssemos ser, de facto, independentes e manter as fronteiras do país invioláveis. Angola hoje é um país uno e indivisível, graças ao esforço de milhares de pessoas, muitas das quais já não vivem. Deram o seu sangue para o bem do povo de Angola. O nosso povo tem de saber desta gente. E quando eu trago isto, trago por um lado para o povo saber quem são as pessoas que participaram, porque estão no anonimato, e, por outro lado, é uma forma de honrar a memória destas pessoas que participaram na luta.
Não basta chamá-los de heróis desconhecidos?
R- Em todos os meus escritos, eu aponto nomes e eu assumi. Eu tenho estado a ler muita literatura, da qual poucas são as pessoas que têm coragem de apontar [nomes]. Geralmente, as pessoas escrevem de uma forma ficcional. Não apontam as coisas reais. Os personagens dos meus livros são reais, porque eu assumi, porque o povo tem de saber que esteve lá o Kudijimbe, o António Jacinto, o Henrique Abranches, o Hoji ya Henda, todos estiveram lá e participaram. Isto para que, de facto, possamos ajudar aqueles que um dia escreverem a história de Angola, para que possam incluir a contribuição destas pessoas no processo histórico revolucionário, da luta pela independência.
Por toda esta história que pretende contar, poderia, pelo volume de dados que já tinha, ter começado pela prosa. Porque preferiu a poesia?
R- Não sei. Geralmente, no mundo literário, as pessoas começam mais pela poesia. Até agora ninguém sabe explicar bem porquê. Uma vez perguntaram-me se a poesia é mais fácil que a prosa. Eu creio que a poesia é muito mais difícil que a prosa. Porque, numa narrativa, o pensamento é correcto, é delineado por uma história que vou seguindo. Mas a poesia exige já uma certa habilidade, mestria e inteligência, sobretudo do ponto de vista técnico. Na colocação dos versos, procurando a rima, o ritmo, a cadência para dar um certo horizonte e facilitar que o leitor, quando estiver a ler, encontre os elementos importantes que eu considero na poesia, que é o ritmo, a rima, luz e brilho.
A maior parte da sua poesia versa sobre assuntos políticos e sociais, não fala, por exemplo do amor. Porquê?
R- O que eu trago nos meus escritos é a vivência, o meu passado. Tudo aquilo que eu vivi eu procuro abordar na literatura. Trago tudo, desde a mingueleka, maxanana, o makezu, a dizamba, enfim...
Há uma apresentação de elementos da tradição angolana no decurso da sua construção poética. É essa a sua intenção?
R- Sim. Eu faço isso, porque um grande número de escritores da nossa terra procuram invocar coisas que não têm nada a ver com o nosso país. Seguem esteios de outros escritores que não são angolanos. Mas eu procurei sempre evidenciar ou realçar aquilo que é da minha terra. Porque tenho de mostrar ao indivíduo que ler a minha obra que, se conhecer um bocado de Angola, ele me identifica complemente: este escritor é angolano. Porque há aqui termos que só podem ser de um angolano, que conhece mais ou menos a realidade de Angola. E, pelos termos que ele utiliza, este é angolano. Se ele for buscar a biografia no livro, vai confirmar que ele é angolano. Eu gosto de me identificar com a minha terra, com o meu próprio país. Por isso uso estes termos que também são bonitos. Ao invés de estar a chamar malmequer, eu chamo mingueleka. Porquê estarmos a falar sempre de rosas, de lírios e não falamos de maxaxana, porquê? Isto é curioso, porque os investigadores que não sejam angolanos vão se preocupar em ler, em saber. Já conhecem muito o lírio, já ouviram falar de malmequer, de margaridas. Quando eles lerem um livro onde aparece maxaxana ou mingueleka, eles vão questionar-se: «mas o que é isso, maxaxana?». Então, vai investigar, vai ter trabalho e vai perguntar: maxanana é o quê? E verá que é importante e vai escrever. São elementos que realçam a cultura angolana.
