segunda-feira, 15 de fevereiro de 2021

sábado, 13 de fevereiro de 2021

LILICA BOAL


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LILICA BOAL (n.1934)
Antifascista e anticolonialista cabo-verdiana, lutou em Portugal contra a ditadura fascista e pela independência dos povos das colónias. Historiadora e professora, foi a primeira mulher deputada cabo-verdiana, e a única figura feminina da primeira legislatura da Assembleia Nacional de Cabo Verde. Durante a guerra colonial, teve um importante papel à frente da Escola-Piloto (em Conacri), para crianças e jovens, filhos de combatentes e órfãos de guerra.
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1. Maria da Luz Freire de Andrade, conhecida por Lilica Boal, nasceu em Tarrafal de Santiago, em 1934, filha de pais comerciantes, Eulália Andrade [Nha Beba] e José Freire Andrade [Nho Papacho] (1).
Viveu no Tarrafal até aos 11 anos e depois em São Vicente, onde frequentou o Liceu Gil Eanes. Mais tarde vem para Portugal, e é em Braga que conclui o sexto e o sétimo anos. Em Coimbra, frequenta a Faculdade de Letras (Histórico-Filosóficas) e começa a namorar o jovem angolano Manuel Boal, com quem irá casar a Cabo Verde em 1958. Dois anos depois, muda-se para Lisboa e inscreve-se em Histórico-Filosóficas na Universidade de Lisboa. Começa então a frequentar a Casa dos Estudantes do Império (CEI), um espaço progressista também frequentado por antifascistas portugueses, onde desperta para os ideais da libertação. Nesse grupo abordava-se a situação que se vivia nos diferentes países africanos e os jovens estudantes dos vários países das colónias, que se encontravam ali - de Angola, Moçambique, São Tomé, Guiné e Cabo Verde – debatiam o papel que os estudantes africanos poderiam ter na luta pela libertação dos seus povos colonizados (2).
Em Junho de 1961, Lilica Boal regressa ao continente africano (3), numa fuga clandestina conjunta “rumo à luta”, com dezenas de outros estudantes africanos (sobretudo angolanos), que se propõem participar, mais directamente, na luta pela independência. Com o objectivo de reforçar as direções dos movimentos de libertação das colónias africanas, os jovens estudantes organizam a fuga (para a qual têm apoios) e partem com documentos falsos (do Senegal). Atravessam do norte de Portugal para Espanha e acabam por ser presos em San Sebastian, onde estiveram detidos 48 horas e donde só são libertados por pressão do Conselho Ecuménico das Igrejas. Prosseguiram o caminho para França e ficaram, cerca de um mês, na Sede da Cimade [uma ONG francesa fundada por grupos de estudantes protestantes franceses]. Dali seguiram clandestinamente para a Alemanha e por fim aterram no Gana [Os Movimentos de Libertação dos seus países tinham conseguido do Governo do Gana o apoio necessário para irem para África. O presidente Kwame Nkrumah enviou um avião para a Alemanha, que os transportou]. No Gana, são bem recebidos e recebem visitas de dirigentes dos outros movimentos, que os encorajam para a luta, nomeadamente, de Mário Pinto de Andrade, Lúcio Lara, Viriato da Cruz , do bureau do MPLA, ali sediado (4).
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2. Lilica Boal combinou com Amílcar Cabral ficar a trabalhar no Senegal, em Dakar (5), desempenhando funções administrativas no Gabinete do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) e, também, ligada ao lar onde ficavam os combatentes que vinham da fronteira e alguns feridos de guerra, que chegavam por Ziguinchor. LB tem contactos com a comunidade de Cabo Verde com o objectivo de discutir e mobilizar aquela comunidade para a possibilidade de lutar pela independência daquele país, e chega a trabalhar com Pedro Pires, antes de este partir para a Argélia, para fazer formação militar. Entretanto, fica longe do marido que, tendo saído de Lisboa prestes a terminar a licenciatura, vai para o Congo-Kinshasa acabar a formação em medicina e participar, com outros colegas, nas actividades da unidade de saúde do MPLA, de assistência aos feridos de guerra e refugiados angolanos. [Só de longe a longe, no decurso de uma missão, se conseguiam encontrar]. Mais tarde, vai ser possível ter a filha com ela, em Dakar, e o casal tem um segundo filho, Baluca.
