quinta-feira, 30 de abril de 2009
quarta-feira, 29 de abril de 2009
Homenagem a Carlos Alberto MMVP
22 de Outubro de 1925- 27 de Abril de 2009
O único irmão homem do meu Pai que nos restava, foi-se para sempre.
Dos oito irmãos, resta a Ruth, arquitecta e tantos anos professora em Benguela, agora reformada e a viver em Loulé.
Em Homenagem ao Tio Carlos...ao nosso Mac...
A Samaritana, o fado de Coimbra que ele mais gostava...
terça-feira, 28 de abril de 2009
Crónicas de Luanda...
Viajando de novo pela estrada Luanda-Benguela, que desliza junto à costa, pela primeira vez vi o mar riscado de branco, às tirinhas, e sem aquele aspecto de imenso lençol azul turquesa com pinceladas de verde esmeralda, todo tufadinho, estiraçado até à linha do horizonte. Pelo contrário, mostrava-se de ar enfunado, a deixar adivinhar pouca convivialidade para passeatas descuidadas à beira-mar, banhos e mergulhos. Sua excelência estava de calemas…
Calemas, ondas grandes, as marés-vivas da costa africana, que ocorrem por altura do equinócio, chegaram mais tarde do que o costume, diz quem conhece, e vieram emprestar ao abril-águas-mil efeitos secundários terrivelmente belos e inclementes. Da ilha de Luanda chegou notícia de uma trintena de habitações arrasadas da noite para o dia, sina de musseque, definitivamente, e dos atrevidos avanços praias adentro que arredaram, provisoriamente, os veraneantes de fim de semana. Nas praias da costa, rumo ao sul, o efeito calema já deixou marcas, afectou acesso aos resorts de Sangano, logo em reposição, depenicou o areal, e escabujou-se à roda das cubatas da aldeia dos pescadores dali, mais avisados e prevenidos, afortunadamente. Espero voltar lá, brevemente, e ver como está.
A surpresa aguardava-nos na foz do Kuanza que, segundo entendidos, até final do mês, ou pouco mais, vai mudar completamente de figura. Com efeito, a bela língua de areia que se espraiava entre o oceano e o rio, delicada e fofa como um palito la reine, apresentava-se um tanto desdentada, com entradas por onde galgavam as ondas até lamberem o rio, agora azul marinho em correntezas de meter respeito. Como quem sabe o que aí vem e já se vai preparando. A fazer fé nas previsões, que os movimentos da geo-dinâmica autóctone, surpreendentemente espantosos, não enganam ninguém, a restinga vai desaparecer a brevíssimo trecho, na margem direita vai nascer uma praia, e o rio vai entrar a direito no mar, sem se demorar naquele comprido lagozinho remançoso, mas com forte personalidade, onde nos acocorávamos em amenas cavaqueiras, quais hipopótamos de pequeno porte e grande deleite. A caminhada restinga fora, ora na frescura espumosa do mar, ora no chapinhar cóceguento do rio, desaguava sempre em banhos de caldeira morna, lentos, demorados, relaxantes. Acabou; ou vai acabar. Outro programa de festas há-de vir, que o sítio é de eleição e vai continuar a ser paradeiro de repouso e fruição.
Nas margens os mangais arregaçam mais ainda os esguios troncos, quase tranças, as águias pesqueiras planam altaneiras a mirar a pescaria, e os pescadores amadores, e amantes de pesca grossa, fazem contas ao peixe que está para vir já que, de momento, o que por aqui estagiava se foi em demanda de águas mais serenas, longe das calemas. Plantas, bichos e homens em concertada espera, quando o tino dos homens prevalece, que dos outros não há que temer, a mãe natureza os educou no respeito das tradições e na justeza dos costumes .
Ela, a mais-velha, se respalda em seus jeitos de realeza e, se cultuada a preceito, é magnânima em seus mimos, quanto desmesurada em seus amuos. Da sua raiva, em espasmos de sentida revolta, sabem sobretudo os homens que continuamente a provocam com arrebites de assomos de civilização, cada vez maiores os avanços e as perdas. Avançam, sem olhar a meios, os detentores do chamado progresso civilizacional. Perdem os demais, plantas, bichos e homens. E sobretudo os homens. Os que não navegam na crista da onda do progresso. Os das civilizações ditas atrasadas. Os das sociedades ditas subdesenvolvidas; ou das regiões (países) ditas em desenvolvimento; ou das economias ditas emergentes. Depende do que têm ou do que podem vir a render. E quando rendem, rendem para quem pode, para quem já tem e não para quem precisa, porque é preciso ter para poder cavalgar a onda. Resistir à calema.
