sexta-feira, 15 de maio de 2009

Procurando o Passado

Há uma semana que escarafuncho na net um passado que teima em não aparecer.

Meteu-se-me na cabeça que haveria de conseguir encontrar pistas, notícias, um princípio do véu que me permitisse saber qualquer coisa dos avós do meu pai (maternos e paternos) e que me ajudassem a conhecer melhor quem foi o meu avô paterno, que morreu quando o meu pai tinha 10 anos.

Gostava de escrever a história que está entre os pedaços da pouca história que conheço e que se resume ao seguinte (escrevo isto - antecipo desde já - na esperança de que a falta de préstimo que obtive do Google possa ser compensada com alguma ajuda daquelas que o destino ou lá o que seja, nos coloca no caminho).

O meu bisavô chamava-se José Rodrigues de Oliveira e provavelmente terá nascido no lugar de Atadoa, Condeixa, por volta do ano de 1850. Terá partido para Luanda em data que desconheço e aí - ao que consta ter-se-à estabelecido. Numa das viagens de barco entre a metrópole e Luanda terá conhecido a minha Bisavó, Engrácia (provavelmente da Luz dos Santos, já que o meu avô se chamava Mário da Luz dos Santos Oliveira). Tanto quanto se sabe - mas tudo isto é mais nebuloso que o nevoeiro que me lembro de ver sobre o rio Douro (e que é, com um outro em que uma vez esbarrei em pleno Buçaco, a minha definição de Nevoeiro) a minha Bisavó viajava para Luanda na companhia dos pais, naturais de Gondarém do Minho.

O meu avô nasce então em Angola, provavelmente no ano de 1896 e também ao que parece no dia 7 de Janeiro e a minha bisavó faleceu no parto. Baptizado como Mário da Luz dos Santos Oliveira é criado nos primeiros anos em Angola, provavelmente também em Luanda, sendo depois enviado pelo seu pai para Portugal (Porto e Gondarém), onde faz os seus estudos (escola primária e liceu). Desconheço se voltou a Angola, como desconheço quais os contactos que teve posteriormente com o seu pai. O que se sabe é que o meu bisavô sempre lhe pagou os estudos que terminaram em Toulouse onde tirou o curso de Engenharia Electrotécnica. Sei também que a sua casa foi sempre aquela que ainda hoje é a nossa casa em Gondarém e que pertenceria a familiares da sua falecida mãe (ainda hoje existe uma venda em Gondarém que corresponderá à casa onde a minha bisavó terá nascido, por volta de 1876). Da estadia do meu avô em Angola o único que conheço é um rótulo de vinho que o meu bisavô mandou fazer com o retrato do meu avô (que teria nesse desenho cerca de 3 anos). Há uns anos dou com esse rótulo emoldurado no restaurante XL, depois perdi-lhe o rasto.

Acabados os estudos no Porto o meu avô foi então estudar para França (Toulouse), ao que se conta ia muitas vezes de moto, há registos fotográficos dele em França nessa moto. Terminado o curso em Toulouse terá ido estagiar em Nancy onde conheceu a minha avó: Olga Marie Taron. Casam e vêm os dois viver para o Porto, repartindo-se entre a cidade e Gondarém do Minho. No Porto o meu avó, nos anos trinta, num quarteirão que fica entre a rua de Olivença e a Rua do Paraiso, construiu a casa onde passei parte da minha infância (na Rua do Paraiso) e a fábrica, como lhe chamávamos e que era a Electro Olivença (motores eléctricos, bobines, resistências). Lembro-me que os motores quando entravam na fábrica eram todos desenhados, fazendo-se uma ficha de cada um deles. Os desenhos feitos pelo meu avô desses motores eram impressionantes de realismo. Poucos anos depois de ter iniciado a actividade da fábrica, que na altura teria cerca de 20 trabalhadores, sofreu um fatídico acidente (terá sido no ano de 1943, já teria começado a 2ª grande guerra) nessa fábrica, ao que consta - também - por ter procurado salvar dois operários que estavam a descarregar um camião quando o mesmo se destravou. Eram um homem forte que media 2 metros mas que ainda assim não sobreviveu aos ferimentos vindo a falecer dias depois.

A minha avó que para além dos filhos não tinha qualquer família em Portugal, resolveu ficar e, apesar de na altura pouco saber de Português e ainda menos de electrotecnia decidiu que a fábrica não fecharia, passando desde então a trabalhar diariamente na mesma. Lembro-me da minha avó a fazer os testes aos motores num quadro enorme de mármore, cheio de interruptores em forma de alavancas e com uns mostradores onde os ponteiros assinalavam os volts e os amperes. A minha avó esteve à frente dessa fábrica até pouco depois do 25 de Abril e com o seu trabalho permitiu que o meu pai e o meu tio fossem estudar, terminado o liceu, para fora de Portugal, como era desejo do meu avô (o meu tio foi estudar para Lousanne e o meu pai para Epinal).

Percorri o Google em todas as direcções, procurei registos de jornais digitalizados (e são tão poucos os que existem, não são? Por exemplo em Dezembro de 2007 a Biblioteca Nacional anunciou a digitalização de não sei quantos jornais online e que estariam acessíveis a partir de 2008, não consegui encontrá-los, o "observatório de imprensa" tem umas amostras de publicações que não permitem uma pesquisa sistemática, finalmente mesmo o Google News, é - tanto quanto me apercebi, quanto aos jornais do Século XIX, uma promessa que ainda está longe de se materializar). Procurei nos sítios de genealogia e parece-me todos muito comerciais, tropeçando (e caindo) sempre na parte em que para saber mais se tem de pagar uma anuidade qualquer. Procurei por "Luanda", "século XIX", Condeixa, Atadoa, Nancy, Toulouse. Uf. Foram quatro noites mais ou menos inglórias e que só não foram totalmente perdidas porque entretanto fui encontrando personagens pelo caminho, como a "Dona Ana Joaquina!, que seria uma "parda" (no Português da altura para mulata, sendo que também se escrevia "filhos da terra") e uma das pessoas mais poderosas na última metade do século XIX em Angola, comerciando escravos mesmo depois da abolição e vivendo numa casa que entretanto foi demolida e reconstruída já sem o carácter que resulta das fotografias primitivas; encontrei a biografia fantástica de Alfredo Troni (Coimbra 1845 - Luanda 1906) e finalmente estacionei na recente "Biblioteca Mundial", que vale mesmo a pena no que já lá está (http://www.wdl.org/pt/).

Escrevo isto e faço-o como quem atira uma garrafa com uma mensagem lá dentro, ou lança os dados para um buraco onde não pode ver os resultados, na esperança de que alguém acabe por ler isto e poder de alguma forma ajudar a saber um pouco mais do que sabia antes de começar a procurar migalhas de informação.

Alguém pode ajudar-me a saber mais, em especial no que diz respeito ao tempo do meu bisavô e avô em Luanda e ao tempo da minha avó e família em Nancy? Onde e como procurar? Obrigado (tiago.taron@mail.telepac.pt).

Um abraço e votos de continuação de sucesso para o V. blogue pensarangola.

(www.tt08.blogspot.com)


Tiago Taron


Pensar e Falar Angola

1 comentário:

Tiago Taron disse...

Caríssimo Jotacê Carranca. Fiquei muito sensibilizado por ter publicado o e-mail que lhe enviei no "Pensar e Falar Angola". Muito, muito obrigado. Bem haja. Tiago Taron