Durante as férias, Lilica Boal ia a Conacri (Guiné) trabalhar na formação de professores; e, em 1969, a convite de Amílcar Cabral, assume a direcção da Escola-Piloto do PAIGC (110 alunos), já criada em 1964 para apoiar os filhos dos combatentes e os órfãos de guerra. Ali viviam e trabalhavam, juntos, nas 24 horas do dia (6). LB era também a responsável pela elaboração dos manuais da escola, uma vez que os existentes não abordavam a realidade do seu país.
No período em que esteve na Escola-Piloto, integrou a direcção da União Democrática das Mulheres (UDEMO), sendo responsável pelas relações internacionais e participou em encontros internacionais de mulheres onde se discutia a situação da mulher em África e no mundo.
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3. Em 1973 viveu, em Conacri, a tragédia do assassinato de Amílcar Cabral: «O maior drama da luta, e da nossa vida, foi a morte de Cabral, assassinado em Conacri, a 20 de Janeiro de 1973». [LB, em Mulheres de Abril]
A 24 de Setembro de 1973, Lilica Boal assistiu à proclamação, unilateral, da República da Guiné-Bissau. A cerimónia teve lugar em Lugadjol, na região do Boé, num sítio deserto, e contou com a presença de altos quadros, ministros que vieram de outros países para assistir à proclamação da independência (7). Em Conacri, continuou a acompanhar a evolução da luta armada (que avançava após a proclamação), convencida de que o fim da guerra se aproximava.
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4. Soube do 25 de Abril de 1974 na Escola-Piloto e foi com alunos e colegas que viveu todas as emoções da Revolução, reforçando a convicção de que os movimentos de libertação estavam próximos da vitória. Integrou a primeira delegação [LB na área da Educação e Manuel Boal na área da Saúde], que foi a Bissau contactar a estrutura colonial que ali estava (8) e integrou o primeiro grupo de quadros que foi negociar com o governo colonial presente na Guiné. Entre 1974 e 1979 foi directora do Instituto Amizade do PAIGC, na Guiné-Bissau. Logo após a independência, a taxa de analfabetismo em Cabo Verde era quase 90%. Quando, na continuidade da Escola Piloto, são abertos vários internatos na Guiné-Bissau, Lilica Boal vai para o ministério da Educação como directora-geral da coordenação do Ministério da Educação guineense.
Fica na Guiné até ao golpe de estado de Nino Vieira, em Novembro de 1980. Regressa então a Cabo Verde e desempenha funções de inspectora-geral da Educação. Depois, passa para o Instituto Cabo-verdiano de Solidariedade, onde esteve até à reforma. .
Foi uma das fundadoras da Organização das Mulheres de Cabo Verde, onde foi responsável pelas relações internacionais da organização. [Esta organização trabalhava nas áreas da alfabetização, da formação de pequenos negócios, geradores de rendimentos, tendo em vista a autonomia das mulheres.]
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5. Homenagens e reconhecimentos
Em 2020, Sessão de homenagem à Combatente da Liberdade da Pátria, Lilica Boal, "Dia dos Heróis Nacionais", Mercado de Cultura e Artesanato, em Tarrafal. Em 2015, produção do documentário da autoria de Margarida Mercês de Melo, A Casa da Mensagem. [Com áudio de António Garcia, produção de Gertrudes Marçal, realização de Rafael Abalada Matos e selecção musical de Margarida Mercês de Melo. Depoimentos de Adriano Moreira, Alberto João Jardim, Fernando Mourão, Fernando França Van-Dúnem, Fernando Vaz, Hélder Martins, João Cravinho, Joaquim Chissano, Lilica Boal, Luís Cilia, Magui Leite Velho Mendo, Manuel Boal, Manuel Videira, Mário Machungo, Miguel Trovoada, Moacyr Rodrigues, Óscar Monteiro, Pedro Pires, Pepetela, Raúl Vaz Bernardo e Ruy Mingas.]
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Notas:
