O raide TTT (Turismo Todo-o-Terreno) 2008 teve como destino a foz do rio Cunene. O trajecto estendeu-se pelo Kwanza-Sul, Benguela, Namibe, Huíla, Huambo e um pouco de Kwanza-Norte. foi o dar de caras com imagens que fazem desta terra um lugar abençoado. Tudo o que o resto do mundo tem Angola tem. Bem, neve não há, mas no frio de Junho, no Lubango, forma-se uma película de gelo nas superfícies vidradas e nas folhas das plantas. De repente vivemos, com mais beleza, paisagens das que apenas se vêm nos filmes e pela televisão, depois de montadas e enlatadas para nos impressionar. Aqui é tudo ao vivo. É belo, simplesmente. E não há fotografia que faça justiça.
Mas as paisagens não são tudo. Há a gastronomia. Se na costa os mariscos fazem as delícias, cozidos, assados, com ou sem jingungo, a caldeirada de cabrito, os lombis, a batata doce, a cabidela, o lombo de javali e a feijoada, fazem com que nos percamos pelo estômago, no interior do país. A caldeirada de cabrito, não se percebe se pela vegetação que alimenta os animais, se pelo pimento, a verdade é que sofre pequenas variações de região para região, qual delas a mais saborosa? No Namibe, o peixe tem sempre outro sabor, como o reservado apenas aos deuses.
Há a ternura grátis no olhar das crianças das aldeias e vilas, como se toda a gente fosse família. Ficou longe, para trás, a imagem de crianças andrajosas e subnutridas com que Angola era reconhecida. Eram imagens a pedir uma oportunidade. Uma oportunidade de paz. A que hoje nos permite correr o país e tornar mais estreito o abraço às suas diversidades.
Por favor, asfalto não
Os 19 carros da caravana
raide ttt (Turismo Todo-o-Terreno) que juntou angolanos e portugueses, jornalistas, políticos e militares (o chefe do estado maior da força aérea portuguesa também participou), percorreram uma extensão de 4500 km. Havia um rádio em cada automóvel (Nissan Hardboby) e, de repente, as reclamações começaram no trajecto Luanda-Benguela. Onde estava afinal o tal de todo o terreno? 600 km de asfalto, que brincadeira é essa? Pois, as estradas que até há dois anos pareciam coadores que nos passariam para lá da vida estão agora a vestir-se de preto liso. É bom para tudo menos para aventureiros… irónico, este sentimento de que para apanhar buracos é agora uma aventura. Adiante. Mas atenção que isso não é em todas as estradas do país. Há ainda muito por fazer. Foi numa estrada rota que seguimos de Benguela ao Namibe, antes que se fosse trocar também. Depois do Dombe Grande, foi o deslumbramento, todo o terreno, finalmente. Tudo pedra, é melhor assim. Por sorte não se partiu qualquer diferencial e deu para chegar à Lucira com o pôr-do-
-sol. É proibido chegar-se à Lucira fora desta hora. É um arrebatamento tal que apetece montar aí casa, parar o tempo e ser eternamente feliz. Antes, fora o encontro com chimpanzés que observavam do alto da montanha os tolos que se tinham perdido numa estrada de pedras.
No grupo havia dois veterinários, um deles, Carlos Magalhães, é apaixonado por répteis e foi director do parque nacional do Iona, de 1972 a 1975. A viagem estava ganha, em termos de explicações sobre a fauna ao longo do percurso. O parque do Iona, criado nos anos 50 do século passado, tem 1200km2. O soba Catraio é o soba grande da área e vive junto ao rio Sarojamba, um afluente do Curoca, cuja água tem 40 por cento de sal. Soube-se que a águia-real, também no Iona, é o maior pássaro a voar no mundo, a abetarda chega aos 150 cm de comprimento…
Maior oásis do mundo
Maior oásis do mundo
Bem no deserto do Namibe, perto da estrada para o Tômbua está o oásis das três torres – o maior lago do mundo num deserto – é um pequeno mar. Ao lado vive uma família (30 pessoas) cujo patriarca é bisneto de escravos vindos do Bié, do Bailundo e do Kwanza-Sul. O Soba Rogério, que tem 63 anos, fala kimbundo, umbundo e mukubal. A chegada a este sítio foi uma gentileza do general Lanucha, um cidadão do Namibe que apresentou ao grupo
o restaurante Beira Mar, junto às Portas do Mar. Inventou-se lá o sabor
da boa lagosta assada.