Ao olhar para a sua bibliografia, nota-se com curiosidade o título do seu primeiro livro: O Fardado. Fale-nos um pouco deste livro, o primeiro, e em poesia...
R- O Fardado surgiu naquela altura em que eu surgi. Tinha vindo do Huambo, onde eu e outros colegas fundámos a Brigada Alda Lara. E conhecia as pessoas, muitas das quais hoje são grandes escritores da nossa praça angolana. Nesta influência, eu comecei a escrever alguns poemas e muitos deles são de frente de combate, naqueles momentos em que a situação estava estável. Eu, na minha mochila, transportava sempre um caderno. É hábito agora. Sempre que viajo levo sempre comigo um caderno para aquelas alturas em que a inspiração surge e procuro tomar os meus apontamentos. E isso foi mais feito à base disso. Depois de compilado, surgiu a possibilidade de alguém editar isso, a título de patrocínio. Ele tem o prefácio do Saudoso António Jacinto. Eu pedi que o título fosse O Fardado. «Fardado» porque, de facto, uma grande gama de elementos que estão inseridos no poemário deste livro foi proveniente das frentes de combate.
O livro O Fardado serviu de «rampa» para a carreira literária?
R- Não diria «rampa». Tudo tem um princípio na vida. Eu tive uma vida ligada, praticamente, à arte militar. E não pode de forma nenhuma ter começado de outra maneira que não fosse aquela. Eu disse eu vou começar pelo «Fardado». Porquê «fardado»? Porque, primeiro, eu sou militar, segundo, a maior parte dos poemas que estão incluídos neste livro eu os fiz na frente de combate, uma forma de homenagem a todos os combatentes que tombaram na frente de combate.
Fogo na Kangika, o seu segundo livro, apresenta fundamentalmente a característica da continuidade...
R- Eu lancei este livro com uma diferença de três ou quatro meses. Um lancei na faculdade de Engenharia e o outro lancei na Escola Comandante Gika. Os poemas que estão inseridos neste livro são reflexo, também, daquilo que aconteceu nas frente de combate e eu continuo a trazer a lume toda aquela vivência militar, para possibilitar que as pessoas pudessem também ver que o que está escrito aqui é a vivência do dia-a-dia. Muitas vezes, aquilo que eu digo da altura, as minhas malambas. Pensamento, às vezes. Eu, estando no Kuando Kubango, a pensar na família que está em Luanda, se comeu ou não, como é que está… Tudo isso faz com que tenhamos que escrever algo para refrescar a memória. E eu refugiava-me, às vezes. Fugia nestes caminhos. Eu passo quase toda a vida a escrever. Tenho um vício ilimitado: tenho de ler ou tenho de escrever.
O que é que normalmente lê?
Eu leio tudo. Eu não tenho preferências. Tudo o que eu vir, desde que queira ler, eu leio. Não tenho preferências em termos leituras, leio tudo. Para mim, tudo é importante. Há uns que têm preferências, mas eu não tenho. Eu leio tudo, tudo que está em livro é importante. Pode não ser no seu todo, mas há algo importante.
Tem escritores, nomeadamente poetas de preferência, de quem se inspira?
R- Para mim, os grandes poetas em quem me comecei a inspirar foram Agostinho Neto e António Jacinto. Leio e releio e continuo a ler, porque nem sempre consigo descodificar os poemas quer de Agostinho Neto, quer de António Jacinto. Isto obriga-me a ler cada vez mais, de forma a, muitas vezes, poder encontrar aquilo que eu pretendo encontrar, o que não é fácil. Há aquelas pessoas que têm uma leitura, que eu chamo leitura leve. Mas já não estou nesta situação de leitura leve, eu gosto de leitura pesada, no sentido de ir à profundidade das coisas. Há poemas que até agora ainda não consegui descodificar quer de António Jacinto, quer de Agostinho Neto e isto obriga-me muitas vezes a voltar a lê-los.
Podemos falar de outro momento da sua carreira literária? Depois de um largo período, publicou No Amanhecer da Curva. Um livro que, diria, está dividido em partes: uma de reflexões e outra de lamentos e nostalgias. Que pensa desta análise de leitor?
