quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Na juventude aprendemos, com a idade compreendemos...

(este texto chegou-me por e-mail. Como com ele eu concordo em partes não quis deixar de o trazer a público, mesmo não sabendo quem é o seu autor)


Mama, será que estamos preparados para o CAN??


Mama, será que estamos mesmo preparados para essa grande festa que os meus irmãos mais velhos que te governam estão a organizar?? Será que ela é mesmo necessária??
Desculpa mama, mas não consigo reagir com entusiasmo a essa idéia, porque quando olho à minha volta, vejo que ainda temos muito que arrumar aqui em casa.
Não consigo parar de pensar que os meus irmãos gastaram tanto dinheiro a construir 4 estádios em tão pouco tempo e aquela universidade grande, com dormitórios e tudo, que eles nos prometeram (há quantos anos mesmo??) simplesmente ainda não acabou...
A quem queremos impressionar mãe? Talvez eu é que não esteja a perceber muito bem e por isso me questiono tanto... E se de facto queremos impressionar, não é melhor impressionarmos com idéias do que com “fintas”? Ou impressionar o mundo com aquela menina que cresceu em meio a tantas dificuldades mas que mesmo assim é uma estudante brilhante, do que com aquela que é especial só porque é bonita? Não é melhor impressionar com o que é inteligente do que com o que é bonito ou divertido? Afinal, qual é a nossa prioridade mama? Impressionar ou trabalhar?
Como é que achas nós, teus filhos menos favorecidos na distribuição do leite das tuas grandes e fartas “tetas” nos sentimos diante de um evento como esse, sabendo que tanta coisa podia ser feita não só com o dinheiro, mas com o tempo e com pessoas que se têm dedicado a esse evento de 10 dias de simples diversão?
Será que devemos mesmo estar entusiasmados, sorridentes e orgulhosos, quando simplesmente não temos qualidade de vida? Mama, posso garantir-te que nenhum dos teus filhos hoje tem qualidade de vida, nem mesmo aqueles à quem deste as rédeas da nossa casa, porque acredito que mesmo eles, que por trás dos muros têm o necessário e o desnecessário, não gozam da qualidade de vida que é proporcionada por uma consciência tranquila, pelo sentimento de dever cumprido, pela alegria no rosto dos que os rodeiam, isso para não mencionar, as longas horas no transito, as ruas esburacadas onde quer que se vá, a desorganização e a certeza de que por mais que se esforcem ou se esfolem a tentar mascarar a verdade o país está a piorar.
Como é que nós, teus filhos, vamos receber as visitas se, para as que aqui estão, olhamos com desconfiança porque a todo momento sentimo-nos ameaçados, tendo em conta que o Chinês, nos tira a oportunidade de aprender ofícios básicos como a pedreira e o Português, o Brasileiro e outros bem... esses simplesmente não nos dão oportunidade, porque trazem “tudo” de lá. Mas será que a culpa é deles? O correcto não seria eles virem por um período, aprendermos com eles e depois de bem aprendido fazermos nós próprios? Mas aqui nesta casa, quem está preocupado com o correcto se o incorrecto também funciona?
Mama, os lugares principais da nossa enorme casa, tal como ruas, praças e avenidas estão a ser bem arranjados, isso é importante porque impressionar implica, quase sempre tapar o sol com a peneira. Mas quase sempre eu me pergunto: e se por acaso o turista, ao sair do Aeroporto tiver que evitar a 21 de Janeiro e for forçado a passar pelo Cassenda, pelo Mártires do Quifangondo ou ainda pelo Cassequel, como é que vai ser? O que vai pensar de nós esse turista que vai assistir os jogos em estádios de dar inveja a países desenvolvidos de tão majestosos? Será que sentir-se-á impressionado?
Alguns filhos teus, podem dizer-me que não estamos a organizar o CAN para impressionar, mas sim para o nosso próprio beneficio. Garanto-te que quase no mesmo instante outros filhos teus, os irmãos que estão do meu lado, vão apresentar uma lista sem fim de ideias, eventos e instituições que precisam de ser organizadas para o nosso próprio benefício e que são tragicamente prioritárias.
Mama, sinceramente não quero odiar a ti, a nossa casa, ou aos meus irmãos a quem incumbiste a nobre tarefa de nos dirigir e não vou fazer mesmo porque não me cabe odiar pessoas mas sim condutas, mas digo-te, eu sou dos teus filhos mais pacíficos porque outros de tão descontentes, já falam do impensável, que é uma guerra civil. Já pensaste mama? Outra guerra entre nós? E essa talvez seria pior, porque os descontentes estão tão próximos dos “contentes” que se calhar nem precisem de se esforçar muito para vandalizar.
Ai mãe... Gostaria mesmo de estar saltitante de entusiasmo porque uma festa é sempre uma festa e quanto maior melhor, mas sinceramente estou ocupada a descobrir se o meu interesse pelos estudos é que está a diminuir ou se a instituição em que estudo é que está cada vez mais degradante!
Não sou contra o CAN, mas contra o facto de ter se tornado uma prioridade.
Autor desconhecido
05 de Outubro de 2009

Na juventude aprendemos, com a idade compreendemos...



Pensar e Falar Angola

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