A aventura, no entanto, apenas o é quando se chega à Omauha (pedra em Curoca). No lodge Omauha, outra vez o deslumbre. Comer num restaurante que é uma caverna no interior de uma pedra, ver as estrelas à noite, aquecer-se, virar as costas ao frio em frente a uma fogueira. E na manhã seguinte um safari para ver orixes, cabras de leque, avestruzes.
Seguem-se as dunas, vazar os pneus e seguir em alta velocidade até ao sítio onde termina o país, bem no canto sudoeste. A instalação é no Lodge Flamingo, com a protecção próxima da tropa guarda fronteira. Depois é ir ver os pelicanos e os pescadores e seguir rumo aos norte a beira-mar. Pneus vazios e rolar com as velocidades mais altas. À direita, uma parede de dunas e à esquerda, o mar. O tempo é contado, se se pára o carro enterra e se enterra a maré sobe, se sobe leva o carro. É o máximo que se pode exigir em termos de aventura. Perto de 400km de fuga e com a Baía dos Tigres, deserta a acenar, como que dizendo "Aventura, aventura, é vir à ilha que já foi cabo, que se isolou e guarda os canídeos mais famosos de Angola". Os edifícios estão lá, vêm-se da costa. À espera de quem for capaz.
Uma aventura no sudoeste angolano
A terceira edição do raide turismo todo-o-terreno cobriu as zona ocidental e sul do país. O mapa mostra o percurso que levou os participantes ao Sumbe, Lobito, Catumbela, Lobito, Lucira, Namibe, Omauha, Foz do Cunene, Tombwa, Lubango, Matala, kaconda, Caála, Huambo, Waku-kungo, Kibala, Kalulu, Dondo e Catete. O percurso permitiu o contacto com a grande variedade cultural e paisagística das zonas visitadas.
A aventura no deserto e na foz do Cunene
Pode começar por um telefonema à administração do lodge Omauha - hotel na pedra (264266096, 923568442 ou 923452748; malmo:alvaro@omauha.com)ou ao Flamingo - acampamentos na Espinheira e na Foz do Cunene (925667962 - Ned). Ambos recebem grupos, com ou sem carro próprio. Levam os turistas do aeroporto do Namibe ou do Lubango à Foz do Cunene e ao parque do Iona. Em todas as cidades há hoteis de qualidade aceitável.
Partir à descoberta de Angola tem tudo o que um aventureiro pode exigir. Nissan, TAAG, ENSA, TDA, Sonangol, UNITEL, Expresso 24, Governo do kwanza-Sul e câmara de Almada apostam em novas rotas turísticas. Miradouro da Lua, à saída de Luanda, para o sul.
É só uma pequena amostra das belezas que Angola tem para quem a percorra.Pode começar por um telefonema à administração do lodge Omauha - hotel na pedra (264266096, 923568442 ou 923452748; malmo:alvaro@omauha.com)ou ao Flamingo - acampamentos na Espinheira e na Foz do Cunene (925667962 - Ned). Ambos recebem grupos, com ou sem carro próprio. Levam os turistas do aeroporto do Namibe ou do Lubango à Foz do Cunene e ao parque do Iona. Em todas as cidades há hoteis de qualidade aceitável.
O barco do Kwanza Lodge, na barra do Kwanza. Almoço e um passeio pelo rio …
Toda a gente que vai do Sumbe ao Lobito tem esta fotografia … mas é mesmo um bom postal…
Na Caota, em Benguela. A água é mesmo límpida e quentinha. Ondas há poucas. É uma piscina com tamanho de mar.
Praia da Macaca, perto da baía Farta, em Benguela. Só lá indo…
Matrindindi. O insecto todo o terreno que é o símbolo do TTT, tem uma couraça na cabeça (que nos leva à "Guerra nas Estrelas" de George Lucas).
Crianças na Baía Farta, são o maior encanto de Angola.
Início do verdadeiro todo-o-terreno, depois do Dombe Grande, em direcção à Lucira.
Dombe Grande (Benguela). Aulas à sombra das arvores, para os meninos da iniciação. Fresco e silencioso… que inveja.
Lucira. Sem montagens e sem truques. É a cor do por-do-sol, enfeitiça.
Porto do Namibe.