R- No Amanhecer da Curva é um livro de poesia que surge depois de António Jacinto e os Guerrilheiros. Este livro é um conjunto de poesia que eu tenho vindo a fazer ao longo dos anos. Eu tive de juntar alguns poemas que falam da vida social. O meu grande problema é que eu ando a sofrer pelos outros. Este é o meu grande problema. Eu sofro pelos outros, eu sinto pelos outros. Então, procuro trazer para o papel tudo aquilo que eu sinto pelos outros. Isto é para responder àquela parte dos lamentos. Há pessoas aí que deram a sua contribuição, muitas delas estão no anonimato e ninguém diz nada destas pessoas. Eu procuro trazer e chamar a atenção, para a sociedade se procurar e prestar mais atenção àquelas pessoas que, de facto, deram a sua contribuição para este processo histórico, político. Algumas morreram e ninguém disse nada. É preciso escrever e chamar a sociedade à atenção. Por outro lado, homenageia «n» pessoas que deram a sua contribuição. É esse lado do meu sofrimento. Eu sofro com eles também.
Gabriela Antunes, que apõe crítica ao livro, fala do ritmo e da composição poética. Ela cita António Jacinto, ao dizer que «não precisa perguntar à mangueira, porquê que ela dá mangas». Trata-se de uma evocação do poeta...
R- A malograda Gabriela Antunes foi uma pessoa muito minha amiga e eu sempre a tratei por Gaby, «que a terra lhe seja leve». A Gaby tem razão, ou teve razão sempre, porque a poesia tem de ter ritmo. Há bocadinho, falámos sobre isto. Ela compara a poesia a um balaio ou a uma kinda com várias palavras. E desse balaio, quando há um conjunto de palavras que podemos formar e fazer a poesia, vamos tirando e vamos colocando, dando sequência ao ritmo, à cadência; e, quando não tiver, vamos tirando, vamos pondo, vamos tirando… Até encontramos realmente aquilo que pretendemos, que é o ritmo. E é isso, no meu entender, que ela queria dizer e ela tem razão. Se não estiver assim, tem de se deitar fora novamente e recomeçar.
É por este prisma que poderemos falar da literatura angolana no geral. Kudijimbe é, também, a figura de referência da Brigada Jovem de Literatura de Angola. Durante muito tempo no anonimato tem-se notado que muitos nomes da literatura angolana emergiram dos movimentos brigadistas. Fale-nos do estado da Brigada.
R- Estou há muitos anos nestas andanças de brigadismo literário. Desde 1980, se a memória não me falha. Lembro-me bem, nesta altura, eu estava destacado no Grafanil e fazia parte do regimento presidencial. Foi aquilo que eu dizia há bocadinho: já trazia o bichinho literário, já me fazia comichão. E cheguei a uma altura em que sozinho não iria a lado nenhum. Era preciso associar-me a outras pessoas e tomei conhecimento, de facto, que havia um punhado de jovens que estavam no Karl Marx ou Makarenko, que se reuniam e que falavam sobre literatura e poesia. E, como estava a gostar daquela área, pensei «tenho de associar-me a estas pessoas». E consegui chegar até lá, mas nesta altura eles mudaram para o ex Colégio das Beiras. Fui para lá e estive a trabalhar com eles, com várias pessoas. Nesta altura, estava o São Vicente, o António Fonseca, o Lopito Feijóo, o Bento Bento, etc. No dia da proclamação, eu não estive presente na sala. A proclamação foi feita aqui, na União dos Escritores, no dia 05 de Julho de 1980. Eu não estive aqui porque fiquei com a incumbência de