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(1) Em 1936, foi instalado o Campo do Tarrafal, destinado aos presos políticos antifascistas idos de Portugal e colónias e o pai abastecia esse campo. «Apesar de ser muito pequena, marcou-me aquele movimento da chegada dos presos, que vinham em camiões, cobertos por um pano para que ninguém os visse. Outra memória que me marcou foram os anos de seca em Cabo Verde. Era impressionante: a fome, as pessoas que caíam mortas na rua» [LB, Mulheres de Abril] «O Campo situava-se a dois quilómetros da Vila e havia um silêncio total sobre o mesmo, ninguém via os presos, não se sabia o que eles passavam lá, eram quase que ignorados. (…) não havia contacto directo com os presos no Tarrafal. Fazíamos a nossa vida normalmente como se não existisse o Campo de Concentração» [LB, em
(2) «Na CEI, o ambiente era alegre, nosso, livre. Sentíamo-nos em casa, no nosso país. Tínhamos contacto mais frequente com pessoas como o Pedro Pires, de Cabo Verde, que estava a fazer o serviço militar em Portugal (…). Ele era muito amigo do Iko Carreira, de Angola. Na altura, morávamos em Sete Rios e eles iam muitas vezes lá a casa. Esse contacto, que ainda hoje se mantém, fez-me reflectir sobre a realidade do meu país: a miséria, a fome, a falta de escolas, de médicos» [LB, Mulheres de Abril]
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(3) Lilica e Manuel Boal tinham uma filha, Sara, que a Avó, numa visita a Portugal, propõe levar consigo para o Tarrafal, o que o casal aceita, apesar do habitual sofrimento naquelas situações.
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(4) «O Cabral (Amílcar) explicou-nos que não era uma luta contra Portugal e contra os portugueses, era uma luta contra o sistema e o colonialismo. Falou sobre a situação dos nossos países, sobre a necessidade de nos juntarmos aos outros países que tinham o mesmo problema, como Angola. O Cabral era, sobretudo, muito humano, preocupava-se com os combatentes, com os camaradas. Era, realmente, extraordinário em termos humanos. Inspirava confiança. E nós entregámo-nos totalmente à causa» [LB, Mulheres de Abril]
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(5) Amílcar Cabral perguntou a cada um deles qual era o seu projecto, e LB disse-se disponível para participar na luta, manifestando o desejo de ficar no Senegal, para poder contactar com a filha que estava com a avó no Tarrafal.
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(6) Nessa escola ensinavam o português, o francês e o inglês, geografia e a história da Guiné e de Cabo Verde, com o objectivo de formar os futuros quadros destes dois países. Com um forte apoio internacional de Cuba, Suécia, França, União Soviética, França, eram atribuídas bolsas de estudo, o que permitiu a muitos estudantes prosseguirem estudos superiores em Cuba, União Soviética, Checoslováquia, Roménia, Jugoslávia e Alemanha Democrática. Lilica Boal refere que: «Na Escola-Piloto precisávamos de estar preparados para tudo, por isso, tínhamos aulas para aprender a manejar armas» [LB, Mulheres de Abril]
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(7) Era um lugar sem quaisquer condições. «No meio daquela confusão, passou por mim um desses quadros, que me pediu: “Water, please”. Eu respondi: “Wait a moment” e desapareci. Não tinha água para lhe dar. Foram histórias lindas. Cada um de nós tem a sua história». [LB, em Mulheres de Abril]
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(8) Em Bafatá, por ocasião da partida de um barco português que tinha ido buscar militares, LB assistiu ao entusiasmo dos jovens militares portugueses que iam, finalmente, ver as suas famílias. «Foi uma coisa apaixonante, aperceber-me que eles estavam lá mas que, afinal, aquela não era a sua guerra. Tinham sido enviados para lá. Isso também foi uma das coisas que me marcou» [LB]
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Biografia da autoria de Helena Pato
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Fotografia: Maria da Luz Boal, de DW/ M. Sampaio, DW, «25 de Abril e Independências - Lilica Boal, a eterna diretora da Escola-Piloto do PAIGC»
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Fontes:
- Lilica Boal, wikipedia
- «Mulheres de Abril: Testemunho de Lilica Boal», www.esquerda. net
- Revista Sempre Viva, entrevista a Lilica Boal.
- DW, «25 de Abril e Independências - Lilica Boal, a eterna diretora da Escola-Piloto do PAIGC»