As calemas que a tempos se eriçam na costa africana, em espendores de espuma e caprichos de ventania, revolteando areias, (re)talhando margens, expressivos bailados de Kiandas, as deusas dos mares, são aguardadas e celebradas como lhes é devido. Apenas os indígenas vulneráveis as temem, porque as respeitam e guardam reverência à mais-velha, mãe natureza. E a velha sente que os seus ensinamentos se desconjuntam, a terra se desmorona. E estrebucha e braveja. Dá sinal. O planeta, ele, o mais-velho, representa o poder, ela a força, mas ele não pode nada. Está seriamente ameaçado. Todavia, e ainda, ao abrigo das calemas da civilização? Nada o garante. Muito pelo contrário.
Luanda, 22 abril 2009
Crónicas de Luanda...
O fim de semana prolongado da Páscoa, precedido de um compromisso profissional em Benguela, foi aproveitado para nova incursão naquelas paragens e, no regresso, uma visita à Gabela, a terra dos cafezais que, segundo informação espúria, estariam em período de floração.
As flores já se tinham transformado em pequenos bagos verdes, não imediatamente visíveis aos olhos de quem não conhece o arbusto cafezeiro, de modo que após minuciosa busca lá se percebeu que estávamos em presença de vastas plantações de café, de um e de outro lado da estrada. O mar verde de onde se erguiam imbondeiros, bananeiras, e um nunca mais acabar de troncos, ramos e folhas numa algazarra de passarada, flores garridas e frutos “desconhecidos” – a diversidade não aproveita à ignorância de visitantes bio-analfabetos - era afinal o demandado cafezal. A estrada da Gabela é um espécie de pesponto ziguezagueante na vastidão da paisagem verdejante, espampanante no exagero de tons e viços, espelhada no azul prateado do rio que se esgueira por palmares e lagoas, e onde aqui e ali se arredondam aldeias de cubatas e de adobes. Estas, como as da vila, de casas vermelhas da cor da terra, colmadas ou com telhado de zinco, encarrapitadas nos morros em cascata, assim a lembrar o presépio, humildes na singeleza dos cómodos e dos haveres. Maravilha para quem vê, é um espanto, dureza para quem lá vive, dá que pensar, mas que não se adivinha no vaivém colorido das gentes e na garridice da catraiada. Dir-se-ia que de tão pouco ter esta gente com pouco se contenta, e se entrega em perfeita harmonia ao brilho da luz , apesar do sol inclemente, que se derrama nas cores cálidas da mãe natureza, ela que a todos se impõe e tudo domina. Enfim, a visão romântica do passante, bem acantonado no ar condicionado, que no devaneio da miragem se escusa a pensar nas endemias e apêndice de enfermidades e escassezes que determinam vidas desprotegidas e mortes prematuras. Beleza e ironia….
A meio caminho, paragem nas cachoeiras do Sumbe, imponente espectáculo natural de luz e som, grossas cortinas cantantes de água a esfumear brancura no verde do entorno recortado no céu azul pintalgado de farrapos de nuvens, e o rio segue lesto a reverberar dourados na manhã soalheira. Ali perto uma aldeia, e o formigueiro do mercado de rua , cabanas e casas de pau-a-pique, outras mais de alvenaria, porém esconsas, perene o abandono das gentes que se afadigam no frenesim de acrescentar às vidas minguadas o pão-nosso-de-cada-dia.
Benguela, a cidade das acácias rubras, continua esbelta e mal trajada. Belas vivendas do período colonial, à vista bem restauradas, bordejam amplas avenidas, boas enfiaduras, junto à zona ribeirinha, onde um passeio marítimo a pedir restauro, salvo no pedaço ocupado por restaurantes e esplanadas, tal como os edifícios, os passeios e os jardins de boa parte da cidade reclamam intervenção urgente. E então Benguela será a bela.