transportar uma pipa com água da minha unidade para o ex Colégio das Beiras, porque aquilo estava completamente sujo e era preciso lavá-lo e dar-se um outro visual; eu e mais algumas pessoas tivemos de trazer da unidade 20 militares para poderem me ajudar a limpar o ex Colégio das Beiras. Nunca ninguém disse e ninguém sabe que quem fez este trabalho fui eu. Ninguém diz nada. Então, este punhado de jovens provenientes dos bairros suburbanos e do asfalto proclamaram neste dia a Brigada Jovem de Literatura de Luanda, tendo à cabeça como Secretário-Geral o jovem, naquela altura, o meu amigo São Vicente. A partir desta altura, fiquei inserido numa família de literatos. Só fiquei a trabalhar, a aprender, porque não tinha praticamente nenhuma vivência deste tipo, só escrevia, escrevia sozinho. Fui conversando, com a ajuda de outros colegas, e então fui me sentindo cada vez mais contagiado, e fui escrevendo também. São escritos que não tinham nenhuma importância, mas eu gostava daquilo que escrevia. Apresentava aos outros colegas e eles gostavam, encorajavam-me a continuar e fui andando. Mas, devido à minha situação militar, tive de ser transferido para o Huambo, para a quarta região militar, que naquela altura abrangia o Huambo, o Bié, Kwanza Sul, Benguela. Posto no Huambo, já trazia algumas recomendações de Luanda, sobretudo do seu Secretário-Geral, e tivemos só de dinamizar também a vida literária no Huambo, no sentido de se formar uma Brigada. E consegui fazer, em companhia do Conceição, do João Maimona, do João Tala e de outros.
A maior parte dos escritores da sua geração já deixaram a BJL. Kudijimbe continua há muito e como Secretário-Geral. Porquê?
R- É porque eu gosto, porque eu venho, há muitos anos a dar a minha contribuição à Brigada. A Brigada Jovem de Literatura teve uma altura, depois de se constituir a Brigada Nacional, que é a Brigada Jovem de Angola, e eu fui consultado pelos jovens, pelos brigadistas, para substituir o David Mendes. Eu fui de facto chamado para substituir o David Mendes, porque eu também já estava meio afastado da Brigada. Eu, na qualidade de brigadista, não podia de maneira nenhuma negar esta missão difícil que os jovens precisavam para se poder dinamizar a Brigada. Eu aceitei o desafio, embora com muitas dificuldades, de vária ordem, com uma instituição que não tem dinheiro, que vive à base de esmola. A pessoa torna-se pedinte. Chega-se a uma altura em que uma pessoa, de tanto pedir, quando não é correspondida, chateia-se. Mas, neste contexto, como eu estava a dizer, a Brigada foi criada para poder desenvolver uma actividade em prol da literatura angolana. Eu não poderia de maneira nenhuma deixá-la tombar sob o olhar silencioso de todos nós. Eu vou continuar na Brigada para passar o meu testemunho aos brigadistas, até que se encontre, de facto, alguém capaz de poder prosseguir com a sua actividade. Embora algumas pessoas tenham pressionado, porque elas querem que a Brigada acabe. Há muita gente a quem a Brigada faz confusão. Porque nós, sem dinheiro, estamos em todas as capitais de províncias de Angola. Até há províncias em que estamos em municípios. Nós estamos em alguns países do mundo. Temos brigadistas na Rússia, Polónia, África do Sul, em Cuba...
Que análise faz dos escritores que passaram pela Brigada e que hoje são membros da União dos Escritores Angolanos?
