domingo, 28 de outubro de 2012

243 - Ágora - Turismaldamente!(II)







Turismaldamente!(II)
Voltando à BITUR, importa referir que os relatórios da Organização Mundial de Turismo apontam para pouco mais de 5% o número de turistas anuais no nosso continente, contra os 54% da Europa, os 5% do Médio Oriente, 15% no continente americano e 21% na região Asia/ Pacífico.
Dos discutíveis 5% que cabe ao nosso continente, o Egipto e a Republica da Africa do Sul partilham os primeiros lugares no acolhimento pontual de visitantes, deixando o resto em valores quase residuais para os outros países onde se salientam as Maldivas, Seychelles, Quénia, Moçambique, etc.
Com o proverbial hábito do angolano na hiperbolização dos números estimados, logo se apontaram metas que como na maior parte das situações pecam por demasiado exagero.
“Angola é o segundo destino turístico em número de vistos a seguir à Nigéria no continente africano”, “Estimamos num curto espaço de tempo acolher quatro milhões de turistas ano”, “ ressaltadas as enormes potencialidades do País em termos de turismo”, “Angola com infraestruturas para fazer face a exigências de turismo de qualidade” foram algumas das muitas frases ditas, repetidas e que se ousaram proferir durante o evento.
Este é um tema aliciante para um grande debate e não para uma crónica avulsa como esta, pois a realidade no terreno está cada vez mais longe desta mirífica linguagem.
Angola tem mar, sol, paisagem, rios, vegetação, fauna diversa, gente acolhedora e estabilidade política. Os condimentos indispensáveis para um turismo de qualidade parecem que estão todos reunidos. Pura estultícia.
Deixemo-nos de chauvinismos pueris porque sobejam exemplos de desordenamento do território que vão inibir a oferta turística do País durante muito tempo. 
Um dos exemplos inerentes ao desordenamento do território tem a ver com os desmandos que a indústria do petróleo faz em toda a costa de Benguela a norte, e que tem vindo a transformar as “idílicas” areias de águas tépidas da costa de Angola numa mistura hidrocarbonada de água do mar. Acresce a tudo isto que os barcos petroleiros e cargueiros aproveitam a falta de fiscalização do nosso território marítimo para lavarem porões e depositarem detritos que se alojam ao longo da costa. Quando se tenta compatibilizar uma refinaria, como a que está em construção no Lobito com as qualidades das praias das redondezas temos que convir que o resultado é no mínimo uma bizarrice angolana.
A sul de Benguela as águas são frias, e naturalmente que haverá na costa africana muito mais opções, mais baratas e melhor localizadas para o chamado turismo de sol e mar.
Importa referir que Angola fica “longe” da Europa, principal “municiador” da indústria turística, e só franjas muito residuais poderão acabar por ser seduzidas pelo apelo ao turismo no País.
Formação de quadros, menos exigências burocráticas para a obtenção de vistos, melhoria das acessibilidades aos locais de interesse turístico, diminuição gradual mas rápida da pobreza, erradicação de doenças propiciadores de pandemias, assistência médica ao nível da excelência, harmonização de tarifas aéreas e possibilidade de companhias de low-cost operarem em vários aeroportos do território, campanhas agressivas em mercados de grande procura turística e melhorar a apresentação de Angola nos pavilhões em certames internacionais de turismo, são apenas alguns exemplo só do muito que há a fazer para alterar o quase nada que há feito neste momento. Só nessa altura o Turismo poderá então ter veleidades para representar um dígito no PIB angolano.
Gostaria que houvesse um debate sobre este assunto e anuncio que numa crónica futura irei falar sobre o turismo solidário e sustentável no mundo e em Africa particularmente onde há exemplos muito interessantes e economicamente viáveis. Era uma via a ser observada com interesse porque começa a haver muitos parceiros e muitas adesões a um mercado com grande potencial nas próximas décadas.
“O espaço turístico é antes de mais uma imagem.” “Imagem complexa, sonhada, adormecida e que reflete pinturas, livros, roteiros, filmes, odores, sons, sensações, enfim as experiencia e o imaginário de cada individuo” Jean-Marie Miossec.

Fernando Pereira
17/10/2012



Pensar e Falar Angola

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