domingo, 13 de janeiro de 2013

253 - Ágora - No Antigamente, no Testamento







"Com cento e trinta anos Adão gerou um filho... e pôs-lhe o nome de Set. Após o nascimento de Set, Adão viveu oitocentos anos e gerou filhos e filhas. Ao todo, a vida de Adão foi de novecentos e trinta anos; depois morreu. Génesis, 5.3,4,5”. Passados uns anos fundou-se o MPLA.
O Antigo Testamento não teve continuidade e é muito lido e relido mormente por um conjunto de tipos vestidos de preto, com chapéus esquisitos donde saem umas tranças tubulares e a abanarem a cabeça, numa imitação paupérrima de Parkinsónikos, virados para um muro desgrafitado de todo.
Hoje estou numa de desopilar o fígado depois do massacre das noites festivas que fui tendo neste Dezembro de passagem para um Janeiro que cada vez promete menos novidades a não ser a expectável fraca prestação de Angola no CAN, porque na realidade nada se faz para inverter o estado geral a que está a chegar o desporto angolano.
O futebol é gerador de uma enorme movimentação popular e devia dar-se uma maior atenção aos aspetos organizativos e à formação. Mas hoje não estou muito para aí virado, embora contente pelo Recreativo do Libolo contratar o “jovem” João Tomás, o que poderá ser uma mais-valia para o meu 1º de Agosto aproveitar, para ver se este ano é que é! Parece a linguagem habitual dos tipos do Benfica de Lisboa, e que os do Sporting já esqueceram perante o poderio do Futebol Clube do Porto, que não anda à procura de carcaças para reforçar o plantel. Um dia destes voltarei ao tema!
Numa passagem pela imprensa, o habitual: quem apoia o governo acha que Angola está colocada, a nível de desenvolvimento económico e social, entre os da Noruega e do Liechtenstein, com tudo a funcionar no pleno. Quem desapoia, acha que Angola está mais ou menos como a Somália em que tudo é uma desgraça, cada angolano que seja chefe é um corrupto e todos os epítetos disponíveis na Priberam, agora que o Torrinha passou de moda. Cá está a imagem que vamos tendo num Janeiro monótono, em que, depois das visitas dos jornalistas às barragens que abastecem Luanda, se descobriu o que nunca deveria ter sido feito e se fez, e o que estava planeado é que se devia ter feito a tempo e não quarenta anos depois, no caso o alteamento de Cambambe, um projeto previsto nos célebres planos quinquenais de Marcelo Caetano para os anos setenta. Um recadinho de quem não percebe nada de barragens, albufeira e águas: não se esqueçam de fazer a ponte entre as duas margens, antes de a albufeira encher, porque a que está a ligar as duas margens do Kuanza a montante vai ficar debaixo de toda a água quando a albufeira subir. Não me tentem convencer que vão colocar uma jangada para a malta ir até ao Wako-Kungo e Huambo!
Lá estou eu a falar de coisas sérias, e de facto lastima-se que o Luandense já não consiga viver sem aquele zumbido nos ouvidos que quando o não sente acha estranho porque os geradores não estão a funcionar. Faz-me lembrar a história dos índios que viviam ao pé das cataratas do Niagara e que tinham as orelhas grandes e a testa recuada. Todas as manhãs, quando acordavam, faziam concha no ouvido para perceberem que ruído era aquele e puxavam a orelha para tentar ouvir melhor; mal percebiam que era o barulho da água, batiam com a palma da mão na cabeça e diziam: “ Possa, esqueci-me, são as cataratas do Niagara”!
Comecei com o Antigo Testamento, que, numa leitura de uma pessoa pouco abiblicada, faz “Salo ou os 120 dias de Sodoma” do Passolini numa verdadeira canção de embalar do tipo “Vitinho”, do meu virtuoso amigo e ex-colega do Salvador Correia José Maria Pimentel. Vou acabar com mais uma citação, que me remete para as demolições para se fazerem as cidades novas e inabitadas ou os condomínios fechados tão na moda na cidade que cada vez é menos de alguém! 
" O Senhor disse a Moisés: ordena aos filhos de Israel que expulsem do acampamento todo o leproso, todo o que tiver um fluxo e todo o que tiver sido contaminado por um cadáver. Expulsai-os, sejam homens ou mulheres, afastai-os do acampamento, para que não manchem estes recintos nos quais tenho a Minha morada."
Números -5.2,3.
Fernando Pereira
7/1/2013





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