R- O grande conflito que houve muitas vezes entre os escritores mais velhos e os escritores mais novos é que aqueles queriam que a Brigada fosse o viveiro da União, ao que nós nos opusemos sempre. Sempre lutámos pela nossa independência, os mais velhos sempre se opuseram ao surgimento desta instituição como autónoma da União. Nós conseguimos, mas isso não foi bem visto por parte de algumas pessoas. Tanto que, depois de alguns anos, as pessoas que estivessem devidamente mais adultas em termos literários eram puxadas por proposta do Secretário-Geral da União, naquela altura. Não interessa nem dizer que estava naquela altura a liderar a União dos Escritores Angolanos como Secretário-Geral. Foi tirando algumas pessoas que passaram a membros da União. Quer dizer, aqueles que eles consideravam os mais activos, os mais esclarecidos, no sentido de poder enfraquecer a Brigada para o seu desaparecimento. Mas costuma-se dizer que aquilo que nasce do seio do povo é imortal. Porque a Brigada nasceu por vontade própria, não foi por despacho de ninguém. De Cabinda ao Cunene, de Cuba à Rússia, ninguém fez proposta. Aquilo que nasceu por livre vontade das pessoas não morre. Por isso é que Brigada continua de pé, embora contra a vontade de muitas pessoas, que os aliciou, dizendo que a Brigada já tinha cumprido com o seu dever histórico, tinha de desaparecer. Porquê ela tinha de desaparecer e não desaparecem as outras? Porque eles têm receio da Brigada. E, por vezes, quando estão a resolver um problema qualquer, procuram sempre meter a Brigada no escalão inferior, isto no sentido de nos atingir e fazer com que ela desapareça. Mas eu tenho dito às pessoas que a Brigada não vai desaparecer. Ela vai continuar a seguir o seu ritmo até que atinja os seus objectivos.
Uma última palavra à margem desta conversa, quiçá sobre a literatura angolana...
R- Sobre a literatura angolana… Estamos a evoluir. Estamos de parabéns porque eu sou daquelas pessoas que gosta de liberdade. E a liberdade é vista em todas as vertentes. E liberdade de expressão é importante. As pessoas devem se debruçar sobre aquilo que gostam e pensam. Antigamente, as pessoas procuravam destruir os outros. Houve uns que pensavam ser mais literatos que os outros e julgavam os outros colegas como se nada fizessem. «Esse livro não presta», «isto não dá nada». Isto destruiu muito boa agente que hoje poderia ser escritor. Entretanto, eu sou daquelas pessoas que prefiro deixar as pessoas à vontade, como disse anteriormente. Eu, neste momento, não estou preocupado com qualidade. Deixa escrever. Haverá ocasião própria em que vamos parar para analisar o que é que fizemos do ponto de vista de qualidade. Todo o mundo está a escrever, todo o mundo está animado, todo o mundo está empenhado. Há os que escrevem em áreas científicas, outros escrevem em áreas desportivas, outros escrevem em áreas literárias. Está bom! Deixe as pessoas escreverem. As pessoas andavam aflitas porque, para tu escreveres um livro, tinhas de ter um agreement. Sem este agreement você não poderia publicar. Isto nós sabemos, nos anos passados, quem são as pessoas que publicam só. E, quanto às outras pessoas, se não fosses visto dentro daquela roda, se as pessoas que compunham aquela roda não simpatizassem contigo, tu não podias publicar. A nossa literatura está de parabéns. Hoje já se escreveu muita coisa boa e bonita, e acho que vão surgir mais coisas. Isto é um grande contributo mesmo nos países de expressão portuguesa, particularmente os de África. Creio eu que Angola é o país que mais tem produzido literatura. Nós temos trabalhado muito, nós temos escrito muito. As pessoas estão admiradas com Angola neste aspecto, por isso eu encorajo a nossa gente a continuar a escrever. Sobretudo os meus colegas militares, porque eles têm muita coisa para dizer, se tiverem a possibilidade de meterem tudo quando viveram no papel, para passar à leitura, ao conhecimento de outras pessoas. Resumidamente, a nossa literatura está no bom caminho.
Pensar e Falar Angola
domingo, 24 de agosto de 2008
(28) Ágora - ZARAGOZA 2008 - uma exposição pedagógica
Fernando Pereira
sábado, 23 de agosto de 2008
A Caminho das Eleições - hoje falo eu
fotos retiradas da internet
Pensar e Falar Angola
sexta-feira, 22 de agosto de 2008
ANGOLA DE ONTEM E DE HOJE
ANGOLA DE ONTEM E DE HOJE
Em 1988 , indo do Brasil aonde vivi durante treze anos e me formei em Economia , estive em Portugal durante um ano aonde foi meu tutor o professor Agostinho da Silva , privilégio que agradeço à vida .