Uma volta pela costa, nos arredores da cidade, levam-nos à linda praia da Baía Azul, enfeitada de árvorezitas de rendilhada folhagem, extenso areal perlado de conchas e pequenos búzios onde um mar canelado, esticadinho, azul e verde desenha bicos de espuma branca. Tudo é luz, cor e serenidade apenas agitada pelo pipiar dos pássaros em revoada. Adiante, picada fora na vastidão do festival de verdes da paisagem, assoma-se à aldeia, paupérrima, e porto de pesca da Caota, com destino à Caotinha, pequeno promontório debruçado sobre uma extensão de mar de crépon azul e esmeraldado a perder de vista. E a vista perde-se em deleites de lavar-olhos-e-enxaguar-alma. Num repente, enxameiam os meninos da aldeia dos pescadores, olhitos fosforescentes na lengalenga da pedinchice suscitada pela presença de estranhos, estrangeiros, entretém de graúdos e pequenada num lugar onde não acontece nada. Na desvairada beleza da natureza selvagem e dominadora. Só a pobreza das gentes mora aqui.
Luanda, 16 Abril 2009
As Quintas do Debate
QUINTAS DE DEBATE pretende juntar diferentes visões sobre temas da actualidade como política, economia e sociedade. Acompanhe:
No dia 30 de Abril a partir das 15 horas, no SOLAR DOS LEÕES-BENGUELA, será realizado mais um Quintas de Debate, com o tema:
PROCESSO CONSTITUINTE: Democratização das Autoridades Tradicionais, é possível?
Será Prelector: Padre Canário
Poderão acompanhar ainda a 14 de Maio de 2009:
DEMOCRACIA, ELEIÇÕES E CIDADANIA: O que é necessario para que as eleições signifiquem democracia? O papel da sociedade civil no equilibrio politico.
Será prelectora: Tina Abreu
segunda-feira, 27 de abril de 2009
Um HOMEM que desaparece
Chegou hoje, por um amigo comum, a notícia do desaparecimento dessa grande figura angolana, Carlos Alberto Mac-Mahon de Vitória Pereira. Aqui deixo uma singela homenagem ao Homem de quem nunca nos iremos esquecer.
Desporto de vez em quando
Futebol
Angolano Ricardo Teixeira demonstra talento na ÁSIA
Jornal de Angola
domingo, 26 de abril de 2009
Escritores Angolanos - Tomaz Jorge
Morreu poeta Tomaz Jorge
Nascido em Luanda, em 1928, integrou em 1950 o movimento literário nacionalista "Vamos Descobrir Angola", ao lado de outros intelectuais como Agostinho Neto, António Jacinto e Viriato da Cruz, motivo que o levou á cadeia várias vezes.
Era membro fundador da União de Escritores Angolanos - UEA e publicou o seu primeiro livro de poesia em 1963 "Canção da Esperança", estreia literária, que arrematou em 1995 com uma antologia da sua obra completa, "Talamungongo - 50 Anos de Poesia", a sua herança poética.
Era filho do poeta português Tomaz Vieira da Cruz, que viveu a maior parte da sua vida em Angola e foi autor de várias obras em que se destacam "Quissange, Saudade Negra" (1932) e "Cazumbi (1950).
Dividindo a sua vida nos últimos tempos entre Angola e Portugal, por razões familiares, Tomaz Jorge foi sempre um defensor da cultura e do nacionalismo angolano.
(62) - Ágora - O Bem Amado
Fernando Pereira
18/03/09
sábado, 25 de abril de 2009
Sábado Musical - Dia Mundial da Luta contra a Malária
sexta-feira, 24 de abril de 2009
Informações sobre apartamentos e vivendas
Bom dia: senhores e senhoras.
Conforme a vossa solicitação remeto-lhe os valores dos nosso empreendimentos.
Torres do Carmo – centro de Luanda
Condomínio : apartamentos
Centro da cidade frente a igreja do carmo
T2A-109,35M2----------1.165.000USD
T2B-117,01M2----------1.240.000USD
T2B-154,85M2----------1-620.000USD
T2C-186,06M2----------1.935.000USD
T2D-112,49M2----------1.230.000USD
T2E-154,85M2----------1.620.000USD
T3A-167,43M2----------1.745.000USD
T3B-137,33M2----------1.445.000USD
T3C-238,62M2----------2.465.000USD
T3D-DPLEX-291,56M2---3.000.000USD
T4A-233,18M2----------2.460.000USD
T4B-310,58M2----------3.235.000USD
T4C-237,75M2----------2.500.000USD
Formas de Pagamento
Apronto
30% de entrada no valor do imovel em 35 parcelas e 10% do valor da chaves.