Pensar e Falar Angola

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2021

outra mala de cartão

outra mala de cartão

Para quem gosta de livros, de História, de cultura literária aconselho uma visita a este blog. 
Este espaço é um lugar de tralhas diversas que tenho para vender, trocar ou talvez dar a quem eu julgar que mereça. Se precisarem de alguma coisa contactem-me! Antiguidades, livros antigos, máquinas fotográficas, medalhistica, numismatica, notofilia, cartofilia, postais, selos, curiosidades, papéis de valor, porcelanas, documentos antigos, faianças,brinquedos antigos e muito mais. Lugar excelente para comprar livros sobre Angola.

domingo, 7 de fevereiro de 2021

Um até sempre amigo

Acendi a lareira. Pequei nos textos mais antigos, nas Conversas de Café e estive em diálogo com o F. Rocha. Meu amigo das noites dialogadas na Sanzalangola. Noites longas de conversas de cortar à faca. E ele partiu para parte incerta e tanto ficou por dizer e saber. Este senhor nunca lhe vi zangado. Palavra certa e o mundo lhe ouvia, serenamente.

A partir de hoje lhe vou ficar só na memória, vou-lhe ficar com palavras soltas e tantas cores misturadas, um céu azul sem tempestades, umas estrelas de conhecimento e outras de amargura, todas necessárias para o papel que ele teve nesta Angola em Portugal. Hoje acendo a lareira para reinventar o calor da terra na memória deste amigo que perdemos.



Pensar e Falar Angola

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2021

NJINGA MBANDI NO CINEMA - ALBERTO OLIVEIRA PINTO - LEMBRA-TE, ANGOLA Ep. 2

Pensar e Falar Angola

Vida Selvagem

O director do Instituto Nacional de Biodiversidade, Aistofanes Pontes, disse que uma das metas da instituição é o resgate das espécies dadas como extintas. É a segunda parte da entrevista, cuja primeira saiu, sexta-feira, sem a identificação do entrevistado, falha pela qual nos desculpamos.

Qual é a real situação da Palanca Negra Gigante?

Foi construído um santuário turístico para observação deste animal emblemático no Parque Nacional da Cangandala. Os cidadãos, de modo geral, poderão visitar o Parque Nacional da Cangandala e ver de perto a Palanca Negra Gigante. A real situação da Palanca Negra Gigante é estável, porém, ainda se verifica uma certa pressão a nível nacional, sobre as diferentes espécies da nossa fauna.

Qual é o nível de execução do plano de acção nacional de conservação da chita e do mabeco?

A estimativa total de chitas para o País é de 200 indivíduos, sendo 30 para o Parque Nacional do Iona, 100-151 para os Parques Nacionais de Mavinga e Luengue-Luiana. A estimativa populacional de mabecos é de 800 indivíduos, sendo 90 para o Parque Nacional do Bicuar/Mupa, 260-599 para Mavinga e Luengue-Luiana, 20 para a zona Sul do Luando e com vários registos de câmaras trap, no Moxico e Bié. Está em carteira a implementação do projecto com a comunicação social e artistas, para a divulgação e sensibilização de um top 10 da Lista Vermelha das Espécies Ameaçadas de Extinção em Angola, onde a chita e o mabeco também fazem parte. A realização desta actividade está condicionada pelas medidas de segurança, implementadas no âmbito da Covid-19.Foi realizada recentemente a proposta de revisão da Legislação Nacional e Convenções Internacionais que apoiam a conservação da chita e do mabeco.

A julgar pelo contexto político que o país viveu nos últimos anos, o Instituto Nacional da Biodiversidade e Áreas de Conservação já pensou no resgate das diferentes espécies que deixaram o seu habitat?

Sim. Uma das metas a atingir é o resgate das diferentes espécies que hoje são dadas por extintas e nas diferentes categorias de conservação. Vários são os projectos que estão a ser implementados com este fito como, por exemplo, o projecto de protecção da Palanca Negra Gigante. A reabilitação das áreas de conservação e seus ecossistemas, o estabelecimento das equipas de gestão, a abertura dos corredores ecológicos jogam um papel muito importante no resgate das espécies e são acções que constam dos vários programas e projectos em implementação no Instituto.

Podemos estimar o impacto da Covid-19 na biodiversidade mundial e angolana em particular?

A acção antrópica danosa ao ambiente como a expansão de assentamentos humanos, exploração insustentável dos recursos naturais, a poluição, têm afectado consideravelmente mudança climática e na perda da biodiversidade com a obrigação da humanidade em ficar em casa para conter a disseminação do vírus Sars-Cov-2 e a sua doença, a Covid-19, tem contribuído no regresso da vida selvagem para o seu habitat, na recuperação da vegetação e da saúde dos ecossistemas a nível global e nacional.