Após diálogos longos e prazeirosos com o professor Agostinho , decidi ir voluntariamente leccionar Economia em Angola e após demarches junto à embaixada de Angola em Lisboa e junto à Universidade Agostinho Neto em Luanda , foi possível leccionar Economia no Núcleo de Economia do Lubango , Província da Huíla no sul de Angola , no ano de 1990 .
Mais ou menos nesta data , a paz entre a UNITA e MPLA , Organizações políticas que lutavam entre si , foi assinada e iniciou-se o primeiro processo eleitoral angolano .
Muitos empresários portugueses e outros começaram a investir com toda a força em Angola pois muitos queriam acreditar que era possível a paz .
Entretanto , a UNITA em suas assembleias e comícios populares políticos , pela voz de seu líder Jonas Savimbi , incentivava seus apoiantes para uma atitude de força e em discursos na sua língua autóctone defendia uma atitude de guerra .
A UNITA perdeu as eleições e seu líder decidiu retornar à guerra para tomar o poder pelas armas .
Uns dias antes de recomeçar uma nova e violenta guerra em Angola , 1992 , na cidade do Lubango notava-se uma movimentação estranha de carros transportando tropas com aspecto de guerrilheiros da Unita em atitude de guerra .
Ninguém quis acreditar no que via mas os sinais de guerra eram evidentes e foi o que aconteceu logo em seguida .
E esta nova guerra só terminou com a morte do líder da UNITA Jonas Savimbi em 2002.
Hoje estamos em 2008 e a paz em Angola já tem mais de cinco anos .
Das muitas Organizações candidatas a serem partidos políticos , apenas catorze preencheram os requisitos mínimos necessários para se legalizarem como partidos e concorrerem às eleições democráticas .
Estas Organizações políticas estão a fazer campanhas políticas pelo país aparentemente de maneira totalmente livre e ordeira .
Os discursos nos comícios políticos e na mídia são de apaziguamento e unidade nacional e dão claros sinais de que as Eleições em Angola serão transparentes , livres e pacíficas , denotando isso um amadurecimento político muito grande do povo angolano , na sua maioria , e a certeza de um caminhar mais equilibrado rumo ao desenvolvimento que muitos almejam , dentro e fora do país .
Comparando as duas situações , 1992 e 2008 , os sinais são claramente opostos e , desta vez , as atitudes dos partidos políticos e outras organizações em geral dão sinais claros de um grande amadurecimento , clareza de espírito e objectivos pacíficos ..
Muitos dos estrangeiros e seus familiares ausentaram-se de Angola nesta época de eleições e nota-se muito claramente isso nas ruas com a diminuição de circulação de carros de mais de trinta por cento , na área urbana da cidade de Luanda .
Nos bairros fora do centro urbano a circulação automóvel pouco se alterou .
Nesta época do ano é normal muitas pessoas ausentarem-se do país em virtude do verão na Europa mas é notória uma ausência maior de pessoas , principalmente estrangeiros .
A maior parte dos angolanos por aqui continuam tranquilos e a movimentação de pessoas e bens é bem pacífica tanto na cidade de Luanda como nas estradas em direcção às outras Províncias e pode-se viajar de carro com segurança em qualquer hora do dia ou da noite para qualquer ponto do país , com certeza .
A não ser alguns acidentes rodoviários graves por motivo de melhoramento das estradas e maiores velocidades .
Nota-se algum policiamento nas ruas da cidade de Luanda mas isso tem sido normal nos últimos anos .e pouco se alterou e a policia de trânsito melhorou bastante , comparativamente ao passado .
Há uma orientação por parte do Governo de Angola para que todos os cidadãos tenham uma atitude de unidade nacional e exemplar .
É possível constatar uma clara e real organização das eleições , inclusivé através da Internet , com fácil acesso a todos de maneira a obterem as informações necessárias para que haja uma votação sem atropelos nem desorganização .
E Angola está de parabéns pois está sabendo , por si , construir os melhores caminhos no seu desenvolvimento , apesar das contínuas dificuldades conjunturais e estruturais internacionais .
Os países lusófonos terão muito a ganhar com este exemplo de Angola .