Ginga Cristina – este é longíssimo do centro de Luanda e qualidade duvidosa..
condominio:apartamentos
viana
Previsão de entrega em junho 2010
Financiamento bfa
Formas de pagamento
Apronto tém desconto de 3%
Por financiamento da 10% de entrada
Por parcela da 35% entrada em 13parcela meses depois o 10% da chaves
Obs: As estruturas fisicas estão a ser Feitas .
-Apartir que sr faça a sua reserva o apartamento é seu.
T3 A-106,63M2-----------258,000,00 USD
T3 B-97,61M2------------236,500,00 USD
QUEDAS DO KALANDULA
Condominio:vivendas no Talatona R/C e 1º andar
previsão de entrega setembro de 2009
T2-142,00M2------------------------923.000,00 usD
Área do lote 223M2 a 268M2
T3-172,00M2------------------------1.118.000.00 USD
Área do lote 243M2 a 296M2
T4-204,00M2------------------------1.326.000.00 USD
Área do lote 237M2 a 289M2
COPA CABANA (longíssimo do centro de Luanda e qualidade duvidosa…..)
condominio: Apartamento Benfica----Link---www.proimoveis.com/copacabana
24 áreas de lazer
T2-123,19M2-------------------480.441.00USD
T3-153.16M2-------------------597.324.00 USD
T4-198,08M2-------------------772.512.00 USD
T2- 240,14 M2 Duplex------------1.176.686.00 USD
T3-300,26m2 Duplex-------------1.471..274.00 USD
T4-356,68M2 Duplex-------------1.747.732.00 USD
Welwitchia:entrega em abril de 2009 (longíssimo…. E de pouca qualidade)
Condominio de apartamentos:Benfica última unidade pronto pagamento isto é na totalidade
T4 -124,32M2---------447.000USD – oh pró tamanho de um T4….
Spazio talatona
condominio de apartamento talatona novo lançamento
T3 -98M2----------apartir de 475.000.00 até 495.000.00 USD –oh pró tamanho do T3…eheheheheh
Chove em Luanda….
por Helena Magalhães
Após um mais longo do que o habitual período de estiagem a época das chuvas fez finalmente a sua entrada em Luanda. Eram frequentes os comentários a propósito, em particular na imprensa escrita, advogando que o “feitiço” da seca era uma lotaria, no caso a correr bem para as obras do governo, em particular as do governo provincial de Luanda estariam a ganhar com isso, mas a poder dar para o torto se a chuva não começasse a pingar porque o povo dos muceques, a maioria da população da cidade, já andava inquieto, a sufocar poeira e a esquadrinhar os possíveis autores do tal feitiço.
Feitiços e feiticeiros aqui é coisa séria. Mesmo em plena capital, volta não volta lá vêm ao de cima, fora o que é abafado, notícias de violência sobre crianças ou velhos acusados de feitiçaria. O caso das seitas, descobertas e desmanteladas, que em Luanda mantinham prisioneiras cerca de quarenta crianças “feiticeiras” indignou a opinião pública, e veio pôr a nu uma realidade pressentida, sabida, mas não assumida. Desde então incidentes relacionados com alegadas práticas, e acusações, de feitiçaria têm vindo a ser noticiados. As elevadas taxas de analfabetismo favorecem o campear do obscurantismo e da crendice, as más condições de vida e a penúria completam o ramalhete, independentemente dos matizes da matriz cultural africana, mais telúrica. A explicação mais desempoeirada, porém, ouvi-a de um jovem de muceque, motorista de profissão, pouco escolarizado, mas informado: “ é gente muito ignorante e muito mais oportunista, porque só acusam os que lhes convêm e não se podem defender; é sempre a velha que tem casa própria que é feiticeira, ou a criança que é filho doutro matrimónio”. É o viver no limiar, ou abaixo, da pobreza.