Em Angola, é notório o aumento da densidade populacional de animais selvagens nos diferentes ecossistemas nas áreas de conservação, o retorno das aves migratórias no seu habitat, devido a sanidade do meio e a ausência humana nos seus habitats, a redução da poluição. Infelizmente, com o aumento da fauna selvagem nas áreas de conservação e consequentemente a redução de efectivos de fiscalização, não sendo possível cobrir todas as áreas, proporciona o aumento da caça furtiva para fins comerciais. Este impacto negativo pode comprometer os resultados positivos alcançados pela Covid-19 e comprometer a implementação das actividades ecológicas nas áreas de conservação. A pandemia da Covid-19 criou um impacto negativo e profundo para os países no Leste e Sul da África, como resultado da cessação repentina de todas as visitas, no âmbito do desenvolvimento das actividades ecológicas intimamente interdependentes.

A biodiversidade angolana oferece potencial, em termos de plantas medicinais que podem curar diversas doenças como a Covid-19, HIV/Sida, malária e outras?

Segundo o manual de plantas medicinais de Angola (Costa E. & Pedro M. 2013), Angola tem 19 espécies de plantas descritas utilizadas na medicina tradicional, para a cura de diversas enfermidades, no qual podem ser usados os frutos, sementes, folhas, caules e outros constituintes da planta. A realização de estudos clínicos e científicos são necessários e importantes para se aferir o grau de utilidade que as referidas espécies possam oferecer para o tratamento de diferentes patologias. É importante realçar que Angola é Parte do Protocolo de Nagoya, um instrumento jurídico e legal da Convenção da Diversidade Biológica (CBD), que foi adoptado na 10ª Conferência das Partes em Nagoya, Japão. O objectivo deste Protocolo é de promover a partilha justa e equitativa dos benefícios decorrentes da utilização dos recursos genéticos, definindo as políticas de acesso aos recursos genéticos e de partilha de benefícios promovendo ao mesmo tempo a conservação da diversidade biológica e o uso sustentável dos seus componentes. Proporciona solidez, certeza e transparência jurídica tanto para os provedores, tanto para os usuários de recursos genéticos.

O abate, consumo e comercialização de animais selvagens continua a ser um desafio para as autoridades que cuidam da preservação do meio ambiente?

Sim. O comércio ilegal de espécies da vida selvagem continua sendo a terceira maior actividade ilegal do mundo, perdendo apenas para o comércio de drogas e de armas. A densidade e diversidade de animais selvagens em Angola está em declínio e um dos principais factores é a caça furtiva, favorecida pelo comércio ilegal dos animais selvagens, que desde o período pós conflito armado passou de uma actividade de subsistência para actividade comercial de pequena, média e grande escala.

Quais são as principais acções responsáveis pela perda da biodiversidade um pouco por todo o mundo?

Entre as acções que concorrem para a perda da Biodiversidade podemos destacar a desflorestação, destruição dos solos, poluição do ar dos solos e das águas, queimadas, caça, pesca e tráfico ilegal, sob’ exploração, destruição de habitats, fragmentação dos habitats, introdução de espécies exóticas e as alterações climáticas.

Até que ponto a acção do homem sobre o meio ambiente influência as mudanças climáticas que o mundo regista a cada dia?

Normalmente quando se fala deste tema o mesmo é relacionado a revolução industrial onde se produz mais voltando nos lucros e na satisfação do alto consumo a nível mundial. Neste processo produtivo requer a utilização de maior quantidade de recursos ou matéria-prima e consequentemente cria pressão as florestas, polui a atmosfera e os recursos hídricos, contamina e empobrece os solos e como resultado temos as alterações climáticas. A mudança de atitude e/ou de comportamento estão entre as soluções para a redução dos impactos negativos sobre o ambiente.

Quais são as reais necessidades do sector em termos de recursos humanos face aos desafios?

Capital humano formado e capacitado em diferentes áreas do ambiente, bem como, capital financeiro que compense o árduo trabalho de gestão, conservação e preservação da biodiversidade.

Podemos considerar a biodiversidade um sector que pode absorver a mão-de-obra em grande escala?

Sim. Podemos considerar a conservação da biodiversidade um sector que pode absorver a mão-de-obra, sobretudo local, em grande escala. Para tal são necessários programas, projectos específicos para cada área. Essas cooperativas desempenharam um papel fundamental na recuperação da vida selvagem do país, incluindo a triplicação de sua população de elefantes, desde o início dos anos 90, e catalisando o investimento em actividades ecoturísticas e a utilização de outros animais selvagens em áreas rurais remotas.

As cooperativas comunitárias geraram cerca de US $ 11 milhões em retornos e benefícios da vida selvagem e mais de 5.000 empregos, em 2019.

 




Pensar e Falar Angola