Todos nós queremos e desejamos o melhor para esta grande e bela Nação lusófona , após tantos anos de suor e lágrimas .
Angola com certeza vai ganhar sua medalha olímpica .
Bernardino Pedroto, técnico de futebol e as eleições
Bernardino Pedroto: Sou um cidadão estrangeiro num país que vai realizar eleições legislativas e a única coisa que espero é que as coisas corram dentro da normalidade e de acordo com os princípios democráticos aceites universalmente.
JA: Qual é a sua opinião sobre o processo de registo eleitoral?
BP: Sobre o registo, pelo que ouvi e li, as coisas correram dentro do que se esperava. Foi um passo muito importante. Hoje as coisas estão suficientemente organizadas dentro do que os responsáveis deste país perspectivavam para que as eleições tenham lugar em paz e com normalidade. Acho que o calendário e os prazos estabelecidos acabam por satisfazer a todos.
JA: Que mensagem deixa para a juventude sobre o voto?
BP: Os jovens são o futuro de uma nação. A eles recai uma grande responsabilidade para o sucesso das eleições. Os jovens devem todos exercer o seu direito de voto em consciência e fazê-lo com todo o respeito e naturalidade, porque, como disse, depende deles o futuro de uma Nação.
entrevista retirada do Jornal de Angola
foto de jccarranca
Pensar e Falar Angola
História Geral de Angola
De acordo com um despacho conjunto dos Ministérios da Cultura, Educação e Secretaria de Estado para o Ensino Superior, o grupo integra os historiadores Rosa Cruz e Silva, Maria Alexandra Aparício e Manuel Maria Difwila, e os mestres em História, Constança da Rosa Ferreira de Ceita e Fernando Gamboa. Os antropólogos João Alexandre e José Garcia Lumanisáquio, bem como o demógrafo José Garcia Lencastre, fazem igualmente parte do grupo.
Nos âmbito das suas atribuições, o grupo poderá solicitar a colaboração de outros especialistas, visando a melhor prossecução das suas atribuições.
O grupo terá como competências e objectivos gerais apresentar um cronograma de actividades e um memorando sobre as tarefas e desafios que se impõem para Redacção da História Geral de Angola. Apresentar propostas de intercâmbio ciêntifico passível de beneficiar os estudos de investigação, os pressupostos materiais e humanos necessários para a constituição de uma Comissão de Redacção da História Geral de Angola, bem como um relatório técnico final, no prazo de 90 dias, donde constem, entre outros, as linhas gerais e específicas da Redacção da História Geral de Angola.
Pensar e Falar Angola
Das Matas às Livrarias - Cruzei-me com a História
Samuel Chiwale, filho de um soba "por direito e tradição", dava catecismo na Missão Evangélica do Bailundo - fundada em finais do século XIX - e era vendedor ambulante de gado. O pai, recorda, lembrava-lhe frequentemente que "os estudos são a única forma para se sair da situação".
Os meninos do seu tempo absorviam os ensinamentos dos mais velhos, à noite, à volta da fogueira. Num espaço envolto pela natureza, o jovem Chiwale tocava batuque "com grande mestria" e caçava de forma "exímia", como confessa neste livro.
Regressado a Angola, sensibilizou as populações contra "o imposto". A UNITA, que de início possuía apenas "navalhas e cajados", tinha um sistema de mensageiros estafetas que os informavam das movimentações quer da tropa portuguesa quer do MPLA, que queria "desalojar a UNITA das suas áreas libertadas". Da PIDE, que causou baixas entre os seus colegas de luta, o autor refere uma actuação "muito eficiente e bem informada" e desmente que o movimento tenha colaborado com esta polícia política de Salazar.