Bom, mas as chuvas lá acabram por cair em Luanda. Chuva grossa, redonda, que chega sem quase aviso e se despenha em fragores dum céu que de repente se põe antracite e o ar fica espesso e esbranquiçado. Num repente muda tudo, só o calor parece aumentar. E num repente há enxurradas inimagináveis, as ruas passam a riachos, alguns caudalosos, muita gente corre à procura abrigo, o banho de encharcar é garantido, outros descalçam-se e fazem-se ao piso, pernas dentro d’água. Os carros, pneus afundados, deslizam a espadeirar água e lama enquanto vão galgando os improvisados rios que arrastam terra e detritos num cenário incendiado de raios e coriscos. Tudo estrondeia, e os eflúvios da terra molhada enrolam-se no ar quente.
Esta é a versão “secos e molhados” romântica de quem assiste, bem protegido, às chuvas em Luanda. Bastam umas horas, poucas, e no apuramento de resultados há inundações, casas e carros danificados, árvores tombadas, vias interrompidas. Nos bairros populares, mais muceque menos muceque, os danos, conhecidos e divulgados, dão conta de habitações destruídas, quando não mortes e afogamentos, ruas (??) intransitáveis, prejuizos elevados, enfim, durante dias os charcos, a lama e o lixo desfeito hão-de tomar conta da vida daquela gente. Até à próxima chuvada. Que por especial desígnio da natureza há-de fazer-se chegada tempos depois. Acho que ninguém quer imaginar o que seria de Luanda se chovesse dias a fio….
Nas províncias, especialmente no centro sul, a chuva cai sem parar, as cidades ficam inundadas e desmoronadas, desaparecem aldeias, rebentam diques e pontes, morre gente, talvez muita (?), chegam à capital ecos da desgraça, há milhares de desalojados, irrompem as campanhas de solidariedade e de recolha de fundos, alimentos e roupa, anunciam-se obras de reconstrução, prometem-se obras de prevenção. São mobilizados homens e máquinas, há gente do governo em penosa digressão, os esforços propalados são de monta.
Há quem cientificamente reclame consequências das alterações climatéricas. O maldito aquecimento global pisa sem dó os mais pobres que, por o serem, são mais vulneráveis. A poluição global descarrega em cima deles as nuvens mais viciadas. A indiferença global deixa-os entregues à sorte, ou ao azar.. A ganância global rouba-lhes os projectos de infra-estrutura e de protecção. A corrupção global atira-lhes com materiais obsoletos de construção e come-lhes o tutano da produção. A terra rica não “enrica” quem lá trabuca e não manduca. A sacrossanta globalização toca a todos, sobretudo no perder, mas uns são mais atreitos do que outros. E que me conste o “ao deus dará” não vem da matriz cultural africana; eles é mais as forças da natureza e dos espíritos, dos ancestrais. Herdaram, os poderosos, com sofreguidão e despudor, a sageza judaico-cristã do “venha-a-nós”. Haja paz!
Luanda, 7 abril 2009.
quinta-feira, 23 de abril de 2009
Contestação em poesia
Um anónimo me mandou um mail com um desafio...
... aqui cabe tudo, desde que não ultrapasse a honestidade.
Ao que sei, este poema é do Rui Barbosa, brasileiro contestatário, e não de um angolano descontente. Não vou por este... e pode ser que não me engane...
Tenho vergonha de mim
pois faço parte de um povo que não reconheço,
enveredando por caminhos
que não quero percorrer...
Tenho vergonha da minha impotência,
da minha falta de garra,
das minhas desilusões
e do meu cansaço.
Não tenho para onde ir
pois amo este meu chão
……………………..
Ao lado da vergonha de mim,
tenho tanta pena de ti,
povo deste mundo!
De tanto ver triunfar as nulidades,
de tanto ver prosperar a desonra,
de tanto ver crescer a injustiça,
de tanto ver agigantarem-se os poderes
nas mãos dos maus,
o homem chega a desanimar da virtude,
A rir-se da honra,
a ter vergonha de ser honesto'."
