domingo, 29 de julho de 2012

231 - Ágora - ANALOGIA SILENCIOSA







Os órgãos de informação, que noutros tempos foram de “difusão massiva”, trouxeram para a ribalta as mais recentes descobertas em torno do santuário megalítico de Stonehenge, situado nas planícies de Salisbury, no Sul de Inglaterra.
Depois de muitas opiniões e estudos, na comemoração recente do solstício de Verão, surgiu a convicção de que as pedras deste extraordinário espaço arqueológico terão sido trazidas de vários pontos da meridional Inglaterra e do País de Gales. A teoria fundamenta a tese de que vários povos desta alargada zona teriam transportado as pedras dos seus locais para as oferecer aos deuses e daí a sua diversidade em consistência, dureza e multiplicidade cromática.
Stonehenge é um local fascinante e que provavelmente pouco terá a ver com Luanda, mas lembrei-me, nem sei a que propósito, de que no antigo Largo do Baleizão, em redor de um monumento edificado pela cooperação cubana para simbolizar a unidade do País, se colocaram dezoito grandes pedras a simbolizar cada uma das províncias de Angola. As pedras foram escolhidas com algum critério em cada uma das províncias e colocadas em redor de um monumento que substituiu o que estava erigido ao Infante D. Henrique. Um acrescido valor simbólico ao largo.
Sem surpresa, e mais uma vez com o arrojo estulto do desconhecimento, veio a ordem peregrina para as pintar de cor de laranja. A partir daí deixaram de simbolizar o que quer que fosse. Com o arranjo da “4 de Fevereiro”, as pedras foram tiradas e o largo encontra-se em intervenção dentro do plano geral de requalificação da “Marginal”. 
As antigas instalações industriais da Congeral estão a ser objeto de uma intervenção notável para a instalação do futuro Museu das Forças Armadas, o que não deixa de ser um trabalho de reconhecido mérito. Das minhas alegres visitas regulares de criança ao “Baleizão”, ainda me permanece na memória o intenso cheiro a sabão que impregnava o largo.
Outra novidade recente tem a ver com a notícia da separação de Tom Cruise e de Katie Holmes. As razões da separação terão a ver com o fanatismo do ator pela “Cientologia” , religião a que aderiu na década de 80, tendo sido mais tarde considerado pelos líderes da seita o "Cristo" da cientologia. Fundada nos Estados Unidos, em 1954, pelo escritor de ficção científica Ron Hubbard, a filosofia prega a imortalidade do ser humano e estimula a limpeza da alma e da mente. Para os adeptos, o homem é um ser imortal, composto de três partes: corpo, mente e espírito. Sua experiência vai muito além de uma só vida, acreditando na reencarnação. A salvação depende de si mesmo, de seus semelhantes e da sua relação com o universo. 
Ressalvando que não tenho a mínima inclinação para qualquer tipo de igreja ou crendice, aconteceu-me uma história interessante numa visita a Londres, no templo da tal “Igreja da Cientologia”.
Acompanhado de um amigo deslocava-me ao longo da Queen Victoria Street para atravessar a Ponte do Milénio em direção à magnífica Tate Modern. Começa uma chuvada que nos obriga a recolher num umbral de uma porta, curiosamente a sede da “Cientologia” em Londres. O meu amigo, entusiasmado porque sabia que Travolta, Chick Korea, Bono, e outros professavam este culto, arriscou sugerir entrarmos e ver o que “afinal era isto”.
Entrámos nas instalações sumptuárias de uma casa vitoriana requintadamente decorada e fomos a uma receção onde manifestámos interesse em conhecer “algo sobre a Cientologia”. A rapariga inquiriu-nos das razões de estarmos ali, de onde éramos, em suma, o habitual. Fomos seguidamente para um extraordinário escritório todo forrado com madeiras exóticas onde uma senhora, que presumi ter alguma diferenciação na hierarquia, nos começou a explicar o “bê-á-bá” do credo. Manifestou-se particularmente agradada por eu ser angolano, e anteviu uma hipótese de participar na instalação de alguma eventual “sucursal” em Angola. Preparava-se para me dar uma quantidade de livros e documentos, mas o meu agnosticismo e o excesso de peso do material, fizeram-me recusar, tendo levado apenas um livro em brasileiro do tal Ron Hubbard, que li até meio, e que me pareceu mesmo ficção científica. 
Durante cerca de um ano fui recebendo telefonemas, documentos, mails e tentativas de abordagem diversa no sentido de me entusiasmarem como “missionário da Cientologia” em Angola, mas como ainda vou tendo alguns pruridos em relação ao absurdo, fui declinando cada vez menos educadamente a proposta. 
Em determinada altura perguntaram-me se havia alguém que pudesse estar sensível a esta tarefa. Lembrei-me de tanta gente a quem não me importaria de embaraçar!... Mas a partida ficou em carteira para pregar a alguém, um dia destes!
Fernando Pereira
5/6/2012


Pensar e Falar Angola

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