Pensar e Falar Angola
quinta-feira, 21 de agosto de 2008
Um Jornal Novo
quarta-feira, 20 de agosto de 2008
A ressurreição do Huambo
Angola. Palco de um dos mais violentos episódios da guerra civil angolana, o Huambo está a renascer na forma de um estaleiro em grande escala. Estradas, edifícios e serviços estão a ser recuperados e o 'boom' do sector da construção está a servir de alavanca para recuperar tudo o resto
Onde havia ruínas apareceram casas, nas artérias bombardeadas alisou-se o asfalto, da obscuridade fez-se luz e o Huambo, palco de um dos mais violentos episódios da guerra civil de Angola, ressuscitou. Em apenas três anos, uma das cidades mais destruídas do país renasceu na forma de um estaleiro em grande escala, em que além das obras no espaço público, arruamentos e passeios se incentivou, com subsídios estatais, a recuperação de habitações.
"O Huambo cresceu consideravelmente. As nossas estradas estão reabilitadas, as nossas casas também estão a ser reabilitadas, o Huambo cresceu e vai crescer mais ainda", atesta Odete Lucas, 32 anos, técnica da Acção de Desenvolvimento Rural e Ambiente, uma ONG angolana. "Passei aqui o tempo de guerra e pensava que não era possível desenvolver o Huambo. Actualmente, estou a ver que é possível."
Odete era uma adolescente, em 1993, quando as tropas do Governo ali estiveram sitiadas 55 dias, até ao assalto final das forças da UNITA. As ruas que já foram frentes de batalha são hoje cenário da reconstrução vertiginosa. Ainda há três anos, eram chagas urbanas abertas por balas e obuses. Agora, os carros circulam sobre um tapete liso e são ordenados por semáforos fotovoltaicos que o empresário Valentim Amões, falecido num acidente aéreo recente, plantou por toda a cidade.
O centro do poder, na actual Praça Agostinho Neto, foi retomado pelas tropas do Governo em 1995, mas da violência da reconquista já não restam sinais. Os edifícios dos serviços provinciais e os correios foram reconstruídos por empresas portuguesas, que deram à praça um toque festivo, decorando--a com luzes amarelas e azuis, abraçando um obelisco dedicado a Agostinho Neto, representado por uma imagem do primeiro presidente de Angola de livro na mão e kalashnikov à tiracolo. O aeroporto foi recuperado, novas universidades devolvem a cidade ao centro do conhecimento angolano, um novo hospital está a ser erguido numa empreitada chinesa, um arrojado pavilhão foi construído para acolher o AfroBasket 2007.
"O Huambo de hoje é um bocado consequência do que vivemos ontem", assinala Júnior Chinendele, responsável pelo projecto Casa Ecológica, que pretende fazer da cidade uma referência ambiental na África Austral. Junto do seu escritório estende-se o jardim botânico, centro do corredor verde que agora atravessa a cidade. É lá que, durante a tarde, dezenas de estudantes se deitam sobre as gramíneas a ler.
Além do quadro de destruição, os serviços ainda há três anos eram quase inexistentes, a água mal corria nas torneiras e as lâmpadas raramente acendiam. A população circulava apática: cidade fantasma. "Muitas pessoas diziam que nunca mais voltavam, mas estão a aparecer agora", testemunha Odete Lucas. Apesar das limitações que persistem no abastecimento de água e energia, o "boom" do sector da construção está a ser a alavanca para tudo o resto: infra-estruturas, serviços e emprego. "Dantes para se ter um meio de transporte como uma viatura era um sonho. Hoje, quase todo o pessoal tem", refere. "É muita coisa!", afirma a técnica da ONG angolana na sua declaração de amor à cidade. "É muito bom viver no Huambo, eu pelo menos não quero que me tirem daqui. Residir noutra província, não!"
-Jornalista da Lusa
O QUE É SER CRIOULO? - ALBERTO OLIVEIRA PINTO - LEMBRA-TE, ANGOLA Ep. 169
Pensar e falar Angola
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Pensar e Falar Angola A RENÚNCIA IMPOSSÍVEL ( Agostinho Neto – 1949 - ) NEGAÇÃO Não creio em mim Não existo Não quero eu não quero ser Quero...
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ELOGIO FUNEBRE Elaborado pela família de JOÃO BAPTISTA DE CASTRO VIEIRA LOPES Como assumiu [i] em vida, JOÃO VIEIRA LOPES, vi...
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