sexta-feira, 26 de junho de 2020

De "A província de Angola" a "Jornal de Angola"

Uma adaptação rápida às novas adversidades

Filomeno Manaças
Esta velha casa de Imprensa, que tantos bons profissionais já produziu e de que nos orgulhamos, alguns dos quais serviram e continuam ainda hoje a servir com galhardia outras instituições, desde públicas a privadas, passando por jornais, ministérios, embaixadas, organizações internacionais, etc., cumpre neste dia mais um aniversário de vida - o 44º -, com os jornalistas e demais pessoal indispensável à feitura de jornais imbuídos da certeza de que se continua a fazer história.
Foi a 26 de Junho do ano de 1976 que o então Presidente Agostinho Neto assinou o decreto 51/76, que determinava o confisco da então Empresa Gráfica de Angola - SARL e abria as portas para a criação da Edições Novembro, primeiro UEE (Unidade Económica Estatal) e, mais tarde, Empresa Pública. Já antes, no calor das transformações políticas que o país então vivenciava, em 1975, e fazendo jus ao desejo de emancipação que fervilhava de Cabinda ao Cunene e do mar ao Leste, o único jornal que esta casa de imprensa produzia despia-se do título “A Província de Angola” e passava a designar-se, a partir de 1 de Julho desse ano, Jornal de Angola. 
De lá para cá, foi o trilhar de um percurso, com altos e baixos, que transformou a Edições Novembro - EP numa das principais empresas gráficas do país e o Jornal de Angola no principal diário do país.
Escola de profissionais das mais diversas áreas do saber que concorrem para a produção dos diferentes títulos da empresa - desde o jornalismo ao sector das artes gráficas, passando pela publicidade e área administrativa, em que não se pode esquecer as finanças e, nesse quesito, a contabilidade, além naturalmente da gestão dos recursos humanos -, a Edições Novembro continua focada em acompanhar as transformações que o mundo da imprensa está a sofrer, agora de forma particularmente acentuada com o advento da pandemia da Covid-19. 
Trabalhar em ambiente de tempestade - assim se pode caracterizar o momento actual, pautado pela vaga de ataques do novo coronavírus, que está a semear apreensões e incertezas em todo o mundo e a pôr em causa as previsões mais optimistas, como que a alertar que nestes tempos elas têm pouco ou nenhum valor - está a ser um aprendizado que, desde logo, nos mostrou a necessidade de potenciar a aposta nas plataformas digitais. 
Por força das restrições a que o mundo esteve e continua obrigado a observar, a Internet passou a ocupar maior espaço nas nossas vidas, tal como o acesso ao audiovisual, para o consumo de informação relevante sobre a evolução da Covid-19 no mundo e outros acontecimentos que vão tendo lugar.
Digamos que a pandemia veio reforçar a importância da Internet e dos smartphones, tratando de pôr em relevo toda a diferença que fazem num tal contexto. Recursos sem os quais muita coisa poderia estar a acontecer no mundo e simplesmente ser abafada, porque teria escapado ao conhecimento e sufrágio da aldeia global que hoje somos.
Recuando no tempo, é possível imaginar o cortejo de horrores que terá acontecido à pala da gripe espanhola, que varreu o mundo entre 1918 e 1920, e que ficaram por ser contados. 
A rápida adaptação, feita pela empresa e pelos jornalistas, ao novo contexto, permitiu esbater os efeitos negativos da Covid-19 e continuar a manter, nestes tempos conturbados, a Edições Novembro e o Jornal de Angola como empresas de referência na produção de conteúdos informativos, vincando o profissionalismo e o empenho dos quadros em manter o público sempre ao corrente das principais novidades políticas, económicas, culturais e sociais, quer em relação aos acontecimentos no âmbito doméstico, quer a nível mundial.
Vindo dos tempos em que o jornal físico era o rei todo - poderoso - e até hoje não troco o prazer de folheá-lo e de poder fazer anotações à lápis ou lapiseira aos textos - foi com um aperto no coração que olhei para o vendaval que a pandemia de Covid-19 anunciava, como a possibilidade de o vírus poder ser transmitido de uma para outra pessoa até mesmo através de documentos. 
E o jornal físico - tenho defendido -, é um documento diferente do documento virtual. Tem mesmo vantagens incomparáveis, como a possibilidade de o que for postado num site ser susceptível de alteração, de ser retirado ou apagado, ao contrário do que for escrito em papel de jornal. Fica lá e não sai! Se estiver errado, há sempre a possibilidade de ser rectificado/corrigido nas edições seguintes ou posteriores e, se não o fizer, há ainda o instituto do direito de resposta. Isto obriga o jornalista a um maior cuidado no apuramento dos factos, nestes tempos em que as fake news também disputam as atenções do público, pretendendo impôr-se como verdades, e uns quantos teimam em querer confundir o jornalismo com qualquer informação produzida e postada nas redes sociais.
Quem me estiver a ler pode pensar que sou contra as redes sociais. Desengane-se! Sou partidário de que a empresa deve abraçar os dois modelos de negócio: os jornais nas plataformas digitais e os jornais físicos. Acredito que há uma grande margem de progressão dos jornais impressos ainda não explorada convenientemente, tal como é verdade que temos uma grande avenida a percorrer em matéria de qualidade gráfica e editorial dos produtos digitais, que são uma ferramenta que permite chegar a um público mais vasto, que as publicações físicas, pelas especificidades que lhe são inerentes, não conseguem alcançar.
Conhecedores desta realidade, eis-nos aqui prontos a desbravar novos caminhos, com a mesma firmeza de sempre. Para todos os profissionais desta casa de imprensa, aos que partiram e aos que, de forma abnegada, continuam a dar o seu melhor em prol da empresa, hoje é um dia de merecido tributo.
in Jornal de Angola

Pensar e Falar Angola

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