“Rui Barbosa”
Pensar e Falar Angola
Crónicas de Luanda
Viajando de novo pela estrada Luanda-Benguela, que desliza junto à costa, pela primeira vez vi o mar riscado de branco, às tirinhas, e sem aquele aspecto de imenso lençol azul turquesa com pinceladas de verde esmeralda, todo tufadinho, estiraçado até à linha do horizonte. Pelo contrário, mostrava-se de ar enfunado, a deixar adivinhar pouca convivialidade para passeatas descuidadas à beira-mar, banhos e mergulhos. Sua excelência estava de calemas…
Calemas, ondas grandes, as marés-vivas da costa africana, que ocorrem por altura do equinócio, chegaram mais tarde do que o costume, diz quem conhece, e vieram emprestar ao abril-águas-mil efeitos secundários terrivelmente belos e inclementes. Da ilha de Luanda chegou notícia de uma trintena de habitações arrasadas da noite para o dia, sina de musseque, definitivamente, e dos atrevidos avanços praias adentro que arredaram, provisoriamente, os veraneantes de fim de semana. Nas praias da costa, rumo ao sul, o efeito calema já deixou marcas, afectou acesso aos resorts de Sangano, logo em reposição, depenicou o areal, e escabujou-se à roda das cubatas da aldeia dos pescadores dali, mais avisados e prevenidos, afortunadamente. Espero voltar lá, brevemente, e ver com está.
A surpresa aguardava-nos na foz do Kuanza que, segundo entendidos, até final do mês, ou pouco mais, vai mudar completamente de figura. Com efeito, a bela língua de areia que se espraiava entre o oceano e o rio, delicada e fofa como um palito la reine, apresentava-se um tanto desdentada, com entradas por onde galgavam as ondas até lamberem o rio, agora azul marinho em correntezas de meter respeito. Como quem sabe o que aí vem e já se vai preparando. A fazer fé nas previsões, que os movimentos da geo-dinâmica autóctone, surpreendentemente espantosos, não enganam ninguém, a restinga vai desaparecer a brevíssimo trecho, na margem direita vai nascer uma praia, e o rio vai entrar a direito no mar, sem se demorar naquele comprido lagozinho remançoso, mas com forte personalidade, onde nos acocorávamso em amenas cavaqueiras, quais hipopótamos de pequeno porte e grande deleite. A caminhada restinga fora, ora na frescura espumosa do mar, ora no chapinhar cóceguento do rio, desaguava sempre em banhos de caldeira morna, lentos, demorados, relaxantes. Acabou; ou vai acabar. Outro programa de festas há-de vir, que o sítio é de eleição e vai continuar a ser paradeiro de repouso e fruição.
Nas margens os mangais arregaçam mais ainda os esguios troncos, quase tranças, as águias pesqueiras planam altaneiras a mirar a pescaria, e os pescadores amadores, e amantes de pesca grossa, fazem contas ao peixe que está para vir já que, de momento, o que por aqui estagiava se foi em demanda de águas mais serenas, longe das calemas. Plantas, bichos e homens em concertada espera, quando o tino dos homens prevalece, que dos outros não há que temer, a mãe natureza os educou no respeito das tradições e na justeza dos costumes .
Ela, a mais-velha, se respalda em seus jeitos de realeza e, se cultuada a preceito, é magnânima em seus mimos, quanto desmesurada em seus amuos. Da sua raiva, em espasmos de sentida revolta, sabem sobretudo os homens que continuamente a provocam com arrebites de assomos de civilização, cada vez maiores os avanços e as perdas. Avançam, sem olhar a meios, os detentores do chamado progresso civilizacional. Perdem os demais, plantas, bichos e homens. E sobretudo os homens. Os que não navegam na crista da onda do progresso. Os das civilizações ditas atrasadas. Os das sociedades ditas subdesenvolvidas; ou das regiões (países) ditas em desenvolvimento; ou das economias ditas emergentes. Depende do que têm ou do que podem vir a render. E quando rendem, rendem para quem pode, para quem já tem e não para quem precisa, porque é preciso ter para poder cavalgar a onda. Resistir à calema.
As calemas que a tempos se eriçam na costa africana, em espendores de espuma e caprichos de ventania, revolteando areias, (re)talhando margens, expressivos bailados de Kiandas, as deusas dos mares, são aguardadas e celebradas como lhes é devido. Apenas os indígenas vulneráveis as temem, porque as respeitam e guardam reverência à mais-velha, mãe natureza. E a velha sente que os seus ensinamentos se desconjuntam, a terra se desmorona. E estrebucha e braveja. Dá sinal. O planeta, ele, o mais-velho, representa o poder, ela a força, mas ele não pode nada. Está seriamente ameaçado. Todavia, e ainda, ao abrigo das calemas da civilização? Nada o garante. Muito pelo contrário.
