sábado, 11 de fevereiro de 2012

Histórias de Angola - Discurso de Agostinho Neto em Portimão em 1975

AGOSTINHO NETO AO POVO ANGOLANO

(Acordo de Alvor, 1975)


• PORTIMÃO, 15 — Agostinho Neto, presidente do Movimento Popular de Libertação de Angola, dirigiu a seguinte mensagem ao povo angolano:

"Povo angolano, companheiros de luta, camaradas militantes e simpatizantes do MPLA. Angolanos:

Falo-vos no momento de particular transcendência do processo já longo da luta de libertação do nosso povo e do nosso pais. Não interessa relembrar agora os inúmeros sacrifícios, os incalculáveis sofrimentos por que passou o nosso povo, pois o sangue derramado pelos nossos heróis, os suplícios consentidos pelos nossos mártires, as humilhações dos vivos e dos mortos, constituem já, historicamente, a argamassa indestrutível que construiu os alicerces da nossa libertação. O que importa neste momento é que a grande e portentosa nação que já se vai erguer, sobre as bases conquistadas, saiba trilhar o mesmo caminho de dignidade, de justiça e de humanidade que sempre caracterizaram a acção do Movimento Popular de Libertação de Angola.

O acordo que acabamos de firmar com o Governo Português e que não é afinal mais do que uma reafirmação do nosso desejo de franca, leal e aberta colaboração, que não é afinal mais do que uma confirmação do protocolo de Mombaça, esse acordo que aqui foi obtido dentro do mais perfeito espírito de cooperação, representa as linhas teóricas que deverão orientar os primeiros passos de uma Angola saída da negra opressão e repressão do fascismo, mas ainda a caminho da independência total e completa. A todos nós, militantes e simpatizantes do MPLA, mas muito especial ao povo angolano, caberá, agora, a dura, a dura mas a gloriosa tarefa, a difícil mas aliciante missão de assumir na prática as palavras de ordem e as directrizes encontradas na cimeira da Penina.

Qual é afinal o nosso caminho? A que reconduz à correcta e legitima forma de reconstruir o nosso país, só por ser uma, a reluminosa igualdade, da justiça e da compreensão. A da Unidade. Queremos fazer um país onde não haja lugar a qualquer espécie discriminação, queremos construir uma sociedade em que sejam abolidos todos os vestígios de racismo e de tríbalismo, em que seja destruído o único sinal do colonialismo em que estabeleçam as condições necessárias para criar uma harmonia entre todos os componentes da nação angolana e a garantia plena do livre exercício por parte de cada um, dos direitos inalienáveis e das liberdades sagradas dos cidadãos livres de um país livre. Foram estas as posições que o MPLA defendeu"na cimeira da Penina. São estas posições que o povo angolano deverá defender em todo o território nacional, em todos os momentos. É este o nosso caminho. Absorver o espírito e cumprir a letra do acordo da Penina. Reconstruir a nação na dignidade e na justiça, única forma de garantir a paz, a. prosperidade, e a felicidade que são, afinal, os objectivos últimos da revolução angolana.

Compatriotas camaradas: agora que os trabalhos da cimeira estão concluídos, agora que o Mundo inteiro nos olha com a consideração e o respeito que a nossa luta de libertação construíram, saibamos reforçar e consolidar as conquistas obtidas. Um só povo, uma só nação, defendendo intransigentemente, sem subterfúgios ou ambiguidades a democracia e o direito sagrado de podermos entrar no seio da comunidade mundial com as credenciais conseguidas ao longo de 18 anos de luta.

FNLA, UNITA e MPLA unidos, pretos, mestiços e brancos unidos são a garantia para construirmos uma pátria independente para o povo angolano. A vitória é certa".



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