Lago das Três Torres. O general Lanucha, um kwanza-sulano que pegou de estaca no namibe, diz que é o maior lago do mundo num deserto. É mesmo grande. A foto mostra apenas uma parte.
Igreja da Sé (Namibe), património cultural.
Uma das torres que circundam o lago das três torres.
Aldeia do soba Rogério, cujos bisavós vieram como escravos, do Bié, Bailundo e Kwanza- Sul.
Cabo Negro. Um ensaio para aprender a guiar no deserto. 95 % dos carros enterrou. Sorte é que era perto da cidade.
A caminho do parque do Iona, no meio de nada há um cone de pedras. Diz a tradição herero que é o túmulo dum soba. O viajante deve depositar uma pedra para ter sorte. Já não há pedras no raio de 200 metros.
Uma Welwitchia gigante … ou várias welwitchias sobrepostas?
Omauha significa pedra. É na pedra este restaurante do Lodge Omauha.
Paisagem plana que se perde de vista, deve ter sido um mar, há milhões de anos.
Escorpião. A partir deste encontro foi a multiplicação de olhos … atenção e medo a dobrar …
Rio Sarojamba, (água salgada) marca a entrada no parque do Nacional do Iona.
Cabras de leque. Felizmente avistam-se muitas, tal como Orixs, avestruzes … e escorpiões.
Zona da Espinheira. Instalações da administração do Parque do Iona.
Na precipitada fuga de 1975, rumo à Namíbia e à África-do-Sul, um colono perdeu o seu Ford. Deve ter sido uma máquina na altura, tinha mais de 2000 de cilindrada.
Chegada à zona das dunas. Faltam duas horas e pouco para a chegada à foz do Cunene. O que se vê a frente intimida.
A duna do lado de lá do rio já é Namíbia. Vista do acampamento Flamingo. O guia chama-se Ned, está sempre a rir. Suaviza a dureza do passeio.
Mais um quilómetro e estamos no local em que o Cunene encontra o mar. Emoção sem medida.
Pelicanos, patos e outras aves na foz do Cunene.
Início do regresso rumo ao norte, sempre pela costa.
Areia, areia e areia, dunas, dunas e dunas. Qual Dakar qual quê! Agora é Namibe.
Mexilhões na costa. Uma imensa riqueza por explorar.
Fuga contra-relógio. São 400 km de praia com uma parede de dunas. Acaba por ser uma longa garganta que a maré alta cobre. Ou se corre ou a maré fica com o carro.
A Vanessa Seafood. Diz-se que ficou na primeira viagem. Assentou na areia. Com o mar não se brinca. Chispa!
Encalhou. Ganha-se consciência de que se tem de andar depressa.
Apesar das vertigens … fenda da Tundavala, desta vez sem névoa. Mais que um arrepio é um encanto a 2246 metros de altitude.
Meninas Mumuílas. Nota-se que o mar ficou atrás, estamos no Lubango.
Kwanza-Sul. Bicicleta significa que já se vendeu alguma coisa da lavra.
As pedras do Waku-Kungo …
Waku-Kungo. Uma anhara traiçoeira: tudo verde por cima e tudo lodo e água por baixo. Zona de muitas aves de grande porte e hipopótamos.
Igreja de Santa Comba Dão no Waku-Kungo. Réplica de uma igreja de Santa Comba Dão, em Portugal.
Aqui eles ainda fazem fila antes de entrarem na sala de aulas. Cantam o hino …
Há esperança de sorrisos para Angola.
Forte da Kibala. Ainda lá está uma pequena unidade militar.
Depois da serra da Cabuta. O rio Kwanza por baixo da ponte Filomeno de Câmara (nome colonial), a caminho do Dondo.
O grupo de aventureiros que muito agradece à TAAG, UNITEL, Sonangol, TODA, Cuca, Eka, Nocal, ENSA, Expresso 24, Banco Keve, Governo provincial do Kwanza- Sul e Câmara Municipal de Almada.
Obrigado Carla por este maravilhoso e-mail.
2 comentários:
Obrigado por nos levarem até lá neste "post" excelente.
Pedro Jorge Parreira da Costa
(um catumbelense em Lisboa)
Obrigada pela viagem...
Foi uma maravilha.
Negagense saudosa e apaixonada pela terra linda que foi e continua a ser ANGOLA.
Bem hajam
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