Maria Helena Magalhães
Luanda, 22 abril 2009
SER CANTOR DE CARREIRA
Para quem conhecer alguém que pretenda: “Ser cantor de carreira”
Abaixo, você encontrará oportunidade disponível na nossa companhia.
Se estiver interessado(a), por favor envie-nos um e-mail usando o link (hiperligação) abaixo. No e-mail queira explicar a razão porque está escrevendo, o que procura e sobre que oportunidade das abaixo mencionadas estaria a candidatar-se.
Se algo for do seu interesse, por favor envie-nos (por e-mail) uma carta com informações sobre si e explicando que audição lhe interessou: usando o link (hiperligação) abaixo.
Procura-se Cantores para a:
· Gestão do Desenvolvimento de Carreira Artístico
· Contrato de Gravação
Veja abaixo, informações sobre os Artistas que procuramos:
· Cantores a solo do sexo feminino ou masculino em todos os estilos.
· Entre os 18 e 28 anos de idade.
· Bilingue (Português/ Qualquer dialecto angolano, Português/ Inglês, Português/ Francês, etc.).
Nós estamos dispostos a fazer com que Cantores a Solo possam desenvolver a sua carreira artística, caso não tenha uma demonstração disponível, você poderá mesmo assim contactar connosco para ter a possibilidade de apresentar-se para uma audição.
As apresentações de uma demonstração inicial deverão ser realizadas ou organizadas via correio electrónico apenas.
A sua avaliação para nós começa com a sua primeira comunicação connosco, para tal proceda cuidadosamente de acordo as instruções a seguir esboçadas.
Por favor envie-nos e-mail bem escrito em que se inclua um breve currículo e fotografia (s) para análise.
Nem todos os e-mails serão respondidos, apenas aqueles que cumprirem com os nossos requisitos na busca de artistas da secção acima e que seguem correctamente as orientações acima serão respondidas. Por favor dêem-nos algum tempo para retornarmos ao vosso contacto.
Se o que virmos e ouvirmos for do nosso agrado, então iremos solicitar um pacote completo de promoção das vossas demonstrações.
Vamos trabalhar com música de vários géneros, excepto rap e hip-hop.
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AVISO IMPORTANTE:
Todas as demonstrações/press kits a vocês solicitado por nós deve incluir no mínimo:
(2 músicas demo, currículo, fotografia e informações para contacto (nome, endereço, telefone, e-mail) conjuntamente deverá estar uma carta escrita explicando bem a razão da sua apresentação.
Qualquer omissão destes requisitos acarreta que a sua demonstração não seja analisada.
Receber comunicação apropriada de sua parte também será uma exigência nossa pois ela nos mostrará o nível de profissionalismo, respeito e prioridade que o(a) senhor(a) dá a sua carreira e aqueles que estão dispostos para os ajudar.
Respostas negativas ou positivas aos pacotes solicitados serão dadas via e-mail no espaço de 1 à 3 semanas após nossa recepção, Isto “APENAS” se o seu volume haja satisfeito as exigências acima mencionadas. Por favor fique desde já informado(a) de que quaisquer pacotes de demonstração a nós enviados não serão devolvidos.
quarta-feira, 22 de abril de 2009
DIA da TERRA e outros Recados
Trabalho para uma produtora musical angolana. Neste momento estamos apostados no compromisso de tudo fazer para descobrir e projectar novos talentos no mercado discográfico, pretendo transformá-los, em curto prazo, em vozes credíveis e de sucesso.
Assim sendo, venho ate vocês, pedir a vossa colaboração para uma maior divulgação projecto que estamos a organizar.
Para mais informações sobre a participação do vosso portal não hesitem entrar em contacto.
Esperamos ansiosamente a vossa resposta!
Pensar e Falar Angola
De Benguela para a Gabela…
aproveitando a oportunidade e a disponibilidade para colaborar neste blog, enquanto não entra em nome próprio, eis a primeira crónica de Helena Magalhães, chegada por e-mail.
por Helena Magalhães
O fim de semana prolongado da Páscoa, precedido de um compromisso profissional em Benguela, foi aproveitado para nova incursão naquelas paragens e, no regresso, uma visita à Gabela, a terra dos cafezais que, segundo informação espúria, estariam em período de floração.
As flores já se tinham transformado em pequenos bagos verdes, não imediatamente visíveis aos olhos de quem não conhece o arbusto cafezeiro, de modo que após minuciosa busca lá se percebeu que estávamos em presença de vastas plantações de café, de um e de outro lado da estrada. O mar verde de onde se erguiam imbondeiros, bananeiras, e um nunca mais acabar de troncos, ramos e folhas numa algazarra de passarada, flores garridas e frutos “desconhecidos” – a diversidade não aproveita à ignorância de visitantes bio-analfabetos - era afinal o demandado cafezal. A estrada da Gabela é um espécie de pesponto ziguezagueante na vastidão da paisagem verdejante, espampanante no exagero de tons e viços, espelhada no azul prateado do rio que se esgueira por palmares e lagoas, e onde aqui e ali se arredondam aldeias de cubatas e de adobes. Estas, como as da vila, de casas vermelhas da cor da terra, colmadas ou com telhado de zinco, encarrapitadas nos morros em cascata, assim a lembrar o presépio, humildes na singeleza dos cómodos e dos haveres. Maravilha para quem vê, é um espanto, dureza para quem lá vive, dá que pensar, mas que não se adivinha no vaivém colorido das gentes e na garridice da catraiada. Dir-se-ia que de tão pouco ter esta gente com pouco se contenta, e se entrega em perfeita harmonia ao brilho da luz , apesar do sol inclemente, que se derrama nas cores cálidas da mãe natureza, ela que a todos se impõe e tudo domina. Enfim, a visão romântica do passante, bem acantonado no ar condicionado, que no devaneio da miragem se escusa a pensar nas endemias e apêndice de enfermidades e escassezes que determinam vidas desprotegidas e mortes prematuras. Beleza e ironia….
A meio caminho, paragem nas cachoeiras do Sumbe, imponente espectáculo natural de luz e som, grossas cortinas cantantes de água a esfumear brancura no verde do entorno recortado no céu azul pintalgado de farrapos de nuvens, e o rio segue lesto a reverberar dourados na manhã soalheira. Ali perto uma aldeia, e o formigueiro do mercado de rua , cabanas e casas de pau-a-pique, outras mais de alvenaria, porém esconsas, perene o abandono das gentes que se afadigam no frenesim de acrescentar às vidas minguadas o pão-nosso-de-cada-dia.
Benguela, a cidade das acácias rubras, continua esbelta e mal trajada. Belas vivendas do período colonial, à vista bem restauradas, bordejam amplas avenidas, boas enfiaduras, junto à zona ribeirinha, onde um passeio marítimo a pedir restauro, salvo no pedaço ocupado por restaurantes e esplanadas, tal como os edifícios, os passeios e os jardins de boa parte da cidade reclamam intervenção urgente. E então Benguela será a bela.
Uma volta pela costa, nos arredores da cidade, levam-nos à linda praia da Baía Azul, enfeitada de árvorezitas de rendilhada folhagem, extenso areal perlado de conchas e pequenos búzios onde um mar canelado, esticadinho, azul e verde desenha bicos de espuma branca. Tudo é luz, cor e serenidade apenas agitada pelo pipiar dos pássaros em revoada. Adiante, picada fora na vastidão do festival de verdes da paisagem, assoma-se à aldeia, paupérrima, e porto de pesca da Caota, com destino à Caotinha, pequeno promontório debruçado sobre uma extensão de mar de crépon azul e esmeraldado a perder de vista. E a vista perde-se em deleites de lavar-olhos-e-enxaguar-alma. Num repente, enxameiam os meninos da aldeia dos pescadores, olhitos fosforescentes na lengalenga da pedinchice suscitada pela presença de estranhos, estrangeiros, entretém de graúdos e pequenada num lugar onde não acontece nada. Na desvairada beleza da natureza selvagem e dominadora. Só a pobreza das gentes mora aqui.
Luanda, 16 Abril 2009
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